Repercutiu em diferentes segmentos da sociedade a notícia da morte da economista Maria da Conceição Tavares, ontem, aos 94 anos, em Nova Friburgo, Estado do Rio, de causas não reveladas pela família. Referência do pensamento desenvolvimentista no país, sem papas na língua, a portuguesa de nascimento e brasileira de coração formou uma geração de economistas no país que têm decidido o destino econômico do Brasil nas últimas décadas. Ela deixou dois filhos, dois netos e um bisneto.
Conceição Tavares nasceu em Portugal em 1930 e se formou em matemática pela Universidade de Lisboa antes de vir ao Brasil em 1954. Ela foi professora, escritora e deputada federal entre 1995 e 1999. Trabalhou no BNDES e no CEPAL. Foi uma das referências teóricas e acadêmicas do PT. Em 2021, vídeos e aulas e entrevistas de Conceição Tavares viralizaram nas redes sociais. Em nota oficial, o PT-RJ escreveu que Conceição Tavares é uma das figuras mais proeminentes na área da economia. “Reconhecida por suas contribuições ao pensamento desenvolvimentista e por seu impacto na formação de diversas gerações”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que Conceição Tavares “adotou o Brasil e o nosso povo”. E acrescentou: “Foi uma economista que nunca esqueceu a política e a defesa de um desenvolvimento econômico com justiça social”. O deputado estadual Eduardo Suplicy escreveu que o Brasil perdeu uma mulher extraordinária. “Ela deixou um legado importante para o pensamento econômico brasileiro”, frisou o deputado do PT-SP.
O senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) afirmou que a economista “deixa um vasto legado sobre pensamento crítico em economia, justiça social, luta contra a desigualdade e, sobretudo, de muita coragem na defesa dos mais vulneráveis”. Ela ganhou notoriedade fora dos meios acadêmicos na década de 1980 ao chorar na implementação do Plano Cruzado. O Brasil enfrentava hiperinflação e o programa era uma tentativa de conter a alta dos preços, mas não deu certo. O programa foi implementado em 28 de fevereiro pelo então presidente José Sarney, do PMDB, e Maria da Conceição Tavares teve grande influência no Plano Cruzado. Ela concedeu entrevista em março, na TV, e foi dominada pela emoção quando comentou os efeitos positivos que o controle da inflação traria aos mais pobres.
Anos mais tarde, a professora contou que passou noites em claro auxiliando o esforço para conceber o pacote econômico. Explicou que estava comovida porque a base do Plano Cruzado era preservar o poder de compra do trabalhador assalariado. Naquele período, a inflação no Brasil era estratosférica. A taxa anual de janeiro e fevereiro de 1986, meses que precederam o lançamento do pacote econômico, atingiu 517%, de acordo com o índice geral de preços da Fundação Getúlio Vargas. A mudança proposta pelo pacote era tão grande que o país trocou o nome da moeda, abandonando o cruzeiro e adotando o cruzado, o que explica o nome do pacote econômico. O plano apostava no congelamento de preços, que não funcionou. No primeiro trimestre de 1987 a inflação estava em 337%, conforme a Fundação Getúlio Vargas.