Nonato Guedes
O ex-ministro e ex-deputado federal José Dirceu, que foi fundador e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, analisou, em artigo publicado no “Congresso em Foco”, a nova realidade enfrentada pelo Nordeste, marcada, a seu ver, por investimentos e pela redução da pobreza. “É bem verdade que o Nordeste ainda concentra quase a metade da pobreza do país – 45% das pessoas pobres, equivalentes a 27,5 milhões, vivem na região – mas não só vem melhorando seus indicadores como caminha a passos largos para desenhar um novo cenário. Hoje, é exportador de frutas e grãos, seu turismo cresce a cada dia, é autossuficiente em energia limpa a partir do parque eólico e solar em expansão acelerada e seu crescimento está 50% acima da média nacional”, destacou. Ele se referiu, ainda, à importância do papel desempenhado pelo Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Nordeste, que já foi presidido pelo governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB) e atualmente é dirigido pela governadora Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte.
José Dirceu, que é tido como um dos mais conceituados teóricos do Partido dos Trabalhadores, independente de acusações sofridas no passado como o envolvimento no escândalo do mensalão, ressalta que no primeiro trimestre de 2024 o Nordeste cresceu 3,2% e tem uma posição privilegiada para exportar para a Europa, a Ásia e os Estados Unidos, pois conta com vários portos. “Basta viajar pelo Nordeste para constatar as mudanças. É visível a expansão do turismo, do agronegócio, na região conhecida como Matopiba (região formada basicamente por áreas de cerrado nos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia e onde se planta grãos e fibras), de sua rede de rodovias e ferrovias, de sua fruticultura e mesmo de sua indústria, como os setores de confecções, calçados e artesanato”, testemunhou ele, acrescentando: “A presença do governo federal é marcante: 40% dos investimentos do PAC, ou seja, R$ 688 bi, serão destinados ao Nordeste. A região também receberá 80% dos investimentos da transição energética e vai se beneficiar do programa Nova Indústria Brasil, que adota uma visão de integração regional e do programa Acredita, que visa apoiar as pequenas e médias empresas e empreendedores para estimular a inclusão produtiva”.
Relata o ex-ministro que os Estados do Nordeste estão avançados em pesquisa e produção de hidrogênio verde, que promete revolucionar a indústria e o transporte mundiais. E que a união dos nove Estados da região, com a criação do Consórcio Nordeste, fortaleceu a cooperação entre eles e deu visibilidade internacional à iniciativa. Duas missões do Consórcio, com a participação de representantes de todos os Estados, foram à Europa buscar investimentos e oportunidades de negócios para a região, aumentando a capacidade de inclusão social e produtiva. Informa, ainda, que como resultado da primeira missão do Consórcio Nordeste à Itália, onde foi assinado acordo de cooperação com o presidente do FIDA, o BNDES está desenvolvendo o projeto Sertão Vivo, em parceria com o Consórcio Nordeste e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola para projetos no semiárido nordestino. O projeto já foi lançado em Pernambuco, onde serão aplicados R$ 299 milhões que vão beneficiar 75 mil famílias de agricultores. No total, serão investidos R$ 1,8 bi, para o atendimento em toda a região de cerca de 500 mil famílias, aproximadamente dois milhões de pessoas.
De acordo com José Dirceu, na vanguarda do desenvolvimento nordestino estão o Banco do Nordeste e o Consórcio Nordeste dos nove Estados. O BNB é responsável por 49% do crédito rural e 90% da agricultura familiar, que envolve 1,8 milhão de famílias. Esses agricultores precisam de crédito, de apoio para a extensão rural, de acesso à tecnologia para desenvolver uma agricultura orgânica e produzir alimentos essenciais para a mesa das famílias nordestinas e brasileiras. E, assim, tirar, definitivamente, o Nordeste, do mapa da fome e da pobreza. “Ainda há muito a ser feito para se chegar lá. O Nordeste responde por 60% do contingente de pessoas em situação de pobreza extrema em 2023, segundo estudo desenvolvido pelos pesquisadores Flávio Ataliba Barreto, João Marcos França e Vítor Hugo Miro, publicado no Blog do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV) no dia 11 deste mês. Esse contingente era de 9,5 milhões de pessoas. Mas foi o Nordeste que apresentou a maior redução absoluta no número de pessoas pobres entre 2012 e 2023, período coberto pela pesquisa que usou os dados da PNAD Contínua do IBGE.
No mesmo período, também recuou o número de pessoas em extrema pobreza no Nordeste. “O estudo confirma a rápida resposta, com a queda dos índices de pobreza extrema e de pobreza, às políticas de transferência de renda”, considera José Dirceu. O ex-ministro acha que o pior ano da série em termos de pobreza foi exatamente o de 2021, quando o governo Bolsonaro acabou com o auxílio emergencial sem instituir nenhuma outra política de transferência de renda. Entre as prioridades de investimento do BNB, Dirceu aponta a universalização do saneamento básico e abastecimento de água e a transição ecológica, com o hidrogênio verde e o cimento verde. E diz que, para dar conta da expansão da economia da região, a infraestrutura rodoviária e ferroviária precisa crescer. “Mas está claro que há direção política e integração entre o Consórcio de Governadores e o governo federal e que o papel do BNB é fundamental, bem como é certo que o Nordeste caminha para apagar de vez o preconceito contra seu povo e a imagem de dependência da assistência social, fermentados no caldeirão das fake news produzidas pelo bolsonarismo”, conclui.