Nonato Guedes
A postura do governador João Azevêdo, líder maior do PSB na Paraíba, quanto à decisão do PT de lançar a candidatura do deputado estadual Luciano Cartaxo a prefeito de João Pessoa, é de serenidade, dentro do ponto de vista de que não faz diferença nenhuma no sentido de afetar o projeto de candidatura à reeleição do prefeito Cícero Lucena (PP), que ele apoia. Além de considerar que a opção por Cartaxo partiu de um grupo minoritário nas hostes petistas, o chefe do Executivo avalia que a postulação de Cícero Lucena está bem colocada já há algum tempo, agrega apoios no segmento de esquerda e é favorecida pelo fato de que o alcaide empreende “uma grande gestão”. Em declarações à imprensa, o governador lembrou a parceria bem-sucedida que desenvolve com o atual mandato de Cícero, proporcionando benefícios e investimentos para a Capital e uma relação harmoniosa como poucas vezes se viu na história política local.
O governador reiterou que jamais interferiria ou se envolveria em polêmicas sobre decisões de outros partidos, por ter noção exata dos seus espaços políticos e institucionais. Isto confere, na prática, com o comportamento adotado desde a abertura da temporada pré-eleitoral, pois não se tem conhecimento de qualquer movimento de João Azevêdo junto à cúpula nacional petista ou ao próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem tem abertura, para influenciar no rumo dos acontecimentos. É possível que tenha havido a expectativa de uma composição com o PT, reforçada pela manifestação de expoentes petistas favoráveis à aliança em torno de Cícero Lucena. Além do mais, o PT faz parte da base do governador João Azevêdo na Assembleia Legislativa, inclusive ocupando espaços na administração. “O PT tem um grupo de pessoas que entendem claramente que o caminho teria sido o apoio à reeleição do prefeito Cícero Lucena, no entanto, há um grupo minoritário que não entende assim”, reagiu o governante. Esse “grupo minoritário”, influente junto à Executiva Nacional, é liderado pelo ex-governador Ricardo Coutinho.
O próprio Luciano Cartaxo, já na condição de candidato ungido pela cúpula nacional, tem dado declarações apostando num virtual apoio do PSB à sua candidatura em segundo turno, o que indica que ele não acredita nas chances do prefeito Cícero Lucena de estar numa rodada decisiva – hipótese que não é levada a sério, até agora, nem por outros adversários do atual administrador pessoense. “O povo é quem vai discutir a conjuntura e decidir, através do voto, o que acha das posições tomadas”, previne o governador João Azevêdo. Desde o início do processo sabia-se, no entorno do governador, que não seria fácil a composição com o PT, dada a influência avassaladora de Ricardo Coutinho, que quer distância de João Azevêdo e de Cícero Lucena. Mas a bandeira da candidatura própria emplacou no PT à custa de racha e divergências que deverão eclodir com intensidade no curso da campanha propriamente dita, podendo prejudicar a aglutinação de forças perseguida por Luciano Cartaxo para dar viabilidade ao seu projeto.
Assessorado por Ricardo Coutinho, convertido de uma hora para outra em “guru de luxo” de alguns petistas na Paraíba e em líder com cacife na cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores, Cartaxo movimenta-se nas últimas horas para quebrar a espinha dorsal da Federação formada, ainda, pelo PV e PCdoB, mediante estratégia para assegurar o apoio desses dois partidos, bem como incorporar o Rede e outros agrupamentos mais ideológicos. Na sua própria concepção, já revelada a jornalistas, será uma “frente ampla de esquerda” que, teoricamente, teria unidade e condições objetivas para fazer frente ao bolsonarismo, que estará representado na disputa pelo ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pré-candidato pelo PL. A perspectiva de uma candidatura própria ganhou respaldo justamente em cima do argumento da “concertação” contra os remanescentes bolsonaristas, que em João Pessoa estarão bastante ativos na campanha municipal deste ano.
Nos últimos dias circulou uma informação, divulgada pelo jornal “O Globo”, dando conta que o PT de João Pessoa tentou espaço na chapa de Cícero Lucena indicando o candidato a vice para o segundo mandato, mas não obteve êxito, o que teria incentivado a articulação pela candidatura própria. Se houve ou não sondagens com vistas a esse entendimento não há confirmação oficial. O que se sabe, desde a deflagração dos entendimentos de bastidores, é que a chapa apoiada pelo governador João Azevêdo permaneceria composta por Cícero Lucena e pelo atual vice-prefeito Léo Bezerra. A manutenção de Léo já foi, em si mesmo, uma estratégia para contemplar o PSB e estancar ensaios que pipocaram na direção da defesa de uma candidatura própria socialista à prefeitura de João Pessoa. O governador João Azevêdo contornou as ambições internas com acenos de melhor acomodação futura mas em momento algum recuou do seu compromisso com a candidatura do prefeito Cícero Lucena. Ora, se não havia espaço para o próprio PSB na cabeça de chapa, a despeito dos quadros que possui, também não haveria espaço para o PT, o que inviabiliza, de certa forma, a versão espalhada por “O Globo”. O cenário, portanto, será de confronto inevitável entre PT e PSB, apesar da aliança nacional existente entre os dois partidos para a governabilidade da gestão Lula.