Nonato Guedes
Enfrentando dificuldades para avançar nas eleições deste ano em várias Capitais do Brasil, o Partido dos Trabalhadores detém em Goiânia, no coração do agronegócio, a sua mais competitiva candidata até o momento: a policial e deputada federal Adriana Accorsi. Uma reportagem da revista “Veja”, assinada por Isabella Alonso, destaca a responsabilidade imensa da candidata na temporada adversa que a agremiação experimenta. Em 2020, quando tentou pela primeira vez a prefeitura de Goiânia, Adriana já sentiu o peso dos obstáculos que teria para, como delegada da Polícia Civil, empunhar a bandeira do PT, ao qual é filiada desde 1990. Recebeu ameaças de um usuário de rede social, que foi preso logo depois, e que afirmava que policial esquerdista, que defende bandido, tem que morrer. Adriana chegou em terceiro lugar naquela disputa.
Em 2022, a policial foi eleita à Câmara Federal e, agora, tenta novamente o comando da cidade em uma condição bem peculiar, por ser a mais competitiva candidata do PT, por ora, e em plena capital do agronegócio. Sua responsabilidade é redobrada porque o petismo não pretende repetir o fiasco de 2020, quando não elegeu nenhum prefeito nas capitais, rompendo, desta forma, uma tradição que vinha desde a criação da legenda em 1980, no Colégio Sion, em São Paulo, na esteira da mobilização de movimentos sociais e de trabalhadores rurais. Este ano, entretanto, o partido nem tem candidatos próprios nos dois maiores colégios eleitorais (São Paulo e Rio de Janeiro), e, ao mesmo tempo, no Nordeste, onde tem sua base eleitoral, não é favorito em nenhuma cidade. Vale recordar que, lá atrás, a paraibana Luíza Erundina logrou eleger-se prefeita de São Paulo, numa das maiores façanhas alcançadas pelo Partido dos Trabalhadores em toda a sua trajetória. Posteriormente, devido a divergências, Erundina migrou do PT para outros agrupamentos de esquerda.
Em Goiânia, conforme levantamento de fevereiro do Instituto Paraná Pesquisas, Adriana Accorsi aparece numericamente à frente, com 22,1%, seguida do senador Vanderlan Cardoso, do PSD, e do deputado Gustavo Gayer, do PL – a margem de erro é de 3,8 pontos. Ainda que pequena, a vantagem é significativa, considerando-se que nenhum outro petista lidera hoje a corrida em outras capitais. Candidata de esquerda em uma cidade que ofertou 64% dos votos a Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, Adriana aposta em sua longa trajetória política. Ela é filha de Darci Accorsi, professor e filósofo, que foi um dos primeiros prefeitos do PT do país ao vencer a eleição em Goiânia no ano de 1992. Policial desde 2000, Adriana foi a primeira mulher a chefiar a Polícia Civil no Estado, entre 2012 e 2013. Depois, elegeu-se deputada estadual por dois mandatos e chegou em 2022 pela primeira vez à Câmara, onde é vice-líder do PT e autora de 24 projetos de lei, boa parte sobre violência contra a mulher e sobre direitos civis.
Ter como centro da sua atuação a bandeira da segurança pública também é outro diferencial para quem é de esquerda, segmento que tradicionalmente tem dificuldades com a pauta, largamente explorada pela direita. Adriana defende a atuação de Lula na questão, justificando que a maior parte da política de segurança é efetuada pelos Estados e que o poder de atuação do governo federal, nesse território, é limitado. A principal aposta política dela, todavia, é na interlocução com quem pensa diferente. “Não sou uma candidata extremista nem radical de esquerda. Sou conhecida pela minha postura democrática”, assegura. E acrescenta que a sua candidatura atende a um pedido do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pena para ter inserção no Centro-Oeste e no agronegócio, que lhe oferecem grande objeção política – o presidente planeja visitar Goiás ainda no primeiro semestre, o que seria um gesto inédito no seu terceiro mandato. Considerada uma das prioridades do PT na eleição, a conquista de Goiânia não será fácil, conforme os analistas políticos.
O candidato Vanderlan Cardoso foi para o segundo turno nas duas últimas eleições municipais, enquanto Gustavo Gayer, da ala mais panfletária do bolsonarismo, tem o apoio do ex-presidente, que é encarado como cabo eleitoral importante no Estado. Também entrou na disputa, recentemente, Sandro Mabel, ex-assessor especial do ex-presidente Michel Temer (MDB) e atual presidente da Federação das Indústrias de Goiás, que também tem um padrinho que pode vir a ser decisivo: o governador Ronaldo Caiado, do União Brasil, cuja gestão é aprovada por 86% dos eleitores no Estado, de acordo com pesquisa Quaest realizada em abril. Ele pretende quebrar a escrita de um candidato apoiado pelo governador nunca ter vencido a eleição na capital goiana. “Veja” informa que o fato de correr sozinha enquanto aposta do campo de esquerda e o de enfrentar uma direita fragmentada no Estado representam trunfos para Adriana Accorsi, mas podem ser um problema em um eventual segundo turno. É muito provável que nessa fase da disputa os demais concorrentes estejam juntos do outro lado – Caiado chegou a ir ao lançamento de Gayer, juntamente com Bolsonaro. “O nosso trabalho é para o segundo turno”, afirma Vanderlan, apostando na repetição dos feitos de 2016 e 2020. Embora a eleição caminhe para um enfrentamento entre esquerda e direita, Caiado acha difícil que a polarização seja o fator dominante. “O debate será sobre quem tem mais condições de gerir esta cidade”, assinalou.