Nonato Guedes
Pré-candidatos a prefeito de João Pessoa pelo Partido dos Trabalhadores, os deputados estaduais Luciano Cartaxo e Cida Ramos parecem ter perdido o “timing” da mobilização preliminar para as eleições deste ano – seguramente, pelo menos, recuaram nos passos que vinham encetando para conseguir apoios internos à indicação. Isto se deveu à indefinição da Executiva Nacional do PT, presidida pela deputada federal Gleisi Hoffmann, quanto aos rumos que a agremiação irá tomar na Capital paraibana. O cancelamento das prévias, por parte do senador Humberto Costa (PE), coordenador do Grupo de Trabalho de Tática Eleitoral, em certa medida bloqueou o debate interno, que começou registrando troca de acusações entre os postulantes mas que iria evoluir, conforme as expectativas, para discussões propositivas em torno dos graves desafios enfrentados pela Capital paraibana.
Para analistas políticos, o cancelamento das prévias significou indicativo de que o Partido dos Trabalhadores pode vir a se abrir a outras opções, além da candidatura própria, bandeira que num primeiro momento teve quase a unanimidade das principais lideranças e expoentes de correntes e tendências cristalizadas no seio da legenda. Uma dessas opções ainda continua sendo a do apoio do PT à pré-candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição, levando em conta o respaldo que este tem do governador João Azevêdo, eleitor e aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o primeiro turno da disputa de 2022. O presidente estadual do PT, Jackson Macedo, foi o maior defensor da hipótese de aliança com Cícero, embora respeitando o movimento pró-candidatura própria. Ele sempre argumentou que o PT só deveria lançar um nome se este, comprovadamente, fosse competitivo e atraísse apoios para o confronto que tende a ocorrer com os remanescentes do bolsonarismo na Capital paraibana, personificados na figura do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pré-candidato a prefeito pelo PL.
Mas a proposta da aliança com Cícero passou a ser combatida pelo grupo do ex-governador Ricardo Coutinho, que mesmo domiciliado em Brasília mantém potencial de influência e prestígio nas hostes do petismo e da esquerda na Paraíba. Documentos chegaram a ser publicados por esse agrupamento ligado a Ricardo e ao deputado federal Luiz Couto, insinuando que Cícero teria mais identidade com o bolsonarismo do que com o lulismo e, ao mesmo tempo, reivindicando a construção de um modelo alternativo de gestão que seja efetivamente democrático e participativo nos domínios de João Pessoa. A esta pregação associou-se com prioridade o deputado Luciano Cartaxo, que cogitou basear uma pré-campanha na oposição sistemática à administração de Cícero Lucena, missão da qual já vinha se desincumbindo em discursos na tribuna da Assembleia Legislativa do Estado. Mas também a deputada Cida Ramos assumiu o figurino anti-Cícero, apresentando-se como intérprete da condução de políticas públicas mudancistas na Capital paraibana. Ambos elencaram questões pontuais de que divergem em relação ao modo de governar de Cícero Lucena – e colocaram-se, portanto, no contraponto ao que está aí.
A interveniência da Executiva Nacional no processo de João Pessoa e de outras Capitais consideradas “problemáticas” para o PT encarregou-se de frear a atmosfera de pré-campanha que se ensaiava nas hostes do partido, inclusive, como estratégia para sensibilizar filiados e simpatizantes a se engajarem mais de perto no processo. No novo contexto que passou a vigorar, obedecendo ordens da direção petista em Brasília, o diretório municipal presidido pelo advogado Marcos Túlio foi praticamente destituído do exercício de um papel mais proativo na corrida pela prefeitura de João Pessoa, imobilizando-se, por via de consequência, qualquer iniciativa, também, por parte da Executiva Estadual, presidida por Jackson Macedo, de mãos atadas diante das determinações emanadas da alta cúpula nacional. O cenário possibilitou que grupos de direita e de centro-direita avançassem em táticas de mobilização para forçar uma radicalização ou polarização lá na frente com a esquerda. Esses grupos direitistas estão engolfados em divergências internas, de que foram exemplos os impasses verificados entre o PL de Marcelo Queiroga e o Novo, do pastor Sérgio Queiroz, mas o PT fez pior, ausentando-se de maior protagonismo nos últimos meses no cenário eleitoral preliminar em João Pessoa.
Afirma-se que a cúpula nacional petista liderada pela deputada Gleisi Hoffmann está próxima de bater o martelo sobre a questão eleitoral em João Pessoa. Nos bastidores, o receio entre petistas carimbados é o de que o partido já esteja perdendo o “timing” na preparação para sua participação na competição das urnas de 2024 no principal colégio eleitoral do Estado. Pré-candidatos a vereador se disseram prejudicados na formação da nominata para as eleições proporcionais, a militância tem estado apática por falta de eventos de impacto que possa protagonizar ou de que venha a participar, e a grande preocupação diz respeito à decisão sobre candidatura majoritária. A decisão que emanar da cúpula nacional terá um caráter de imposição, não refletindo, necessariamente, a realidade da conjuntura política pessoense. E o PT pode estar se condenando, mais uma vez, a ser coadjuvante no processo político-eleitoral na Capital paraibana, sem avançar na sua própria estruturação para eleições decisivas no âmbito estadual.