Nonato Guedes
Empenhado em avançar para o segundo turno e tentar vencer as eleições para prefeito de João Pessoa, o Partido dos Trabalhadores dá curso à estratégia para se fortalecer internamente, apostando na formação de uma chapa ‘puro-sangue’ que seria encabeçada pelo deputado estadual Luciano Cartaxo, já praticamente ungido pré-candidato pela Executiva Nacional. Cotada para compor a chapa como candidata a vice, a empresária Amanda Rodrigues, esposa do ex-governador Ricardo Coutinho, deu um passo, ontem, para se habilitar à indicação, com sua exoneração do cargo de diretora de programa da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, em Brasília, que ocupava desde o mês de fevereiro. Ela admitiu a jornalistas que poderá ser a vice de Cartaxo ou cumprir outras missões, deixando claro que fará a defesa do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa.
Com o afastamento da função pública, faltando três meses para o primeiro turno do pleito, Amanda está disponível, legalmente, para concorrer. O deputado Luciano Cartaxo revelou que Amanda Rodrigues, ex-secretária de Fazenda do Estado, é uma das opções qualificadas para integrar a sua chapa, dada a colaboração valiosa que poderá emprestar à administração pessoense. Salientou que os entendimentos estão se ultimando e que o seu projeto é o de unir tendências e movimentos setoriais do PT para uma campanha competitiva à sucessão do prefeito Cícero Lucena, do PP, que é apoiado diretamente pelo governador João Azevêdo (PSB). Desde que se reaproximou da liderança do ex-governador Ricardo Coutinho, Cartaxo tem pavimentado seu projeto de poder dentro do PT sem maiores problemas até aqui, ressalvada apenas a resistência de um grupo que preferia o nome da deputada estadual Cida Ramos como cabeça de chapa.
Os presidentes estadual do PT, Jackson Macedo, e municipal, Marcos Túlio, ensaiaram reações à intervenção do Diretório Nacional, presidido pela deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) no processo eleitoral de João Pessoa, mas não encontraram guarida para os protestos e tiveram que acatar a pré-indicação de Cartaxo, embora não ofereçam garantia de engajamento mais efetivo à mobilização eleitoreira. Na verdade, o estatuto do PT confere à direção nacional o poder de decisão referente a candidaturas em Capitais e centros urbanos avaliados como importantes pela legenda. A imposição joga às favas a chamada democracia interna, reclamada por militantes petistas como exemplo de diferença de atuação no comparativo com outros partidos. Mas a cúpula nacional tem demonstrado que optou pelo pragmatismo nas definições sobre eleições municipais, dentro da estratégia de acumular forças para derrotar candidatos bolsonaristas remanescentes.
O deputado estadual Luciano Cartaxo, que tem uma trajetória oscilante nos quadros do Partido dos Trabalhadores desde quando abandonou a sigla quando do estouro do escândalo do mensalão a pretexto de não se desgastar, recuperou espaços de influência com o apadrinhamento ostensivo do ex-governador Ricardo Coutinho, que entrou em campo para evitar uma adesão do PT à candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição. Prosperou, então, como espécie de mantra, a tese da candidatura própria, que foi desrespeitada na eleição de 2020 pelo próprio líder maior Luiz Inácio Lula da Silva, com o sacrifício da pretensão do deputado estadual Anísio Maia. Cartaxo adquiriu a preferência por ter se mostrado alinhado com o comando de Ricardo Coutinho e pelo “recall” que lhe é atribuído em face de duas administrações que empalmou à frente da prefeitura da Capital paraibana. Foi com esse respaldo que ele nocauteou a deputada Cida Ramos, a partir do cancelamento de prévias nas quais a parlamentar se inscrevera, por parte do Grupo de Trabalho Eleitoral Nacional do PT.
Os movimentos subsequentes foram todos direcionados no sentido de privilegiar a ambição do deputado Luciano Cartaxo, incluindo-se o anúncio de realização de pesquisa de opinião pública cujos números não chegaram a ser publicizados até em virtude do pretexto de que ela se destinava ao consumo interno – equivale dizer, às análises e discussões dos dirigentes e filiados do Partido dos Trabalhadores. O que acabou pesando mesmo, favoravelmente, para o deputado Luciano Cartaxo, foi a sua articulação de bastidores junto ao ex-governador Ricardo Coutinho, que, por sua vez, mostrou entrosamento com a cúpula nacional petista e preservação de canais de interlocução com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A confirmação do nome de Amanda Rodrigues deverá coroar a tática que foi posta em prática para beneficiar o ex-prefeito Luciano Cartaxo. O passo seguinte será a definição da logística de campanha, que tentará envolver diretamente o presidente Lula no palanque, mesmo que ao custo do confronto com um outro aliado seu na Paraíba, o governador João Azevêdo, que é o patrono da candidatura de Cícero Lucena em busca de um novo mandato.