Nonato Guedes
Numa entrevista, ontem, à CBN, que a mídia qualificou como ‘bombástica’, pelo teor explosivo de muitas das revelações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou que está preparado para disputar a reeleição em 2006 a fim de evitar que “o país volte a ser governado por um fascista”, sem mencionar diretamente o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem sucedeu e que derrotou nas eleições de 2022. Jair Bolsonaro está inelegível até 2030, mas tem reiterado que pretende lançar mão de manobras para tentar reverter a decisão do Tribunal Superior Eleitoral até às vésperas da próxima disputa eleitoral. No paralelo, aliados de Bolsonaro já trabalham outras opções para o páreo presidencial, sendo as mais cogitadas as da ex-primeira-dama Michelle (PL) e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, que foi ministro da Infraestrutura da gestão passada.
Na entrevista, Lula detonou a Rede Globo e foi para cima de Campos Neto, presidente do Banco Central, com quem tem sustentado polêmicas e que, a seu ver, “tem lado político e trabalha para prejudicar o país”. Lula comparou Campos Neto ao ex-juiz e senador Sérgio Moro: “paladino da Justiça” com “rabo preso” e seus comentários coincidiram com as versões de que o dirigente do Banco Central está sendo cotado para candidato a vice-presidente da República numa chapa liderada por Tarcísio de Freitas. Indagado por Milton Jung sobre o tema de uma candidatura à reeleição, Lula reafirmou que, primeiro, precisa cumprir “o que prometi ao povo brasileiro”. No entanto, o presidente emendou de forma enfática que, mesmo aos 80 anos, pretende entrar na disputa para barrar a extrema-direita fascista. “Quando chegar o momento de discutir tem muita gente boa pra ser candidato, eu não preciso ser candidato. Agora, presta atenção no que vou falar: se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram este país voltem, pode estar certo que os meus 80 anos virarão em 40 e eu poderei ser candidato”, pontuou.
– Mas não é a primeira hipótese. Nós vamos ter que pensar muito. Eu sei que vou estar com 80 anos, que vou ter que medir meu estado de saúde, minha resistência física, porque quero ter responsabilidade com o Brasil. Mas, não vou permitir que esse país volte a ser governado por um fascista, não vou permitir que esse país volte a ser governado por um negacionista, como já tivemos. Esse país precisa de muita verdade para se transformar no país maravilhoso que temos que construir – afirmou ao encerrar a entrevista. Antes, Lula afirmou que pegou o país “totalmente destruído como se fosse a Faixa de Gaza”, comparando o governo de Jair Bolsonaro ao genocídio praticado pelo sionista Benjamin Netanyahu, que governa Israel, no território palestino. “Em 2022 pegamos o país praticamente destruído. Até hoje temos ministérios com 30% dos funcionários, por conta do que foi feito pelo governo anterior. É um desafio. Meu compromisso é fazer o Brasil crescer de maneira consistente e madura. Os salários e os empregos crescerem da mesma forma. E agora temos um governo mais preparado do que nos meus primeiros mandatos, com ministros que já foram governadores, senadores. E com isso já fizemos, nesses 16 meses, mais políticas de inclusão social do que nos 8 anos passados. Isso leva um tempo para chegar na ponta, mas chega”, salientou Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao revelar o conluio entre setores da mídia, capitaneados pela Globo, e os representantes do neoliberalismo que aderiram ao fascismo bolsonarista, Lula elevou o tom contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comparando o papel dele com o de Sérgio Moro como “paladino da Justiça” que tem o “rabo preso” e trabalha para prejudicar o país. O mandatário citou a festa realizada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para homenagear Campos Neto e fez a comparação com o ex-juiz da Lava Jato, que hoje perambula pelos corredores do Senado Federal. Indagado se acredita que Tarcísio tem mais influência nas decisões de Campos Neto, no Banco Central, o presidente foi ao ponto: “Sinceramente, tem mais do que eu”, disse Lula. “Porque não é que ele encontrou o Tarcísio em uma festa. A festa foi do Tarcísio para ele, uma homenagem que o governo de São Paulo fez para ele. Certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhosa uma taxa de juros de 10,5%”. Em seguida, Lula falou sobre o convite que Tarcísio teria feito a Campos Neto para ser seu ministro da Fazenda caso seja eleito presidente em 2026 pela chamada terceira via. “Quando ele se lança a um cargo, fico imaginando: será que vamos repetir o Moro? O presidente do Banco Central está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez?”, indagou Lula. Ele explicou, então, qual o perfil que buscará para substituir Campos Neto no Banco Central: “O presidente do BC tem que ser uma figura séria, responsável e imune aos nervosismos momentâneos do mercado. Ele tem que dirigir a política monetária desse país levando em conta que a gente precisa controlar a inflação e crescer”.
O petista voltou a dizer que o ano de 2024 é “o ano da colheita”. E sublinhou: “Tem país com economia crescente acima do que o mercado imaginou. Tem um país que está gerando mais empregos. Em 17 meses, foram 2,4 milhões de empregos formais nesse país. Tem a massa salarial crescendo 11,5%. A situação é muito boa do ponto de vista econômico se comparar com o país que pegamos quando chegamos”. Ele enfatizou que, se tem uma coisa desajustada no Brasil, é o comportamento do Banco Central. “Essa é uma coisa desajustada. Um presidente que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político, e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está”, finalizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.