Nonato Guedes
Demonstrando incômodo com palpites de aliados políticos que se digladiam para projetar seu futuro político, ora defendendo que ele permaneça no exercício do mandato até o último dia, ora advogando que ele se afaste em abril de 2026 para concorrer a uma vaga ao Senado, o governador João Azevêdo (PSB) deixou claro, ontem, ao ser abordado pelos jornalistas, que somente ele será o senhor de uma definição a respeito, situando que é uma questão de absoluto foro íntimo, e que saberá se posicionar no momento oportuno, consideradas as suas próprias análises sobre a sua conjuntura e sobre seus interesses. O último aliado a se manifestar, pregando a permanência de João no cargo, foi o deputado estadual Adriano Galdino (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa, que advertiu para os riscos de uma “queimação” do nome de João por parte dos Ribeiro. Caso João se desincompatibilize, ascende à titularidade o vice Lucas Ribeiro (PP), filho da senadora Daniella Ribeiro (PSD), que confirmou candidatura à reeleição em 2026. Lucas tem sido lembrado para concorrer ao governo, no caso, à reeleição, se for investido na titularidade.
O governador enfatizou que as manifestações recorrentes sobre a sua candidatura ou não ao Senado escondem interesses pessoais, tanto da parte dos que são favoráveis à sua permanência no cargo, como da parte dos que propugnam a sua desincompatibilização para seguir na carreira política. Mas assegurou que não tem nada a ver com esses interesses ou ambições e que tem tempo suficiente para fazer o anúncio oficial em pronunciamento ao eleitorado paraibano. Salientou que, teoricamente, coloca seu nome à disposição do grupo político que o apoia para uma eventual candidatura ao Senado Federal e que, da mesma forma, considera legítima a atitude da senadora Daniella Ribeiro manifestando interesse em buscar um outro mandato. Para o chefe do Executivo, a prioridade, hoje, em termos políticos-eleitorais, está focada nas eleições municipais de prefeitos e vereadores, que mobilizam expoentes políticos de diferentes partidos, aliados ao seu governo ou alinhados na oposição. Deu a entender que esse pleito poderá propor reconfiguração de cenários com vistas a 2026, dependendo do balanço de forças que emergir das urnas em outubro vindouro. De resto, lembrou, também, o seu desafio ou responsabilidade de estar centrado na execução de metas ou entrega de resultados nesta segunda gestão.
A bem da verdade, o governador João Azevêdo já se deixou envolver por articulações de bastidores sinalizando a formação de uma chapa majoritária nas eleições de 2026, que teria Lucas Ribeiro como candidato a governador, ele (João Azevêdo) e o deputado federal Hugo Motta, do Republicanos, como candidatos a senador. Nesse desenho, ficou em aberto o nome para a vice-governança, cuja definição ficaria condicionada a entendimentos políticos de última hora e ao monitoramento dos passos que os esquemas de oposição ao governo vão empreender para aquela disputa. Já se forma uma frente ampla envolvendo o MDB, União Brasil e PSDB, tendo como protagonistas de influência os senadores Efraim Filho, Veneziano Vital do Rêgo e o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, que foi candidato ao governo em 2022 e avançou para o segundo turno contra João Azevêdo, conquistando espaços preciosos em João Pessoa e cidades da região metropolitana da Capital, além de assegurar vantagem em Campina Grande, segundo colégio do Estado. As surpresas do pleito de 2022, que projetou predomínio maciço da liderança do governador em pequenos e médios municípios, ensejaram, desde então, confabulações que não cessam, entre interlocutores distintos, avaliando cenários e perspectivas de acomodação de atores políticos que têm interesse em garantir espaços ou hegemonia.
A distância da eleição, combinada com a incerteza quanto aos reflexos para 2026, tem desencorajado pactos mais seguros entre esquemas propriamente ditos, mas nos bastidores, individualmente, já estão sendo discutidas composições. Os senadores Efraim Filho e Veneziano Vital do Rêgo, a pretexto de aproveitarem os prazos legais de filiação, têm investido, nas mais diversas regiões, em táticas de fortalecimento dos respectivos quadros. No que diz respeito á definição de candidaturas para prefeito e vice, o União Brasil e o MDB se articulam de conformidade com as realidades locais dominantes, respeitando peculiaridades e buscando, sempre que possível, atalhos para conciliação de projetos. Há outras forças políticas se mexendo, tanto no campo da direita quanto no campo da esquerda e, também, do centro. O próprio deputado Adriano Galdino chegou a se lançar como alternativa para disputar o governo do Estado dentro do esquema liderado por João Azevêdo ou, então, concorrer a uma das vagas de senador. Tido como político sagaz, habilidoso, que tem sido decisivo para assegurar a governabilidade das duas gestões do socialista João Azevêdo, Galdino é conhecido, também, pela autenticidade com que externa seus pontos de vista. Ontem, ele disse que não recuava das opiniões emitidas sobre o rumo que o governador deve tomar para a corrida eleitoral de 2026.
Para analistas políticos, ficou a impressão de que o governador João Azevêdo, ao incursionar pelo território das projeções e pretensões que estão sendo colocadas antecipadamente para as eleições de 2026 quis marcar posição e demonstrar que está no jogo, inclusive, por ser reconhecido pelos aliados como um líder que cravou seu lugar na cena local, concorrendo a duas eleições consecutivas ao Palácio da Redenção e saindo vitorioso. João Azevêdo fez um gesto, igualmente, no sentido de deixar claro que não perdeu a liderança do esquema que o acompanhou na jornada para se reeleger ao Executivo paraibano e que se mantém cioso do peso ou da importância que os principais aliados possuem, em termos de performance político-eleitoral para os projetos lá na frente. Em suma, o movimento significou um “freio de arrumação” para evitar que a situação saia de controle ou adquira contornos capazes de desagregar o bloco oficial.