Nonato Guedes
Não passou desapercebida na Paraíba a referência elogiosa feita pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, à administração do governador João Azevêdo (PSB), a quem recebeu em audiência na última quarta-feira, em Brasília, para discussão de um cronograma de obras a inaugurar e autorizar, no valor de R$ 2 bilhões, em parceria com a gestão federal, que deverão acontecer a partir de julho. Padilha destacou o conjunto de investimentos do Planalto em parceria com o Palácio da Redenção, que deverão ser liberados possivelmente com a presença do presidente Lula. Textualmente, o ministro, que já esteve na Paraíba em outras ocasiões, assinalou: “A Paraíba está crescendo, o governador João Azevêdo é um exemplo para o Brasil inteiro. Vamos programar a visita do presidente Lula à Paraíba para consolidar cada vez mais a parceria com o governador”.
Do ponto de vista administrativo, foi um ato extremamente importante para João Azevêdo porque sinalizou na direção da continuidade da relação republicana com o Estado da Paraíba, restabelecida desde a investidura do presidente Lula, tendo em vista que no único mandato do antecessor, Jair Bolsonaro (PL), investimentos foram adiados ou perdidos, audiências institucionais não existiram e os canais de acesso a escalões federais foram dificultados. O governo João Azevêdo não foi tratado como adversário pelo então presidente da República, mas como inimigo, pelo fato de discordar das linhas gerais de sua gestão e por declarar seu alinhamento com o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De resto, como é do conhecimento público, o tratamento dispensado por Bolsonaro a governadores da região Nordeste foi de ataque e animosidade, num clima de tensão permanente que em muito afetou a governabilidade dos Estados do semiárido. Bolsonaro irritou-se com medidas de isolamento social adotadas por gestores da região em plena pandemia de covid-19, num esforço baseado na Ciência para conter a extensão da calamidade que o governo federal não conseguia controlar. Também irritou o ex-capitão a criação do Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (Consórcio Nordeste), que teve autonomia para abrir negociações no exterior favorecendo os Estados de uma parte do território brasileiro.
Sobre a visita do presidente Lula à Paraíba, prestigiando ações conjuntas com o governo de João Azevêdo, que está no segundo mandato, criou-se um tabu nos meios políticos levando-se em conta que, regularmente, o mandatário vem a Estados bem próximos, como Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará mas não pisa em solo tabajara. O governador João Azevêdo faz verdadeira “ginástica” para prestigiar eventos do presidente da República no Nordeste e para dele se aproximar, encaminhando reivindicações urgentes que estão encalhadas há muito tempo. Nas reuniões ampliadas com governadores, o titular do Executivo paraibano tem participado e as imagens mostram um Lula sempre afetuoso ou cordial na interlocução com João Azevêdo, que o apoiou nos dois turnos em 2022, mesmo tendo tido a retribuição de apoio dele apenas no segundo, quando vitoriou. Mas nem de longe o presidente Lula discrimina a Paraíba, tampouco veta a presença de ministros em eventos ligados a suas Pastas. A única visita que Lula fez no terceiro mandato ao Estado ocorreu logo nos primeiros meses, num sobrevoo ao Vale do Sabugy, para prestigiar um empreendimento da iniciativa privada que contava com aporte federal de recursos. Ficou faltando uma mensagem calorosa dele aos paraibanos e paraibanas que contribuíram para que ele tivesse maioria no pleito da reabilitação.
Pessoalmente, o governador João Azevêdo não tem passado recibo de agastamento com esse estilo do presidente Lula de não cumprir, oficialmente, agenda na Paraíba. João Azevêdo procura não dar trela a insinuações de que adversários políticos seus, a nível local, como o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) atuam nos bastidores para conter um roteiro do presidente no Estado – ou a outras insinuações, de que o próprio presidente se pouparia de constrangimentos numa visita de forte conteúdo simbólico à Paraíba para não entrar em atrito com líderes que oferecem sustentação ao seu governo no Congresso Nacional. Em outros Estados que Lula visita, há situações flagrantes de conflito entre apoiadores do presidente Lula, e nem por isso o líder petista deixa de prestigiar solenidades, dividir palanques e dirigir-se aos públicos que vão ouvi-lo ou aplaudi-lo. Quanto às demandas, o próprio governador citou obras para a Paraíba que constam da nova etapa do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento.
Faltaria, então, o coroamento da relação positiva com o atual governo – a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Será uma honra receber o presidente Lula e a todos numa grande festa para celebrar os importantes investimentos que estão sendo assegurados”, opinou o chefe do Executivo da Paraíba após a audiência com o ministro Alexandre Padilha para definição do cronograma de serviços essenciais na parceria com o governo atual. Uma espécie de “deixa” para a manifestação do titular das Relações Institucionais, que encampou, então, a ideia de programar a visita do presidente Lula à Paraíba “para consolidar cada vez mais a parceria com o governador”. Pode ser que a campanha eleitoral para prefeito, este ano, tumultue essa agenda, mas não se descarta que a Paraíba esteja próxima de figurar no mapa presidencial.