Nonato Guedes
Por recomendação do Grupo de Tática Eleitoral presidido pelo senador Humberto Costa (PE), a Executiva Nacional do PT decidiu adotar as pesquisas como uma “saída honrosa” para o impasse verificado em João Pessoa quanto à escolha da candidatura própria a prefeito nas eleições de outubro. O senador Humberto Costa admitiu a emissoras de rádio da Paraíba que as pesquisas serão feitas com brevidade e deverão polarizar entre os nomes do deputado estadual Luciano Cartaxo e da deputada estadual Cida Ramos. Ele deu a entender que os levantamentos não serão propriamente definidores do processo mas deverão fornecer subsídios capazes de “orientar” a cúpula nacional numa tomada de posição a respeito. Na prática, o movimento representa um esforço da direção para dar uma satisfação à opinião pública diante do desgaste enfrentado por causa da indefinição, até agora, sobre o posicionamento do partido no pleito.
As pesquisas interessam mais de perto ao deputado e ex-prefeito Luciano Cartaxo, que se considera em vantagem pelo seu “recall” como gestor da Capital duas vezes. A deputada Cida Ramos vinha defendendo a realização de prévias internas, amparada em manifestações de apoio colhidas da parte de movimentos setoriais e filiados petistas com quem já vinha dialogando dentro da tática de manter oxigenada sua postulação. Os dois concorrentes, na verdade, elegeram táticas distintas que se amoldassem aos seus próprios interesses em jogo. Cartaxo procurou falar ao público externo enquanto internamente, em vez do debate, tem atuado nos bastidores junto a líderes influentes, a exemplo do ex-governador Ricardo Coutinho, atualmente baseado em Brasília mas bastante antenado com a realidade paraibana. Especula-se que Luciano, se for ungido, terá como vice Amanda Rodrigues, esposa de Ricardo Coutinho, formando chapa puro-sangue. Cida Ramos, por sua vez, buscou agir nas quatro linhas do calendário interno, inclusive, inscrevendo-se nas prévias, que acabaram sendo canceladas por determinação expressa do senador Humberto Costa, espécie de capataz da Executiva dirigida pela deputada federal paranaense Gleisi Hoffmann.
O pano de fundo da conflagração dentro do PT, além do interesse concorrente entre Cida Ramos e Luciano Cartaxo pela indicação à vaga da candidatura, foi a articulação engendrada pelo grupo de Ricardo Coutinho para evitar, a todo custo, que o partido desistisse de candidatura própria e apoiasse a candidatura do atual prefeito Cícero Lucena (PP), que tem como principal defensor o governador João Azevêdo (PSB), aliado de primeira hora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora Humberto Costa tenha insinuado nas últimas horas que a hipótese de aliança com Cícero não está descartada, não é isto que os fatos estão evidenciando. Tanto assim que o próprio senador por Pernambuco cai em contradição ao admitir que o projeto do Partido dos Trabalhadores é lançar uma candidatura competitiva que tenha condições de avançar para o segundo turno. Cartaxo tem dito, desde o início, que é o único nome capaz de oferecer essa perspectiva à agremiação. Na semana passada, o radar do PT nacional apontava chances de vitória em apenas duas Capitais nordestinas – Fortaleza e Teresina, com candidatos próprios.
O PT em João Pessoa está sendo um dos últimos a firmar posição para as eleições municipais de 2024. Dirigentes como Jackson Macedo, presidente do diretório estadual, e Marcos Túlio, do diretório municipal, têm feito alertas reiterados sobre a perda de tempo que a agremiação está experimentando na ocupação de espaços para a disputa eleitoral em virtude da autofagia entre grupos dentro das suas hostes. Pelo menos três pré-candidatos já estão se mobilizando de forma ostensiva – o prefeito Cícero Lucena, o deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, e o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, do PL, que no final de semana fechou uma composição com o Novo e confirmou a indicação do pastor Sérgio Queiroz como seu vice. No contraponto, dentro do Partido dos Trabalhadores, o ambiente é de desânimo quanto às chances no confronto das urnas. A indefinição já prejudicou, por exemplo, a formação de uma nominata competitiva de pré-candidatos a vereador, o que ameaça a sobrevivência do próprio único vereador que o partido tem na Câmara da Capital, o sindicalista Marcos Henriques. Por outro lado, a radicalização é visível entre partidários de Luciano Cartaxo e de Cida Ramos.
Diante da decisão finalmente tomada pela Executiva Nacional de realizar pesquisas para aferir potencial de pré-candidaturas dentro do PT a expectativa se redobra quanto aos desdobramentos da novela que vem enredando a legenda para as eleições municipais deste ano. Há, notoriamente, da parte dos apoiadores de Cida Ramos, a suspeita de que por trás do arranjo adotado haja um jogo de cartas marcadas para favorecer a sagração de Cartaxo – e, nesse sentido, todas as atenções se voltam para a figura do ex-governador Ricardo Coutinho, sequioso de retomar espaços de poder depois de duas derrotas consecutivas no seu currículo, para prefeito de João Pessoa e para senador. O receio é de que não haja empolgação maior para um engajamento na campanha, por causa do racha já estabelecido. Jackson Macedo insiste na advertência de que o PT caminha para ficar isolado na disputa eleitoral em João Pessoa – e todos os indícios apontam para essa perspectiva.