Nonato Guedes
A eleição para a presidência da Câmara dos Deputados está prevista para ocorrer somente em fevereiro de 2025, mas, nos bastidores, os parlamentares já articulam alianças e estratégias dentro da lógica de que é o futuro deles que está em jogo.. O resultado da disputa pela cadeira de Arthur Lira (PP-AL) vai influenciar em como eles estarão posicionados na campanha de 2026 – e o Palácio do Planalto não está indiferente à movimentação, embora, aparentemente, não tenha maiores fichas no jogo. Uma reportagem do UOL descreve que o atual presidente Arthur Lira atua como uma espécie de “presidente do sindicato dos deputados”, cuja função central está em conseguir emendas parlamentares e liberá-las de acordo com os posicionamentos nas votações. Lira está no segundo mandato – ele foi reeleito com os votos de 464 dos 513 deputados, o que demonstra a força de sua política interna. Seu sucessor, conforme a avaliação geral, precisará estar comprometido com a manutenção desta dinâmica para conseguir se eleger.
Antonio Britto (PSD-BA) e |Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), cotados para a vaga de Lira, têm as maiores taxas de governismo entre os cinco mais citados na disputa para o comando do |Legislativo. Brito votou alinhado com as orientações do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 95% das vezes, enquanto Isnaldo situou-se em 94%, conforme mostrou levantamento do Poder360. Elmar Nascimento, do União Brasil-BA e |Marcos Pereira, do Republicanos-SP, estão na outra ponta, apesar de as taxas de ambos superarem os 80%. O deputado Dr. Luizinho, do PP-RJ, tem 98% de taxa de governismo. Quando se considera o conjunto dos 513 deputados em todas as votações na atual legislatura, a partir de fevereiro de 2023, a taxa de adesão geral da Câmara ao Planalto é de 71%. Ou seja, todos da lista dos cinco mais cotados têm taxa de governismo considerada acima da média. O “Poder360” também calculou uma taxa móvel de governismo, que considera, em qualquer data, as últimas 30 votações dos deputados. A taxa serve para medir em diferentes momentos o nível de adesão dos deputados às pautas do governo federal, num ambiente de polarização ideológica como o que ainda se respira no cenário nacional.
O tabuleiro político se movimenta neste momento em torno de Arthur Lira, do PP-AL. O atual presidente da Câmara quer viabilizar um sucessor que tenha o apoio o apoio do governo. O deputado menciona publicamente os nomes: Elmar Nascimento, Marcos Pereira e Antonio Britto. O deputado paraibano Hugo Motta, do Republicanos, chegou a figurar entre os cogitados, mas além de ter se envolvido em polêmicas ultimamente, que o fizeram retirar de pauta um projeto tido como controvertido, ele não concorrerá em hipótese alguma com o presidente nacional do seu partido, Marcos Pereira, por quem tem sido prestigiado. Arthur Lira tenta conquistar o apoio do governo para fazer o sucessor e diz a aliados que o próximo chefe da Casa deve ter o “mesmo compromisso com a Câmara” que ele. Ou seja, ouvir a oposição e não ser alguém que se alinhe sempre aos interesses do Planalto. Na Casa, há deputados do Centrão que têm o costume de votar contra Lula. Serão necessários gestos a esses grupos para assegurar maioria na Câmara. O PL de Bolsonaro ainda não sabe se vai ter um candidato e o PT do presidente Lula não escolheu ainda quem vai apoiar na disputa. Os governistas consideram Elmar Nascimento “menos maleável que outros candidatos”.
Ao longo dos últimos anos, Lira conseguiu ampliar o controle da Câmara sobre as verbas públicas por meio das emendas parlamentares. Sua gestão instituiu o chamado orçamento secreto e o poder de barganha dos deputados cresceu com esses artifícios. O presidente da Câmara tem o poder de abrir impeachment contra o presidente da República. Em 2015, a então presidente Dilma Rousseff não se dava bem com Eduardo Cunha, que viria a ser o comandante da Câmara. O governo apoiou outro nome, perdeu e Cunha foi o responsável por todo o processo para afastá-la do cargo. Isto criou um precedente traumático entre os petistas. No quadro em andamento, Elmar Nascimento é o nome preferido de Arthur Lira, considerado um braço-direito do presidente da Câmara. Mas essa proximidade pode ser justamente o seu calcanhar de Aquiles: sua eleição seria considerada a vitória total de Lira, e, além disso, Elmar é rival do PT na Bahia, Estado onde o partido de Lula é muito forte. A atuação de Elmar no caso Chhiquinho Brazão foi prejudicial à sua candidatura. O aliado de Lira atuou para libertar o deputado acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco. Serviu para ganhar simpatia dos bolsonaristas, mas perdeu pontos entre petistas e governistas.
Marcos Pereira é apontado como aquele que tem potencial para unir os interesses de Lira e Lula e “equilibrar” as forças. Ele já fez acenos ao Planalto no sentido de colaborar para garantir votos em matérias em tramitação. Mas Pereira é bispo da Universal e próximo a Edir Macedo, o que é um problema para parte da bancada evangélica. O próprio Jair Bolsonaro, que apesar de não participar diretamente do pleito, tem influência sobre deputados bolsonaristas, é íntimo do pastor Silas Malafaia, dirigente da Assembleia de Deus e desafeto de Pereira. Um influente parlamentar diz que se Lira apoiar Pereira para a presidência, corre o risco de perder o apoio da direita para o Senado em Alagoas em 2026. Enquanto as avaliações se desenrolam, as articulações avançam. Em Brasília, tem-se quase como certo que dificilmente Arthur Lira perderá a parada para fazer seu sucessor.