Nonato Guedes
Embora não haja registro de pesquisas mais recentes ou atualizadas sobre intenções de voto para a eleição a prefeito de João Pessoa, analistas políticos avaliam que o atual gestor, Cícero Lucena, do Progressistas, que pleiteia a recondução, segue liderando o páreo como reflexo das ações administrativas que tem intensificado quase diariamente e bafejado, também, pela inércia de seus presumíveis adversários na mobilização para a corrida prevista para outubro. Ontem, pela terceira vez, a Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores omitiu-se de decidir sobre a posição do PT na disputa na Capital paraibana, retirando de pauta o exame das duas opções propostas – candidatura própria ou aliança com Cícero. O PT é a única agremiação que não consegue produzir um consenso sobre o tema, apesar da sua longevidade e experiência em disputas eleitorais em João Pessoa, onde chegou a figurar no segundo turno e sair vitorioso. Mas agora, surpreendentemente, empacou.
No PL, o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que defenestrou o comunicador Nilvan Ferreira do páreo e logrou trazer o ex-presidente Jair Bolsonaro a João Pessoa, não tem uma programação estruturada que lhe permita avançar na estratégia para massificar sua postulação. Apesar de aparentar potencial para agregar a direita bolsonarista e de ter atraído a promessa de adesão do pastor Sérgio Queiroz, inclusive, na condição de candidato a vice, o ex-ministro não tem sido pródigo na geração de fatos de impacto que contribuam para deslanchar o projeto de candidatura. Está ausente, inclusive, de intervenções em emissoras de rádio, onde há espaço para debater problemas de João Pessoa e, mesmo, para se posicionar em relação a polêmicas questões nacionais. A pré-campanha de Queiroga é burocrática e, por isso, não provoca reações mais fortes, quer a favor, quer contra as suas pretensões. Ele havia prometido um amplo diálogo sobre temas que encarou de frente, como a pandemia de covid-19, tendo dado partida a uma maciça campanha de vacinação na fase mais aguda do coronavírus, porém, não encontrou, ainda, a forma adequada de encaixar a discussão a respeito.
Enfim, um terceiro pré-candidato, o deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, está eclipsado no noticiário, igualmente pela incapacidade de provocar acontecimentos de repercussão junto a segmentos da opinião pública, sem falar que ele enfrenta problemas na área judicial e que não tem viabilizado, ainda, uma potente coligação de forças que dê cobertura a mais uma tentativa de chegar ao Centro Administrativo Municipal. A impressão, para a média do eleitorado de João Pessoa, é que não há pré-campanha a prefeito, e analistas políticos já estão vaticinando que a disputa deste ano tende a ser uma das mais insípidas dos últimos tempos, sem o condão de empolgar eleitores ou arregimentar multidões. O impasse vivenciado pelo Partido dos Trabalhadores é emblemático, em certa medida, da apatia que envolve o processo eleitoral de 2024 na Capital, em tudo por tudo diferente de outras campanhas memoráveis que até se excederam em grau de radicalização, no fragor das paixões desencadeadas e do engajamento massivo de apoiadores ou simpatizantes.
O prefeito Cícero Lucena, que já governou João Pessoa por duas vezes, talvez experimente o seu melhor momento administrativo neste terceiro mandato, pela bem-sucedida parceria que empreende com o governador João Azevêdo para carrear obras e investimentos que correspondam aos desafios de uma cidade próxima do milhão de habitantes. A administração municipal tem sido mais ágil, mais eficiente, mais proativa, do segundo semestre do ano passado para cá, e igualmente tem sido favorecida por recursos e por parcerias com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Essa condição privilegiada possibilita ao prefeito Cícero Lucena apresentar-se ao eleitorado com resultados concretos e, também, com acenos de continuidade do êxito administrativo, estando, indiscutivelmente, bem na frente dos concorrentes em termos de diagnóstico e de solução ou encaminhamento das demandas agitadas pela população. Lucena tem estado atento a reclamações cotidianas de toda ordem, preocupado em demonstrar interatividade e domínio da radiografia da João Pessoa de hoje, o que é uma vantagem no confronto com adversários.
De forma sutil, o prefeito-candidato tem promovido adaptações no seu estilo de governar, aderindo a inovações exigidas pelos novos conceitos de gestão pública e, por estratégia própria, decidiu abandonar propostas polêmicas que dividem opiniões dentro da sociedade, relacionadas, por exemplo, a questões ambientais, muito em voga por causa das discussões mundiais sobre mudanças climáticas e, a nível nacional, pelo alerta recém-advindo das enchentes no Rio Grande do Sul e em outros Estados da região. O gestor pessoense movimenta-se no sentido de imprimir um caráter profissional à administração pública, desafiada constantemente, em toda parte, a ser produtiva e, até mesmo, a antecipar-se à previsão de emergências ou excepcionalidades inescapáveis. O próprio Cícero tem participado de conferências, no Brasil ou no exterior, onde se articula sobre os modelos que estão no radar para a sustentabilidade das cidades. Do ponto de vista político, cabe-lhe agir com habilidade para não perder apoios, muito menos para desmanchar o arco de forças políticas que já reuniu em torno de mais uma oportunidade para administrar os destinos de João Pessoa.