Nonato Guedes
A plenária realizada pelo agrupamento que apoia a pré-candidatura do deputado estadual Luciano Cartaxo a prefeito de João Pessoa pelo Partido dos Trabalhadores, no final de semana, foi um indicativo das dificuldades que o postulante enfrenta para reunificar a legenda para reforçar seu projeto. Houve comparecimento expressivo, mas foram notadas as ausências de líderes como a deputada Cida Ramos, que disputou com Cartaxo a indicação e de dirigentes como Jackson Macedo, presidente estadual, e Marcus Túlio, presidente estadual. As defecções foram supridas, em parte, pela presença do ex-governador Ricardo Coutinho, que voltou em grande estilo ao palco político-eleitoral em João Pessoa e que foi o principal artífice da imposição de Cartaxo, consumada pela Executiva Nacional presidida pela deputada Gleisi Hoffmann.
Em declarações à imprensa, o deputado Luciano Cartaxo demonstrou ter consciência das dificuldades para a recomposição da unidade interna. Mas ele foi bastante enfático ao dizer que não poderá dar prioridade a essa agenda porque superar a perda de tempo na montagem da sua campanha, tendo em vista que o impasse nas hostes internas do PT arrastou-se além da conta, desmobilizou filiados e militantes e contribuiu para que o deputado fosse, praticamente, o último pré-candidato a ser confirmado no páreo. Na verdade, os problemas logísticos decorreram de erro estratégico da direção nacional na condução do processo referente à Capital paraibana. O jogo de intriga, nos bastidores, desviou as energias para a costura de unidade interna ou, minimamente, de consenso em torno da decisão que acabou prevalecendo. O próprio ungido, Luciano Cartaxo, não se esforçou quase nada para se compor com a rival, Cida Ramos, em acenos para o dia seguinte à batida do martelo que acabou sendo prerrogativa da cúpula nacional. De resto, não houve amplitude de debate interno, inclusive, com a apresentação de propostas e perfis para comparativo pelos próprios filiados em torno das credenciais decisivas na opção.
A discussão foi tão enviesada no âmbito do Partido dos Trabalhadores que a força-tarefa arregimentada em prol da candidatura de Cartaxo foi improvisada para impedir, em caráter de urgência, que em meio ao impasse os diretórios locais acabassem avalizando uma aliança em apoio à candidatura do prefeito Cícero Lucena (Progressistas) à reeleição. Foi este ponto em comum que levou o ex-governador Ricardo Coutinho a agir pragmaticamente, arquivando divergências, rusgas e ressentimentos com Luciano Cartaxo e adotando-o como melhor alternativa para dar um palanque ao PT na luta contra os bolsonaristas, que estão representados em João Pessoa por um ex-ministro de Jair Bolsonaro, o médico Marcelo Queiroga, do PL, que foi titular da Pasta da Saúde. Para os apoiadores de Cartaxo, Cícero não seria confiável do ponto-de-vista da bandeira anti-bolsonarista, apesar de apoiado ostensivamente pelo governador João Azevêdo, primeiro governador a declarar apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.
O candidato “in pectoris” da cúpula nacional do PT, e do próprio presidente Lula, para concorrer à prefeitura de João Pessoa, não é infenso à ideia da reaglutinação de forças, até porque não pode desconhecer a trajetória de figuras como a deputada Cida Ramos dentro da legenda e do segmento de esquerda na Paraíba. Mas ele está convencido de que tem desafios a vencer na jornada e precisa atuar em múltiplas frentes para se fortalecer e corresponder à expectativa que a cúpula nacional está depositando em seu nome. A responsabilidade que Cartaxo tem de demonstrar que é viável nas urnas é enorme – e ele se apega, de forma abstrata, à tese do “recall” positivo de duas administrações que já empalmou à frente da edilidade pessoense. Mas esse “recall” pode ser uma faca de dois gumes, ou seja, tanto pode favorecê-lo no julgamento plebiscitário que busca como pode defenestrá-lo da posição de liderança. Ricardo Coutinho, seu grande padrinho na versão 2024, sentiu na pele o efeito bumerangue da política, ao perder uma eleição a prefeito, depois de ter deixado consagrado o governo do Estado, e acumular, na sequência, derrota a uma vaga de senador, em 2022.
No contexto que se ensaia para a disputa eleitoral deste ano a prefeito de João Pessoa há fatores externos que podem produzir um desfecho imponderável no confronto com expectativas triunfalistas alimentadas por postulantes. Um desses fatores é, sem dúvida, a mobilização intensa que o prefeito Cícero Lucena passou a imprimir à agenda de inauguração de obras e entrega de serviços de grande repercussão ou alcance para a população pessoense. Nessa cruzada o prefeito conta com um aliado valioso, o governador João Azevêdo, que tem investido na massificação da parceria como receita bem-sucedida para fazer avançar o desenvolvimento de João Pessoa rimo ao futuro. Há que reparar, também, na curva de desempenho que terá o candidato Marcelo Queiroga, do PL, como expoente legítimo dos remanescentes bolsonaristas na Paraíba. Queiroga poderá se beneficiar dos reflexos de uma provável polarização ideológica nacional, se isto vier a se concretizar. Enfim, Cartaxo, que fez de tudo para escapar de prévias no PT, hoje é refém de pesquisas para avaliar seu fôlego na corrida. São as pesquisas que irão balizar se a performance do deputado petista será promissora ou se constituirá em fiasco para o PT, a despeito de todo o investimento que a cúpula nacional fez no seu nome.