Nonato Guedes
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a entender, em entrevista a emissoras de rádio, que vai jogar pesado na campanha eleitoral deste ano contra candidatos a prefeito alinhados ou identificados com o bolsonarismo em diferentes Capitais e redutos importantes do país. A lógica do presidente é que, onde não tiver candidato petista, ele apoiará os aliados do governo. Afirmou que fará o necessário para que os adversários não ganhem a eleição. “O que eu não quero é que os adversários ganhem, porque eles são negacionistas. Eles não gostam da verdade, não gostam da coisa certa”, acrescentou. Fica patente, nessa manifestação, o interesse do chefe do governo de alimentar a polarização política-ideológica com o grupo ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), dentro da perspectiva de fortalecer o agrupamento para as eleições de 2026, quando Lula pretende postular a reeleição ao Planalto.
No caso de João Pessoa, a artilharia pesada do presidente da República e seus liderados deverá mirar, principalmente, o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que concorrerá pelo PL tendo como candidato a vice o pastor Sérgio Queiroz, filiado ao Novo. Ambos são considerados bolsonaristas incondicionais – Queiroga teve todo o apoio de Bolsonaro durante a sua atuação num momento difícil da conjuntura nacional, a vigência da calamidade de covi-19. Queiroz chegou a ocupar uma secretaria de Modernização Administrativa e tem travado embates na Paraíba com setores de esquerda. O Partido dos Trabalhadores em João Pessoa encaminha-se para a candidatura própria do deputado estadual Luciano Cartaxo, articulada pelo ex-governador Ricardo Coutinho junto à cúpula nacional. Mas, também atuando na trincheira anti-bolsonarista, está o prefeito Cícero Lucena (Progressistas), que conta com o decidido apoio do governador João Azevêdo (PSB). O PT local deverá questionar pontos críticos da gestão de Cícero, mas as cúpulas atuam para que num segundo turno as portas não estejam fechadas para uma aliança.
No final de 2023, em um evento preparatório do Partido dos Trabalhadores para as eleições municipais, o presidente Lula disse querer ser cabo eleitoral de aliados pelo Brasil, que poderão usar suas obras e feitos na Presidência para se promoverem. Atualmente, o partido de Lula é a décima agremiação com mais prefeitos no país – tem 227 dos mais de 5.000 municípios. Isto equivale a 23% da quantidade de prefeitos do PSD, de Gilberto Kassab. O “Poder360” informa que Lula trata o pleito municipal de outubro como o primeiro passo das eleições de 2026. Já declarou que a disputa será entre ele e Bolsonaro. Em algumas capitais, inclusive estratégicas, o Partido dos Trabalhadores abriu mão de candidatura própria para se fortalecer com aliados de outros partidos. É o caso de São Paulo, onde o PT está engajado na pré-campanha do deputado federal Guilherme Boulos, do PSOL, apoio resultante de uma negociação conduzida pelo próprio Lula. Na Paraíba, o PT manifestou apoio à candidatura do médico Jhony Bezerra, do PSB, à prefeitura de Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, descartando compromisso com a pré-candidatura do deputado Inácio Falcão, do PCdoB.
Na última sexta-feira, Lula encerrou mais um giro de viagens em 2024. Durante a semana, o líder petista foi a quatro Estados – Rio de Janeiro, Ceará, Piauí e Maranhão. Destes, os dois últimos foram visitados pela primeira vez neste ano. Em seis meses de seu segundo ano do terceiro mandato, o chefe do Executivo foi somente a 12 dos 26 Estados. No total, o petista fez 35 viagens nacionais neste ano eleitoral – e os destinos de preferência estão concentrados no Sudeste. Ele foi oito vezes a São Paulo e duas vezes ao Rio de Janeiro. Não venceu a eleição contra Jair Bolsonaro em nenhum desses dois Estados em 2022. Em seguida, no ranking de preferência de destinos do chefe do Executivo, está o Nordeste. Lula visitou seis Estados da região: Bahia – 3 vezes, Ceará – 2 vezes, Pernambuco – 2 vezes, Alagoas – uma vez, Piauí – uma vez, Maranhão – uma vez. A Paraíba, estranhamente, tem continuado de fora da agenda do presidente da República – seja administrativa ou política. No Centro-Oeste, onde o eleitorado está mais próximo de Bolsonaro, Lula foi apenas ao Mato Grosso do Sul em 2024. Pesquisa Atlas/Intel divulgada em 15 de junho mostra que só 29,2% na região avaliam positivamente a gestão do petista.
A quatro meses das eleições, Lula ainda tem 14 Estados para visitar e conversar com os respectivos governadores e prefeitos. De todas as viagens no ano, Lula só esteve em quatro Estados que seu adversário venceu: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Todos os outros outro oito Estados visitados deram a vitória ao petista na eleição de 2022. Lula foi ao Rio Grande do Sul cinco vezes, muitas para anunciar medidas de reconstrução do Estado, que foi afetado por fortes chuvas no final de abril e em maio. Líderes petistas avaliam que a participação do presidente na campanha municipal terá forte impacto nas mais longínquas localidades do território nacional.