Nonato Guedes
A cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) mais uma vez adiou uma definição sobre a posição que o partido tomará na eleição para prefeito de João Pessoa este ano – se lançamento de candidatura própria ou aliança, possivelmente em apoio à reeleição do prefeito Cícero Lucena (PP), como tem sido defendido por alguns dirigentes locais. Anunciada para ontem, e aguardada com grande expectativa, a decisão foi transferida para as próximas semanas, mais precisamente para o final de maio. Desta feita, a Executiva repassou ao diretório nacional a tarefa de resolver o imbróglio em João Pessoa e em outras três Capitais, tendo vazado a justificativa de que há necessidade de aprofundamento de consultas e diálogo com lideranças nesses centros antes de ser batido o martelo. A opção por “cozinhar” uma solução frustrou expoentes do petismo e, também, figuras de outras siglas, estas interessadas em arrematar seus próprios cálculos e estratégias para a disputa eleitoral.
No âmbito do PT, tanto o presidente do diretório regional, Jackson Macedo, como o presidente do diretório municipal de João Pessoa, Marcos Túlio, desabafaram sobre desvantagem de uma indefinição para a tática do próprio Partido dos Trabalhadores com vistas às eleições de outubro. Nos bastidores, analistas políticos não descartam a ingerência de líderes de expressão do próprio PT paraibano num suposto “lobby” junto à cúpula nacional para atalhar a hipótese de aliança com Cícero, que é combatido, por exemplo, pelo ex-governador Ricardo Coutinho e pelo deputado federal Luiz Couto. Mas o mistério é alimentado pelo fato de que não há garantia de que uma candidatura própria possa ser competitiva, a ponto, por exemplo, de avançar para o segundo turno contra Cícero Lucena. A avaliação mais realista, a propósito desse cenário, é que o PT já perdeu tempo demais nas preliminares para a campanha de 2024 na Capital paraibana e, a esta altura, dificilmente reverterá seu desgaste enquanto perdurar a protelação de uma definição sobre os rumos do partido.
O posicionamento da direção nacional, presidida pela deputada Gleisi Hoffmann, tem confundido mais de perto os deputados estaduais Luciano Cartaxo e Cida Ramos, que se revelaram pretendentes à indicação de candidatura a prefeito. Nesse ínterim, o Grupo de Trabalho Eleitoral do PT nacional, presidido pelo senador Humberto Costa (PE) suspendeu a realização de prévias internas, atropelando o calendário que havia sido deflagrado em João Pessoa e que cumpria, rigorosamente, o figurino traçado pela cúpula para um debate interno de propostas, na perspectiva de mobilizar ou engajar a própria militância, mais ativamente, no processo. Não obstante a suspensão das prévias, a deputada Cida Ramos manteve-se informalmente no páreo, reivindicando, inclusive, o direito de ser ungida, dado o seu histórico de ligação com o partido e de identidade com as suas bandeiras, além do fato de ser a preferida na base da agremiação. Cartaxo, que reclamou do encaminhamento do processo, passou a atuar em articulação com petistas influentes, como Ricardo Coutinho, concretizando-se, então, o impasse.
Apesar de ter interesse em atrair o PT para uma composição em torno da candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição, o governador João Azevêdo deixou claro, ontem, que não lhe competia imiscuir-se nas deliberações que estão restritas ao campo do petismo paraibano, salientando respeitar a autonomia dos partidos para as posições que julgarem convenientes. Em várias oportunidades, petistas ortodoxos da Paraíba identificaram oportunidades para florescimento da tese da candidatura própria do partido à eleição pessoense, mas, no final das contas, sentiram-se freados pela cúpula nacional, que também não sinalizou claramente para a opinião pública qual mandamento deseja ver obedecido na disputa em Capitais como a do nosso Estado. Cícero chegou a ser referido por dirigentes como Jackson Macedo como alternativa anti-bolsonarista num páreo em que o ex-ministro da Saúde do governo anterior, Marcelo Queiroga, vai concorrer pelo PL. Mas a corrente ligada a Ricardo Coutinho não compartilha desse entendimento.
O prolongamento do impasse em relação, especificamente, à disputa para a prefeitura de João Pessoa, reproduz situação contraditória experimentada pelo PT nas eleições de 2020 e que levou a agremiação a uma fragorosa derrota nas urnas. O então deputado estadual Anísio Maia foi homologado pelo diretório municipal como candidato próprio à sucessão, mas o ex-governador Ricardo Coutinho, que era filiado ao PSB, protagonizou um movimento espetacular que levou o líder Luiz Inácio Lula da Silva a declarar apoio à sua postulação, em detrimento da candidatura própria do petismo. Ricardo Coutinho também não logrou ter uma boa performance, desgastado que se encontrava pelas denúncias de envolvimento na Operação Calvário, tratando de desvio de recursos na Saúde e Educação do governo do Estado no período exercido por ele. Essa divisão na esquerda embolou o meio de campo e facilitou a ascensão de Cícero, que já havia sido prefeito duas vezes. A demora, hoje, apenas dificulta a ocupação de espaços pelo PT, não só para as eleições municipais na Capital, mas para as eleições gerais de 2026.