Nonato Guedes
O deputado estadual Luciano Cartaxo está praticamente vencendo a queda-de-braço com sua colega de mandato, Cida Ramos, para indicação como candidato do PT a prefeito de João Pessoa, que ele já governou duas vezes, mas a possibilidade de vitória dele é uma incógnita para os próprios líderes nacionais do partido. Uma reportagem do UOL revela que, este ano, o PT lançou onze pré-candidatos próprios a prefeituras de Capitais mas só vê chances de triunfo em duas – Fortaleza e Teresina, mirando na perspectiva de crescimento em Natal e Porto Alegre. Em 2020, o Partido dos Trabalhadores não fez nenhum prefeito em capitais estaduais pela primeira vez desde a redemocratização, mas a conjuntura deste ano é diferente pela presença do líder Luiz Inácio Lula da Silva na presidência da República.
Em João Pessoa, a decisão que favorece a escolha de Cartaxo está sendo conduzida nos bastidores da cúpula nacional, com quem o deputado e ex-prefeito se articulou com a mediação de figuras de prestígio do petismo paraibano, a exemplo do ex-governador Ricardo Coutinho, radicado em Brasília, e cuja esposa, Amanda Rodrigues, poderá compor a chapa petista na vice. Cida Ramos chegou a se inscrever em prévias internas inutilmente, pois estas foram canceladas pelo Grupo de Trabalho Eleitoral nacional do PT, presidido pelo senador Humberto Costa (PE). A parlamentar, que foi candidata em 2016 pelo PSB e saiu derrotada, ainda atraiu apoios relevantes de integrantes de diversas tendências que compõem o PT e despertou o lançamento de um manifesto de apoio em que foi realçada sua maior identidade com a filosofia do Partido dos Trabalhadores. Mas houve inúmeros desencontros, sempre originados em Brasília, e Cida acumulou perda de espaços, chegando a um ponto de desidratação da sua postulação, o que refreou o ímpeto com que vinha se mobilizando.
Cartaxo, por sua vez, dá entrevistas com a tranquilidade e o conforto de quem se considera ungido antecipadamente pela direção nacional. Passou a concordar, inclusive, com a realização de uma ampla pesquisa sobre intenções de voto na corrida eleitoral em João Pessoa, na qual o seu nome constou sozinho pelo Partido dos Trabalhadores, o que significou a gota d’agua do processo de queimação da postulação de Cida Ramos. A deputada, porém, não deverá desertar das fileiras petistas, embora não se acredite que venha a ter maior engajamento dentro de João Pessoa, devendo optar por apoiar candidaturas em municípios distintos da Paraíba. Por recomendação do próprio presidente Lula da Silva, o PT fará alianças em capitais e outras cidades de grande expressão. Na cidade paraibana de Campina Grande, que é o segundo colégio eleitoral do Estado, a Executiva Nacional do PT deliberou pelo apoio à pré-candidatura do ex-secretário de Saúde do Estado, Jhony Bezerra, do PSB, que é apoiado pelo governador João Azevêdo e dará combate ao atual prefeito Bruno Cunha Lima, do União Brasil.
Conforme a reportagem de UOL, os principais desafios do PT são o avanço do conservadorismo e o fato de a maioria dos prefeitos de capitais estarem disputando a reeleição. Das 26 capitais, 20 têm candidatos aptos a disputar mais um mandato – curiosamente, as principais apostas do partido estão concentradas em duas delas. O partido não terá candidato próprio nas duas maiores cidades do país. Em São Paulo, em ato inédito desde a redemocratização, apoiará o indicado do PSOL, o deputado federal Guilherme Boulos. No Rio, embora ainda não tenha fechado aliança, estará ao lado de Eduardo Paes, do PSD. Os dois nomes já receberam apoio claro do presidente. A principal arma dos candidatos deverá ser a imagem de Lula, diante da percepção de que a disputa em outubro será extremamente polarizada e nacionalizada. O apoio do presidente da República é considerado importante para candidaturas, mesmo nas capitais onde ele não é tão popular como as do Centro-Oeste e do Norte. Lula já tem aproveitado viagens de inauguração de obras do governo para promover aliados. Ele tem chamado os pré-candidatos ao palanque, feito elogios às gestões atuais ou anteriores, caso haja a referência. O plano do partido é que estas viagens sigam e, durante o período eleitoral, o presidente participe ativamente por meio de gravações e comícios.
No Piauí, um dos principais redutos lulistas, o deputado estadual Fábio Novo foi escolhido para tentar um feito inédito em Teresina, já que apesar de comandar o Estado desde 2003, o PT nunca governou a capital. Em Fortaleza, a aposta é na candidatura do deputado Evandro Leitão, presidente da Assembleia Legislativa do Ceará. O partido escalou quatro deputadas para tentar vencer em três regiões diferentes. Maria do Rosário vai buscar retomar Porto Alegre, enquanto as colegas Adriana Accorsi, Camila Jara e Natália Bonavides querem vitórias difíceis (em duas delas, inéditas), em Goiânia, Campo Grande e Natal, respectivamente. Em outras capitais, os dois principais desafios serão enfrentar candidatos à reeleição e o perfil conservador do eleitor, avalia o partido. Embora a imagem do presidente Lula deva ser usada com frequência, petistas dizem que, quando se trata de eleição municipal, a transferência não é assim tão direta, como pode ocorrer para o governo do Estado ou Legislativo. O partido quer retomar a força na Grande São Paulo, berço político de Lula, com o deputado Alencar Santana em Guarulhos, os deputados estaduais Luiz Fernando em São Bernardo do Campo e Emídio de Sousa, em Osasco, e a reeleição de José Filippi em Diadema.