Nonato Guedes
A reação da deputada estadual Cida Ramos, do Partido dos Trabalhadores, foi de irresignação natural diante da decisão do Grupo de Trabalho Eleitoral Nacional favorável à indicação do deputado Luciano Cartaxo como candidato do partido à prefeitura de João Pessoa, o que ainda será oficializado na próxima terça-feira pela Executiva presidida pela deputada federal do Paraná Gleisi Hoffmann. Cida avalia que foi tomada a decisão errada e advertiu que, mais na frente, terá a oportunidade de demonstrar esse “equívoco” ao diretório nacional, fazendo um balanço da conjuntura na Capital paraibana, dos seus resultados e consequências. “Mas estou tranquila”, asseverou ela ao portal “Wscom”, sinalizando que não cogita desfiliar-se da legenda nem criar dificuldades internas como represália por ter sido preterida, apesar de cumprir as normas e diretrizes do estatuto da legenda – o que, a seu ver, não aconteceu com o postulante ungido.
Mesmo com sua afirmação de que estará à disposição do partido para engajamento na campanha eleitoral deste ano, por ser parte integrante do PT, a deputada dificilmente terá uma participação mais ativa na disputa de João Pessoa, onde tem sido bem votada em eleições proporcionais à Assembleia e desenvolve militância junto a movimentos sindicais e universitários. A sua tendência, já revelada anteriormente, é a de envolver-se em campanhas de candidatos ou candidatas de outros municípios, do interior do Estado, que apoiam a sua trajetória política e o mandato parlamentar. “Pretendo me engajar fortemente nessas campanhas”, assinalou a deputada, lembrando a necessidade de fortalecimento do PT por regiões estratégicas da Paraíba. O deputado Luciano Cartaxo havia dito que não pretende “forçar” ninguém a apoiá-lo. Na verdade, ele demonstra confiança na capacidade de transferência de votos de seu grande “padrinho” na atual temporada, o ex-governador Ricardo Coutinho, embora o histórico de transferência de Ricardo não seja propriamente favorável, como se deu nos casos das candidaturas de Estelizabel Bezerra em 2012 e da própria Cida Ramos em 2016. Na época, Ricardo, Estela e Cida militavam no PSB.
Talvez mais do que confiar na influência de Ricardo, Luciano confie, mesmo, no “milagre” de multiplicação de votos na sua campanha por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja vinda à Paraíba já começa a ser agendada, em paralelo com a programação de gravação de vídeos e áudios em apoio ao nome de Cartaxo. O presidente da República, em recentes declarações, tornou visível que pretende se mobilizar nas eleições municipais para fazer frente a candidatos “bolsonaristas”, procurando, por via de consequência, oxigenar candidaturas petistas ou aliadas do PT. Em João Pessoa, apesar de Cartaxo eleger como principal alvo de combate a administração do prefeito Cícero Lucena, do Progressistas, o candidato bolsonarista-raiz é o médico Marcelo Queiroga, que foi ministro da Saúde do governo anterior em plena pandemia da covid-19. Exatamente por causa da replicação da polarização nacional entre lulistas e bolsonaristas, a tendência de Queiroga é bater mais forte no PT. Afinal, somente com a nacionalização da campanha ele logrará atrair de volta ao Estado o ex-presidente Jair Bolsonaro, que aqui já esteve para abençoar sua pretensão.
Quanto à deputada estadual Cida Ramos, seu posicionamento é compreendido por muitos seguidores, mas isto não implica em alinhamento automático na hipótese de menor engajamento à campanha de Cartaxo. O raciocínio dominante entre petistas ligados a Cida é o de que a bandeira do partido vai voltar a tremular na disputa eleitoral e que esta perspectiva exige tomada de posição dentro da estratégia de nocautear a “hidra” que ameaça retornar, personificada pelos remanescentes bolsonaristas que apoiaram narrativas como a do negacionismo e do golpe de Estado, que era um golpe para solapar a democracia no país. Cartaxo terá que ter muita habilidade e competência para lidar com as duas situações – a luta sem quartel contra o bolsonarismo e a gestão à atual administração municipal pessoense. Mas ele parece confiar demasiado na orientação que receberá do seu “guru de luxo” na campanha, o ex-governador Ricardo Coutinho, atualmente radicado em Brasília mas acompanhando, por controle remoto, a conjuntura da Paraíba e influenciando na tomada de decisões, como se verificou, agora, no âmbito do PT.
A verdade é que, em termos concretos, a partir da próxima semana, a cúpula do Partido dos Trabalhadores em nível nacional deverá oferecer as coordenadas da condução do processo de campanha em João Pessoa, uma das últimas, senão a última capital, a ser definida pelo PT. Terá que haver a mobilização de uma força-tarefa, ou, no dizer do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a construção de uma espécie de “concertação ampla” para que a candidatura do deputado Luciano Cartaxo possa decolar com certa velocidade, compensando o longo tempo perdido até agora, praticamente um ano, em meio a acusações internas, indefinições e fogueiras de vaidades que são da essência do petismo. O páreo não será fácil para o PT pessoense – e até então a Capital paraibana não tem sido listada entre aquelas onde o partido tenha chances de vitória. Mas não há caminho de volta, e todas as expectativas estão concentradas no modus operandi de 2024. Afinal, cada eleição é uma eleição, com suas peculiaridades e repercussões.