Nonato Guedes
O presidente do diretório municipal do Partido dos Trabalhadores em João Pessoa, advogado Marcus Túlio, lamentou, ontem, que a direção nacional do PT continue protelando uma definição sobre candidatura a prefeito da Capital, advertindo que isto vem prejudicando a preparação do PT para as eleições de outubro do ponto de vista da tática, do debate e da articulação para a conquista de espaço. Deu como exemplo que a hipótese de formação de uma chapa competitiva de postulantes a vereador está indo pelos ares e que o clima é de desmotivação junto a filiados e militantes quanto aos rumos que a agremiação terá pela frente. Ontem, houve mais uma rodada de discussões entre líderes nacionais e representantes do PT da Paraíba sobre a posição no pleito de João Pessoa, mas uma nova reunião virtual foi convocada para segunda-feira.
Para Marcus Túlio, o impasse já teria sido resolvido e a definição já teria sido anunciada se fosse dada autonomia ao diretório municipal para conduzir o processo de acordo com as diretrizes repassadas pela direção nacional. Frisou que a mudança de rota contribuiu para tumultuar o processo, ficando o diretório que ele preside impedido de levar adiante a realização de prévias internas para decidir sobre candidatura própria ou aliança com o prefeito Cícero Lucena (PP), que pleiteia a reeleição. Falando ao programa “60 Minutos”, da rádio Arapuan, Marcos Túlio ponderou que o “imbróglio” acabou levando ao clima de radicalização entre os deputados Luciano Cartaxo e Cida Ramos, que reivindicam a indicação, e dificultando o debate de propostas e a própria unidade, diante da troca de acusações entre os parlamentares e seus apoiadores. Além disso, entende que houve descumprimento de regras previstas ou estabelecidas pela direção nacional do Partido dos Trabalhadores, sem qualquer medida disciplinar para chamar o feito à ordem e restabelecer a situação de normalidade no âmbito da agremiação. “Todos esses acontecimentos têm sido lamentáveis”, expressou ele.
– O partido já poderia estar avançando no debate dos problemas que afetam a população de João Pessoa e na proposição de soluções para enfrentá-los. Em vez disso, perdeu tempo com ataques entre pré-candidatos e com divisões internas que fizeram a direção nacional avocar para si uma deliberação, da mesma forma como agiu em relação a outras Capitais onde o consenso é problemático – explicou ele. A reunião de ontem indicou que a tese do lançamento da candidatura própria está sacramentada, descartando-se, pelo menos no primeiro turno, uma aliança com o prefeito Cícero Lucena. Houve participação do senador Humberto Costa (PE), presidente do Grupo de Tática Eleitoral do PT nacional, de outros membros da cúpula e, a nível de Paraíba, dos pré-candidatos Luciano Cartaxo e Cida Ramos e de dirigentes como Jackson Macedo, presidente do diretório estadual, e Marcos Túlio, pelo diretório municipal. A presidente nacional, Gleisi Hoffmann, resguardou-se para a próxima reunião convocada, mas há dúvidas sobre se na segunda-feira será decidido em definitivo o posicionamento da sigla petista na Capital paraibana. Foi sugerida, inclusive, a realização de uma pesquisa para aferir preferências, junto ao eleitorado, por nomes do PT à disputa em João Pessoa.
Fontes ligadas ao PT falaram em “clima hostil” ou “pesado” entre partidários de Cida e de Cartaxo, inviabilizando um entendimento sobre questões mínimas ligadas à condução do próprio processo eleitoral. O grupo de Cida, como se sabe, tem acusado Luciano de querer ganhar no “tapetão”, com o reforço de dirigentes nacionais petistas, passando por cima das manifestações de tendências e de diretorianos locais favoráveis à escolha da deputada. Cartaxo sofre críticas por não ter, supostamente, cumprido à risca regras estabelecidas para a tática eleitoral, que previam a inscrição da pré-candidatura para disputa da indicação em prévia interna, mandamento que teria sido cumprido por Cida. Além do mais, são renovadas as restrições à falta de alinhamento incondicional de Cartaxo com as diretrizes do Partido dos Trabalhadores, sendo recorrente a alusão à sua saída do partido em momentos difíceis como o do escândalo do mensalão. No contraponto, Cartaxo tem se articulado de forma constante e direta com dirigentes nacionais petistas e figuras de expressão na Paraíba que ainda detêm votos, como o ex-governador Ricardo Coutinho e o deputado federal Luiz Couto, que o consideram mais forte para o páreo.
Luiz Couto chegou a fazer um discurso na tribuna da Câmara dos Deputados defendendo o nome de Cartaxo como o mais legítimo para representar as cores petistas na eleição de João Pessoa. Quanto a Ricardo Coutinho, além de operar nos bastidores, foi o signatário de um manifesto exaltando alegadas virtudes de Luciano e provável densidade eleitoral para levar o PT ao segundo turno da disputa e criar condições para tentar viabilizar uma vitória contra Cícero Lucena. O empenho visível de Coutinho é com vistas a afastar qualquer possibilidade de apoio petista à candidatura de Cícero Lucena, que tem o apoio do governador João Azevêdo (PSB). A demora no anúncio oficial da decisão já afastou legendas mais à esquerda e ao centro do “arco” de sustentação de uma hipotética candidatura petista a prefeito da Capital. O que mais preocupa expoentes do PT é o risco do isolamento da legenda. Nesse ponto, convergem, pelo menos, o presidente estadual Jackson Macedo e o presidente municipal Marcos Túlio.