Nonato Guedes
Em meio ao “fogo amigo” de aliados do esquema do governador João Azevêdo, que o advertem para a possibilidade de uma “traição” por parte dos Ribeiro na disputa de 2026, caso deixe o cargo para concorrer ao Senado, o vice-governador Lucas Ribeiro, do Progressistas, segue prestigiado pelo chefe do Executivo, cumprindo missões oficiais por ele delegadas e inteirando-se de programas e metas administrativas que compõem a fotografia deste segundo período de gestão. Ao mesmo tempo, como estratégia pessoal, Lucas optou por evitar ter atritos com expoentes da base aliada, sobretudo deputados do PSB e Republicanos que “buzinam” com insistência a hipótese de João ser “cristianizado” quando perder a força da caneta do poder que nomeia e demite, para se aventurar à conquista de outro mandato. O comportamento de Lucas revela um pouco do seu estilo discreto, mas também demonstra, conforme alguns analistas, habilidade política para não fomentar restrições ao seu projeto de ser candidato – no caso, à reeleição.
Nesse contexto, a declaração do governador João Azevêdo, de forma categórica, peremptória, dada a público esta semana e deixando entrever que só ele é senhor do seu próprio destino, ou seja, que lhe cabe decidir se deve permanecer no governo até o último dia ou se deve se desincompatibilizar para encarar o Senado funcionou como antídoto para aliviar as pressões que têm como foco o vice-governador Lucas Ribeiro. Políticos que insistem na necessidade de João ter absoluta segurança para deixar o governo baseiam-se numa máxima da crônica política, segundo a qual as grandes conspirações contra governantes nascem nas ante-salas, ou seja, nos gabinetes de vices. A nível nacional cita-se como exemplo a atuação ostensiva do emedebista Michel Temer para colaborar com a derrubada da presidente Dilma Rousseff, do PT, o que acabou se concretizando em 2016 através do impeachment decretado pelo Congresso Nacional. O fato é verídico e levou o PT a chamar de “golpe” o processo que afastou do poder a primeira mulher eleita à Presidência da República. Mas aquele foi um episódio atípico, que combinou com a falta de habilidade ou de versatilidade de Dilma Rousseff para a articulação e o jogo de cintura na política.
É certo que ainda está muito recente, no cenário da Paraíba, a opção do então governador Ricardo Coutinho (PT) de concluir integralmente o seu segundo mandato, que expirou em 2018, renegando a alternativa de concorrer ao Senado, apesar das chances eleitorais de que desfrutava, conforme análises da época. Ricardo explicou, a este jornalista, que resolvera permanecer no Palácio da Redenção porque se obstinara a duas metas: eleger João Azevêdo e derrotar Cássio Cunha Lima (PSDB), que pleiteava recondução ao Senado. Conseguiu a proeza – ou, pelo menos, a façanha se materializou tal qual a cortejou o ex-governador. Em termos concretos, o que se apurou foi que Coutinho proclamou o “Fico” por não confiar no esquema político da vice-governadora Lígia Feliciano, que já se movimentava a olhos vistos para lançá-la candidata (no caso, à reeleição) pelo PDT. A Ricardo, que era bastante cioso de sua autoridade e poder de mando, a simples menção da hipotética candidatura de Lígia ao governo soava como uma afronta à sua liderança e à sua autonomia como portador dos votos. Ele só veio a se candidatar ao Senado em 2022, quando precisava de imunidade política por causa de denúncias constantes da chamada Operação Calvário. Coutinho foi abatido nas urnas, que consagraram Efraim Filho (União Brasil) como vitorioso e conferiram o segundo lugar à ex-deputada Pollyanna Dutra, do PSB.
A decisão de se candidatar ou não ao Senado em 2026, desafiando maldição que vitimou ex-governadores, desde Ivan Bichara Sobreira em 1978 a Wilson Braga em 1986, é, por todos os títulos, do mais absoluto foro íntimo do governador João Azevêdo. A ele caberá analisar, serenamente, longe das pressões de bastidores e dos interesses pessoais, o que é conveniente para o seu projeto político. Por essa época já terá subsídios, também, da configuração do seu segundo governo em termos de resultados e de entrega de obras e serviços públicos. A expectativa é que a conjuntura lhe seja mais favorável, dado o fato de que Azevêdo é aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem apoiou nos dois turnos, e dispõe de canais de interlocução com ministros do atual governo, alguns dos quais foram governadores ao tempo em que o socialista paraibano exerceu o primeiro mandato. Portanto, um ambiente inteiramente diferente do que se deu com o governo de Jair Bolsonaro, que declarou guerra abertamente a chefes de Executivo do Nordeste, em plena calamidade da pandemia de covid-19.
Mas, para além dos fatores externos, que teoricamente favorecem o governo João Azevêdo, amplamente, neste segundo mandato, pesarão nas avaliações sobre as eleições majoritárias de 2026 outras condicionantes, vinculadas ao jogo político que se desenrola na Paraíba e à correlação de forças entre o esquema oficial liderado por ele e os adversários da oposição, entre os quais avultam, agora, os senadores Efraim Filho e Veneziano Vital do Rêgo. A cautela já levou o governador a admitir como natural a aspiração da senadora Daniella Ribeiro (PSD), mãe de Lucas, de tentar a reeleição. A isto somam-se os gestos de atenção que continua mantendo para com o vice-governador Lucas Ribeiro. Da parte deste, há inúmeras possibilidades a serem exploradas até que se decida pela candidatura. Mas, por via das dúvidas, afirma-se que Lucas deve deflagrar articulações, pelo menos para assegurar relações cordiais com integrantes da base, debelando supostas hostilidades resultantes da luta encarniçada por ocupação de espaços.