Nonato Guedes
Na condição de presidente estadual do União Brasil e avalista da filiação do prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, ao partido, com a garantia de espaço para concorrer à reeleição, o senador Efraim Filho fez acenos, nas últimas horas, ao ex-prefeito Romero Rodrigues (Podemos) para que se reintegre ao esquema político remanescente da campanha de 2022 e marche juntamente com o seu sucessor, inclusive, indicando nome para compor a chapa às eleições de outubro no papel de vice. Aparentemente é uma última “cartada” de líderes influentes como Efraim no processo eleitoral campinense, diante do silêncio que passou a ser adotado por Romero há mais de um ano sobre sua posição na disputa de 2024 na Rainha da Borborema, agravado por especulações de que o hoje deputado federal estaria esperando o momento decisivo para entrar no páreo, novamente, em grande estilo. As mesmas especulações projetam para junho, em pleno Maior São João do Mundo, o veredicto de Romero.
Ao senador Efraim Filho interessa, de perto, uma reaproximação entre Romero e Bruno pelo reforço que isto pode carrear para projetos políticos futuros, entre os quais o do parlamentar do União Brasil de candidatar-se ao governo do Estado em 2026. Essa hipótese não é descartada por Efraim mas tem sido condicionada ao desfecho das “tratativas” para a campanha eleitoral deste ano, dentro do entendimento de que o tabuleiro para 2026 começa a ser montado nas eleições municipais de 2024, a partir dos grandes centros como a Rainha da Borborema mas alcançando, também, as pequenas e médias cidades onde forças políticas já se digladiam em diferentes regiões do território paraibano. No caso de Campina, montou-se uma espécie de “força-tarefa” para viabilizar a reaproximação Romero-Bruno, de que participam o ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB) e seu filho, Pedro, ex-candidato a governador. O senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que passou a apoiar Bruno, não é infenso à composição, embora não participe de forma direta das negociações de bastidores com esse objetivo.
Na verdade, Veneziano e Romero ainda não superaram ressentimentos políticos acumulados em embates memoráveis na história de Campina Grande, que os confrontaram na linha de frente dos acontecimentos. Nos últimos dias, o senador emedebista chegou a fazer ponderações públicas ao prefeito Bruno Cunha Lima no sentido de assumir até mesmo um embate contra Romero Rodrigues no pleito deste ano, justificando que a administração atual tem conseguido avanços em conquistas para o desenvolvimento da cidade, tendo sido premiada com a obtenção de um empréstimo internacional que vai alavancar obras e empreendimentos de vulto, conforme reivindicado por segmentos da população. Nesse esforço para impulsionar a administração de Bruno e credenciá-la perante o eleitorado para um segundo mandato, o senador Veneziano tem sido um “gigante” no papel de emissário, em Brasília, junto ao próprio governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a dirigentes de instituições públicas e privadas, no carreamento de recursos valiosos e imprescindíveis. Foi assim nas suas diligências para “arrancar” patrocínios de estatais para o São João que é o evento marcante do calendário turístico de Campina Grande.
A avaliação pessoal que Veneziano faz da conjuntura, conforme se depreende, é que Bruno não pode mais perder tempo aguardando definição de outros atores da cena política de Campina Grande e deve colocar o bloco na rua destemidamente, tendo como trunfos o somatório dos apoios para o projeto de obter um novo mandato e o “portfólio” de realizações já efetuadas ou em vias de concretização e que poderão mudar, radicalmente, o cenário do progresso na maior cidade do interior do Nordeste. Nesse ponto, é patente a divergência de opiniões entre o emedebista e o comandante do União Brasil, este ainda conciliador e interessado em esgotar ao máximo as possibilidades de reintegração de Romero Rodrigues ao esquema político que tem assegurado sua hegemonia ao longo de décadas. Veneziano e Efraim não protagonizam situação de atrito entre eles – afinal, estreitaram relações depois que foi virada a página de 2022 cujo marco foi a eleição do dirigente do União Brasil ao Senado. Em vários municípios, há alianças já firmadas entre MDB e União para a disputa de prefeituras, com perspectiva de desdobramento nas eleições de 2026. O “caso Campina” é um “ponto fora da curva” nessa relação, que não afeta o clima de entendimento entre ambos.
Os analistas políticos ressaltam que são muitas as convergências entre Veneziano Vital do Rêgo e Efraim Filho para o futuro, mais precisamente para dentro de dois anos. O emedebista, que foi candidato ao governo em 2022 mas não logrou avançar para o segundo turno, mesmo tendo tido o apoio do hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está definido na ambição de recandidatura à vaga de senador, com a consciência de que o páreo será duro, diante das pretensões já colocadas pelo próprio governador João Azevêdo (PSB), pela senadora Daniella Ribeiro (PSD) e pelo deputado federal Hugo Motta (Republicanos). A aliança com os Cunha Lima e com Efraim é fundamental para os planos de Veneziano – e, nesse contexto, a vitória de Bruno em Campina pode coroar seu projeto. Efraim está atento a essa realidade, mas tem autonomia de voo e sua estratégia, que implica em esgotar as gestões junto a Romero, inclusive, com acenos de compensação vantajosa em 2026 na chapa majoritária.