Nonato Guedes
A decisão da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, indicando candidatura própria a prefeito de João Pessoa, a ser definida mediante pesquisas de opinião pública, não alterou o posicionamento do PV e do PCdoB, que compõem juntamente com o PT a federação partidária Brasil Esperança. De acordo com o Sargento Dênis, representante do PV, e a representante do PCdoB, Gregória Benário, as duas legendas reafirmam o compromisso de apoio à candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição, por entender que o seu projeto abre espaço para o campo progressista no confronto com as forças bolsonaristas e de direita conservadora no Estado. Está prevista uma reunião da federação para hoje a fim de cristalizar essa posição em meio ao fato novo representado pela pesquisa anunciada pelo PT e comunicá-la à Federação em âmbito nacional. De sua parte, o prefeito Cícero Lucena afirmou, ontem, que respeita a autonomia da Executiva Nacional do PT mas que ainda insiste em “cortejar” o alinhamento dos petistas ao seu projeto de recandidatura.
Na opinião de Gregória Benário, o apoio à reeleição do prefeito Cícero Lucena é fundamental para evitar a dispersão ou o isolamento das forças de esquerda no contexto da disputa eleitoral este ano na Capital paraibana. As discussões internas agitadas em torno do assunto levam em consideração que os segmentos da direita bolsonarista estão se articulando ostensivamente para empalmar o comando da prefeitura de João Pessoa, apostando fichas na chapa que reúne o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga (PL) como “cabeça” e o pastor Sérgio Queiroz, do Novo, como postulante a vice. Essa composição foca em desdobramentos na eleição de 2026, para a qual o bolsonarismo se prepara com antecedência, senão investindo propriamente no nome de Bolsonaro, face a pendências que o tornam inelegível, apostando em nomes como o da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que ainda está filiado ao Republicanos. As discussões em João Pessoa envolvem o mapeamento de desempenho nas eleições de 2022, quando o bolsonarismo mostrou fôlego surpreendente no entorno da Região Metropolitana da Capital.
A recente vinda de Bolsonaro a João Pessoa para sacramentar a chapa Marcelo Queiroga-Sérgio Queiroz foi interpretada como sintomática da mobilização que será desencadeada pela direita conservadora no pleito da Capital, podendo irradiar-se por outros municípios, grandes, médios e pequenos, do Estado, viabilizando uma polarização que nos bastidores é festejada com alvíssaras e evoés, embora, para consumo público, ainda não seja ostensivamente assumida. Nesse contexto, uma candidatura própria do Partido dos Trabalhadores poderia decolar enfraquecida, diante da perda de tempo que já se verificou em termos de definição e da própria briga fratricida que se desenrola nas hostes do PT entre apoiadores do deputado Luciano Cartaxo e discípulos da deputada Cida Ramos. Avalia-se que dificilmente o petismo sairá unido na formação para a disputa eleitoral em João Pessoa, dado o grau de radicalização que já se instalou, com troca de acusações, inclusive, relacionadas a suposta violência política de gênero, como se queixou a deputada Cida Ramos. O prosseguimento das tensões internas já começa a desmotivar expoentes de movimentos setoriais e representantes de agrupamentos de base que orbitam no Partido dos Trabalhadores, podendo redundar em desmobilização no apoio a uma candidatura própria.
Nesse contexto, a hipótese da candidatura própria petista aparenta ser temerária, já que são muitos os flancos abertos no íngreme caminho da unidade e sem perspectiva de um diálogo maduro, racional ou realista que, no final das contas, promova um grande entendimento com as bênçãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se mantém regularmente ou constantemente informado sobre o desfecho do “caso Paraíba”. A vantagem do apoio à reeleição de Cícero Lucena, para setores menos radicais e mais pragmáticos do PT pessoense ou do PT paraibano está no fato de que o “progressista” tem cacife para liderar o páreo de outubro e se põe numa linha de aproximação com o lulismo, referendado pelo seu grande cabo eleitoral, o governador João Azevêdo (PSB), aliado de primeira hora do presidente da República. O governador tem se empenhado, na retaguarda, para conseguir que a postulação de Cícero seja admitida como representante de centro-esquerda, em colisão declarada com os bolsonaristas extremistas. Dirigentes estaduais petistas, como Jackson Macedo, alertam que é taticamente mais seguro compor-se com Lucena e que o Partido dos Trabalhadores discuta diretamente com ele pontos cruciais do programa de governo a ser apresentado.
As confabulações se sucedem a todo vapor, em várias frentes, tanto em João Pessoa como em Brasília. Mas há pelo menos um consenso: a hora da verdade está chegando inexoravelmente, sobretudo para o PT, que há mais de um ano está engalfinhado em discussões até prosaicas sobre o seu futuro, principalmente em João Pessoa, o tambor político do Estado.