Nonato Guedes
Coincidindo com o anúncio, pela Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, de uma reunião para o dia 6 de maio a fim de definir posição sobre as eleições a prefeito em João Pessoa e outras Capitais, o prefeito Cícero Lucena (PP) reforçou, nas últimas horas, em declarações à imprensa, os acenos ao PT com vistas a um alinhamento com sua postulação à reeleição em outubro. O prefeito, que é aliado do governador João Azevêdo (PSB), manifestou sua gratidão ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por programas relevantes executados em João Pessoa nas áreas social e habitacional, além de obras planejadas, executadas ou divulgadas que beneficiam diretamente a população da Capital paraibana. Referiu-se, também, à parceria exitosa que sua gestão mantém com o governador João Azevêdo.
Lucena informou que o partido a que é filiado, o Progressistas, tem apoiado propostas de interesse público encaminhadas pelo governo federal, que, na sua opinião, traduzem compromisso com as demandas populares. O prefeito também revelou que, como gratidão ao presidente da República, ele e o seu filho-deputado não terão dificuldades para apoiar o projeto de reeleição do presidente Lula em 2026, caso esta venha a ser a deliberação por ele tomada. Salientou que o clima de entrosamento entre os governos federal, estadual e municipal é extremamente favorável para os programas administrativos focados no estímulo ao desenvolvimento da Capital paraibana, destacando que tem havido um crescimento nas intervenções do poder público para fazer João Pessoa avançar. “A população, certamente, avaliará, no momento oportuno, os resultados das ações que estão sendo empreendidas”, acrescentou o gestor.
A definição que será tomada pela Executiva Nacional do PT em torno da sua posição no processo eleitoral deste ano em João Pessoa é aguardada com expectativa não apenas entre os petistas, mas junto a expoentes do esquema político representado pelo governador João Azevêdo e pelo prefeito Cícero Lucena. Em princípio, o PT ainda avalia as possibilidades de oficialização de uma candidatura própria, e pelo menos dois deputados estaduais – Cida Ramos e Luciano Cartaxo, disputam a preferência da cúpula, apesar do cancelamento das prévias internas que faziam parte do calendário, efetuado pelo Grupo de Trabalho de Tática Eleitoral do Partido dos Trabalhadores, presidido pelo senador Humberto Costa, de Pernambuco. Tanto Cartaxo quanto Cida Ramos refrearam o ímpeto das articulações e, principalmente, o confronto público, mas continuaram assegurando apoios de grupos petistas influentes para suas respectivas pretensões.
Correndo por fora avulta a hipótese de aliança do PT em apoio à candidatura do atual prefeito Cícero Lucena, do Progressistas. A resistência ao nome de Cícero é forte, tanto da parte de Cida Ramos quanto de Luciano Cartaxo e, ultimamente, ganhou destaque com manifestação idêntica formulada pelo ex-governador Ricardo Coutinho, que embora esteja domiciliado em Brasília mantém-se informado dos acontecimentos políticos na Paraíba, especialmente na Capital, e tem reconhecida influência entre filiados, diretorianos e militantes. Ricardo chegou a lançar um manifesto, subscrito, também, pelo deputado federal Luiz Couto, insistindo em que a candidatura própria é a única alternativa que se oferece para a manutenção da coerência do PT e, também, para as ambições de protagonismo no cenário político, rechaçando a ideia de composição com Cícero. Esse agrupamento, no manifesto, demonstrou preferência pela pré-candidatura do deputado Luciano Cartaxo, que foi prefeito de João Pessoa por duas vezes mas não conseguiu eleger a sua sucessora em 2020.
No cenário político-eleitoral de 2024 em João Pessoa, o Partido dos Trabalhadores repete a estratégia divisionista que tem caracterizado a sua trajetória ao longo dos últimos anos em pleitos municipais. O próprio ex-governador Ricardo Coutinho fez um movimento, em 2020, para testar sua popularidade na Capital, que administrou lá atrás, em duas ocasiões, e lançou-se candidato, não logrando posição de destaque que o fizesse avançar para um segundo turno. Por essa época, Coutinho estava filiado ao PSB, tendo, na sequência, feito o caminho de volta aos quadros do Partido dos Trabalhadores. Em 2022, já pelo PT, candidatou-se a uma vaga de senador – que recusara em 2018 ao deixar o governo do Estado. A influência de Ricardo Coutinho não foi suficiente, porém, para abafar núcleos divergentes no âmbito do PT quanto à posição a ser tomada nas eleições municipais deste ano.
O presidente estadual do PT, Jackson Macedo, militante histórico da agremiação, continua defendendo o apoio petista à pré-candidatura de Cícero Lucena à reeleição já no primeiro turno, sob a alegação de que a sua legenda não formou quadros nem estrutura competitiva para enfrentar a disputa e que corre o risco de submeter-se a um processo de isolamento, abrindo espaço para o candidato bolsonarista, que será o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. A briga interna no PT de João Pessoa, agora, tem prazo para acabar – e, como em outras situações do passado, a decisão será uma imposição da cúpula nacional, não propriamente uma escolha dos militantes locais filiados ou simpatizantes da legenda que tem o presidente Lula como seu símbolo maior. Por via das dúvidas, Cícero intensifica os acenos, numa guinada à esquerda.