Nonato Guedes
Em meio às discussões acirradas dentro do Partido dos Trabalhadores da Paraíba sobre o lançamento de candidatura própria a prefeito de João Pessoa nas eleições de outubro o presidente estadual da legenda, Jackson Macedo, sugeriu, ontem, que fosse aberto um diálogo com o governador João Azevêdo (PSB), que foi oficialmente apoiado pelo PT no segundo turno do pleito de 2022 e que desde o primeiro turno fechou, incondicionalmente, com a candidatura do líder Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Não é uma proposta impertinente a de Macedo, levando-se em conta que PT e PSB formaram a chapa presidencial vitoriosa, tendo o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na vice. Mas a peculiaridade da disputa municipal, onde Azevêdo está, desde sempre, comprometido com a candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição, é um sério obstáculo no meio do caminho para o entendimento.
Além do mais, como admitiu o próprio Jackson Macedo, em entrevista à rádio Arapuan, não é do estilo do governador João Azevêdo pressionar outras legendas a compartilhar com ele projetos políticos em que acredita ou com que está comprometido. Na campanha de 2022, por influência do ex-governador Ricardo Coutinho, que havia rompido com João Azevêdo, Lula veio à Paraíba, no primeiro turno, declarar apoio ao senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) que disponibilizara para o PT as vagas de vice-governador e de senador na sua chapa, uma delas para o próprio Coutinho, que não logrou êxito. Somente no segundo turno, com João Azevêdo definido no páreo contra o então deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) foi que algumas lideranças do PT paraibano hipotecaram apoio à reeleição do chefe do Executivo. Ricardo e seus aliados mantiveram neutralidade olímpica, para efeito externo, uma vez que, internamente, em grupos de WhatsApp, consideravam a “hipótese” Pedro Cunha Lima como viável. Cunha Lima não se aliou nem ao ex-presidente Jair Bolsonaro nem a Luiz Inácio Lula da Silva, mas expoentes do seu grupo eram bolsonaristas assumidos no Estado.
Na verdade, em relação ao processo que está em andamento para definição da candidatura do PT, entre os deputados estaduais Luciano Cartaxo (ex-prefeito) e Cida Ramos, o governador João Azevêdo ensaiou gestões ou, pelo menos, fez acenos de público para um diálogo com o petismo em torno do apoio à candidatura de Cícero Lucena a um novo mandato. O entendimento poderia evoluir com a incorporação, por Cícero, de pautas defendidas pelo PT-governo, bem como com uma participação efetiva do PT em mais uma gestão de Lucena, culminando com o engajamento deste no projeto de recandidatura do presidente Lula em 2026, tal como tem sido especulado. Na condição de dirigente estadual, Jackson Macedo é plenamente favorável a essa aliança e tem insistido no risco de o PT cometer suicídio político se lançar, de última hora, uma candidatura própria, sem base de apoio em forças de esquerda ou do chamado campo progressista. Mas Jackson parece sentir que a ação de bastidores do ex-governador Ricardo Coutinho contra a aliança com Cícero é mais forte do que outros argumentos. Em última análise, nenhuma candidatura será sacramentada em João Pessoa sem o consentimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em termos concretos, é fato que o Partido dos Trabalhadores da Paraíba está devendo gestos de retribuição ao governador João Azevêdo pela posição límpida e transparente que ele adotou na sucessão presidencial, sendo o primeiro gestor estadual a se definir por Luiz Inácio Lula da Silva quando a candidatura deste ainda estava se firmando dentro do próprio PT. A orquestração do ex-governador Ricardo Coutinho contra João Azevêdo não consegue anular um outro fato: o de que João foi contra a candidatura de Jair Bolsonaro já em 2018, enfileirando-se à época com o nome de Fernando Haddad, sacramentado pelo PT para substituir Lula. Da mesma forma, é público e notório que João Azevêdo, no primeiro mandato, quando teve que conviver com Bolsonaro, chegou a ser hostilizado pelo governo federal, citado nominalmente pelo ex-presidente da República como um dos seus inimigos políticos. Isto se deveu a posições de independência assumidas por Azevêdo, juntamente com outros governadores da região Nordeste, desafiando o Poder Central na fase mais aguda da pandemia de Covid-9 que se abateu sobre a população brasileira. Bolsonaro não discriminou a Paraíba porque não podia fazê-lo mas nunca se preocupou em reconhecer a liderança do governador socialista – situação que se agravou com a atuação de Azevêdo dentro do Consórcio Nordeste, do qual veio a ser presidente.
Ressalte-se, ainda, a propósito da campanha de 2022, que mesmo com o líder Luiz Inácio Lula da Silva tendo vindo à Paraíba pedir votos no primeiro turno para Veneziano Vital do Rêgo, João Azevêdo não deixou de pedir votos para Lula. Pelo contrário, esteve na linha de frente da coordenação de comícios e manifestações pró-Lula, embora boicotado pelo PT nacional na remessa de material publicitário que pudesse contribuir para massificar a articulação em prol do retorno do líder petista à Presidência da República. Com a mesma obstinação, João se engajou no segundo turno, onde teve o apoio de Lula. Adversários de Ricardo conseguiram sabotar a presença do favorito no palanque do candidato à reeleição na Paraíba, mas João Azevêdo manteve-se coerente e determinado, na convicção de que Lula seria uma alternativa ideal para o país e, de resto, para o Nordeste. Esses gestos do governador paraibano podem não ser levados em conta nas decisões políticas de agora, mas já estão inscritos na História, para desfeita dos seus inimigos que se infiltraram no PT para tentar combatê-lo melhor na conjuntura política paraibana. O resultado é que João terá presença ativa no pleito vindouro, enquanto há uma incógnita sobre o papel que Ricardo, atualmente baseado em Brasília, venha a exercer nas eleições vindouras.