Nonato Guedes
Com o cenário pré-definido com quatro candidaturas principais às eleições de outubro em João Pessoa, o prefeito Cícero Lucena (Progressistas) mantém-se confiante quanto às suas chances de conquistar um novo mandato e, ao mesmo tempo, se diz preparado para fazer o debate sobre a administração que atualmente empalma e sobre ideias que possam melhorar a oferta dos serviços prestados à população. O gestor não parece ter ficado surpreso com a decisão do Partido dos Trabalhadores de lançar candidatura própria, na figura do deputado estadual Luciano Cartaxo, seu antecessor. Na verdade, a expectativa de apoio a Lucena pelo PT se dava mais no entorno do governador João Azevêdo (PSB), que é parceiro declarado do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cícero deu declarações admitindo que a composição seria bem-vinda, mas não se conhece nenhum movimento de pressão da sua parte para que o PT se sentisse compelido a apoiá-lo.
Além do atual prefeito e do ex-prefeito, a disputa eleitoral terá como protagonistas de destaque o deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, que ficou em terceiro lugar nas eleições de 2020, e o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, do PL, que conta, ostensivamente, com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. A rigor, o figurino não constitui grande novidade para o eleitorado, por reunir pelo menos três políticos carimbados que já foram testados na corrida pelo cargo – o único a ter insucessos foi Ruy Carneiro, que concorreu em 2004, quando compunha a equipe de Cícero Lucena e voltou a cortejar a prefeitura em 2020. Luciano Cartaxo, que governou até a volta de Cícero, credenciou-se dentro do PT ao ganhar a queda-de-braço com a deputada estadual Cida Ramos, que agregou manifestação de apoio de expoentes de tendências majoritárias mas não sensibilizou a cúpula nacional para a sua pretensão. O ex-ministro Marcelo Queiroga, cujo desempenho na Saúde durante a pandemia de covid-19 foi polêmico, é o neófito da temporada, pois pela primeira vez pleiteia um mandato político, depois de estar afastado da Paraíba há décadas.
O enredo sinaliza, à primeira vista, uma polarização entre Cícero Lucena e Luciano Cartaxo, até por causa da estratégia deste de pautar o debate, o tempo todo, no comparativo das gestões que ambos exerceram na vida pública de João Pessoa na história recente. Evidente que, por razões táticas, Cícero deverá se esquivar ao máximo de investir na comparação monótona, mas haverá oportunidades em que ele mesmo precisará buscar esse caminho, ora para responder a provocações, ora para se afirmar em condição melhor do que seu oponente. O calor das ruas é que ditará o tom do confronto que, de algum modo, se tornará inevitável. Afinal, para Luciano Cartaxo, a disputa tem caráter nítido de revanche, tendo em vista que em 2020, com o controle da prefeitura, perdeu a eleição ao indicar sua concunhada e ex-secretária de Educação, Edilma Freire, que nem para o segundo turno passou. Cícero Lucena, apesar de ser um político de espírito cordato, já foi forjado em duros embates com adversários, o que lhe dá cacife para um certo profissionalismo na condução de uma nova campanha em território que ele conhece como poucos.
Os contornos da disputa eleitoral deste ano pela prefeitura de João Pessoa ainda não estão totalmente delineados, inclusive, porque a pré-candidatura de Luciano Cartaxo ainda será confirmada oficialmente pela Executiva Nacional na próxima semana, havendo até agora a indicação do Grupo de Trabalho Eleitoral do partido, presidido pelo senador por Pernambuco Humberto Costa. Não está claro, ainda, o tamanho das defecções previstas no âmbito do Partido dos Trabalhadores e que podem envolver formas sofisticadas de desengajamento na estratégia para escape a punições legais eventualmente assestadas no curso da disputa. Alguns dirigentes petistas estão falando que precisarão dedicar-se as outras campanhas igualmente importantes no resto do Estado e que, sendo assim, se dividirão por municípios bem distantes do eixo geográfico da Capital paraibana. Luciano Cartaxo, a respeito da ameaça de desengajamento, já avisou que não pretende levar ninguém “amarrado” ao seu palanque. Na verdade, a fase ainda está sendo de decantação interna no Partido dos Trabalhadores – e a desvantagem é que o PT já perdeu tempo demais, até agora, entretido nas polêmicas sobre quem representaria a candidatura própria ou se vingaria a hipótese de apoio à reeleição de Cícero.
Os interlocutores do atual prefeito que evitam assumir um clima de enfrentamento com o PT, mostram-se otimistas com relação ao peso da influência que o governador João Azevêdo (PSB) possa vir a ter no cenário de João Pessoa, até em virtude da ofensiva administrativa que ele intensificou na Capital em estreita sintonia com a administração do prefeito Cícero Lucena. Ressaltam, em última análise, que Cícero chegará à fase de campanha propriamente dita com um portfólio de obras e serviços, o que constituirá trunfo adicional para consolidar a sua operosidade como administrador de João Pessoa e seu preparo para fazer face aos grandes desafios que tendem a surgir, na proporção do crescimento populacional e das demandas de desenvolvimento que estarão no radar. O ambiente, a dados de hoje, é de surpreendente calmaria, apesar dos sobressaltos de bastidores. Mas todos sabem que com o apito do jogo a dinâmica será outra – e o resultado pode se tornar até imprevisível para quem aposta em eleições.