Nonato Guedes
A paralisação que se arrasta nas Universidades e Institutos Federais de Educação, liderada pelos docentes, coloca em xeque o passado de sindicalista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ganhou notoriedade, justamente, pelas greves de trabalhadores que capitaneou a partir do ABC paulista, desafiando o próprio regime militar que, como se sabe, sustentava-se na repressão e no emprego de métodos autoritários. Num desabafo que dirigiu aos grevistas, o chefe do governo pediu realismo e sensatez, ponderando que greves não são indefinidas e admitindo que elas prejudicam outros segmentos da sociedade – no caso específico, os alunos. O presidente anunciou R$ 4 bilhões do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, para a educação superior, totalizando R$ 5,5 bilhões na área e acrescentou que não há razão para a greve estar durando tanto tempo. Citou que na sua época como líder sindical, tentava o “tudo ou nada” e que, muitas vezes, ficou com “nada”.
Para Lula, não é por causa de 3%, 2% e 4% que se fica em greve “a vida inteira”. Salientou que é preciso ter coragem para iniciar uma greve, mas, também, para terminá-la, já que as greves “têm um tempo para começar e outro para terminar”, não sendo válido permitir que elas morram de inanição. Considerou que o montante de recursos colocado à disposição pela ministra da Gestão, Esther Dweck, é um montante não recusável, e frisou que cobra dos seus ministros para que as obras anunciadas na educação não demorem para serem entregues. O problema é que, para os docentes parados, o ponto central é a greve. Mais verba para as universidades, por essa ótica, não resolveria a questão – e também reclama-se que entidades como Andes, que representa a categoria dos docentes, e o Sinasefe, de docentes e técnicos, não foram chamadas. Para o reitor da Universidade Federal da Paraíba, Valdiney Gouveia, que é tido como bolsonarista, o governo Lula já deveria ter dialogado logo no nascedouro, evitando consequências que estão perdurando e, indiscutivelmente, inquietando o restante da sociedade.
Conforme a mídia sulista, os sindicatos veem o presidente da República distante e abandonando o compromisso com o segmento, que o apoiou nas eleições. Há frustração com o Planalto por priorizar a Proifes, única entidade que aceitou a proposta do Executivo de 15 de maio para reajuste e reestruturação da carreira. O sindicato informou que boa parte das reivindicações da última contraproposta, apresentada em 30 de abril, foi acatada. A Proifes publicou em seu site oficial uma explicação oficial sobre ter aceito o acordo com o governo, alegando que “foi a opção menos pior”, levando em conta que o Executivo já definiu, e não somente para a categoria da Educação, que o orçamento de 2024 estava “esgarçado até o limite”. De acordo com Lula, se for analisada pelos grevistas o conjunto da obra, haverá a percepção de avanços, o que tornaria injustificável a continuidade do movimento paredista. “Quem está perdendo é o Brasil, são os estudantes brasileiros”, exortou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, evitando atribuir conotação política à paralisação, apesar de parlamentares ligados ao governo insinuarem, nos bastidores, “infiltração” de adversários da atual gestão, vinculados à Era do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Do volume de recursos anunciado pelo mandatário, há 3,75 bilhões de reais para obras de infraestrutura como salas de aula e laboratórios, e 600 milhões para abertura de 10 novos campi no país, além de 250 milhões de reais para a construção de hospitais e 37 obras nos hospitais já existentes. A respeito da greve em si, o chefe do Governo pediu compreensão para o fato de que a defasagem salarial dos servidores não pode ser recomposta de uma só vez, como pleiteado. Em 2023, houve 9% de reposição – ainda faltam 22%. As representações docentes estão divididas perante o cenário pela peculiaridade de o país estar sendo governado por Lula – que, diferentemente de Bolsonaro, sempre foi sensível às causas da Educação, da mesma forma como sempre pontuou acenos de entendimento. Alega-se que a movimentação paredista era para 2025, com o orçamento estabilizado, mas os sindicatos não puderam esperar. Ou demonstram não confiar na política econômica pilotada pelo ministro Fernando Haddad, ou estavam com saudade inadiável de uma greve, é o raciocínio de apoiadores do docente, inclusive, formadores de opinião pública, a despeito de, igualmente, estarem insatisfeitos com a questão salarial.
Nos primeiros meses do seu terceiro governo, dentro da estratégia que ensaiou para mostrar diferenciação completa em relação ao período de governo de Jair Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu uma reunião com reitores de todas as Universidades brasileiras, para deixar clara a sua disposição de valorizar a Educação, que havia sido devastada pelo governo negacionista derrotado nas urnas em 2022. O gesto teve repercussão até internacional e simbolizou o respeito do terceiro governo de Lula à instituição acadêmica e à contribuição excelente que ela oferece para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Houve outros gestos simbólicos que soaram positivamente a favor do presidente Lula, como as reuniões com governadores de todos os Estados e partidos, restabelecendo, assim, o pacto federativo destroçado pela fatídica Era Bolsonaro. É por causa de tais episódios que há uma grande expectativa sobre o desfecho do impasse atual com as Universidades, pois pode servir de parâmetro para a relação do governo Lula com outros segmentos sociais de agora em diante.