Nonato Guedes
Versões que circularam nas últimas horas dão conta de articulações que o governador João Azevêdo (PSB) passou a empreender com vistas a tentar unificar a oposição em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, para derrotar nas próximas eleições o esquema do prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil), que pleiteia um novo mandato com o apoio dos senadores Efraim Filho e Veneziano Vital do Rêgo (MDB), dentre outros líderes políticos. O PSB do governador tem um pré-candidato lançado, o ex-secretário de Saúde do Estado, Jhony Bezerra, que, inclusive, realizou plenárias do partido na Rainha da Borborema e tem intensificado o diálogo com forças atuantes do bloco oposicionista. Mas toda a movimentação ocorre em meio a uma incógnita: a confirmação, ou não, da candidatura do deputado federal Romero Rodrigues (Podemos) a prefeito, novamente.
O bloco oposicionista reúne, ainda, Rosália Lucas e Eva Gouveia, que foram disponibilizadas pela senadora Daniella Ribeiro, do PSD, como opções para encabeçar ou compor chapa, André Ribeiro, do PDT e o deputado Inácio Falcão, que já se lançou pré-candidato a prefeito pelo PCdoB. O pré-candidato Jhony Bezerra vinha tentando atrair o apoio do PT em Campina Grande, mas há articulações da Federação de esquerda para uma aliança entre PT e o deputado Inácio Falcão. Nesse contexto, Romero Rodrigues, que já governou a cidade por duas vezes e que tem estado distanciado do prefeito Bruno Cunha Lima, aparentemente emite sinais cada vez mais fortes de que pode entrar no páreo, não tendo ficado claro, ainda, com quem ele cogita se aliar. Desde o ano passado, Romero mantém um suspense sobre suas pretensões e, mais ainda, sobre sua posição em relação ao prefeito Bruno, a quem apoiou em 2020, dando margem a uma série de especulações em torno de possível “reentrée” no cenário eleitoral campinense.
A indefinição em torno do posicionamento do ex-prefeito e atual deputado federal chegou, praticamente, a paralisar o avanço do processo de discussão de alianças, tendo em vista a influência que ele exerce, até por laços familiares, junto ao “clã” Cunha Lima, que tem como líderes principais o ex-governador Cássio e seu filho, o ex-candidato a governador Pedro Cunha Lima, e expoentes do nível do deputado estadual Tovar Correia Lima. Da parte de emissários de Bruno, houve sucessivas tentativas de reaproximar Romero dele, sem qualquer evolução, em tese. Também da parte da oposição local, sobretudo, de políticos liderados pelo governador João Azevêdo ou a ele vinculados, houve até ofertas de cabeça de chapa a Romero, como ocorreu por parte do Republicanos, cujo diretório municipal é presidido pelo deputado federal Murilo Galdino, irmão do presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Adriano Galdino. Mais recentemente, os Galdino demonstraram desinteresse em continuar cortejando Rodrigues. O deputado Adriano chegou a qualificar a indefinição dele como “novela” mexicana. Também o governador João Azevêdo sinalizou que não havia mais o que conversar com Romero e passou a apostar fichas no nome de Jhony Bezerra.
Pelo tom das declarações atualizadas de liderados do governador João Azevêdo, a pré-candidatura do médico Jhony Bezerra segue mantida, concentrando-se os esforços, agora, na atração de outros integrantes da oposição para apoiá-lo. O deputado Adriano Galdino, que, no início, havia dito não enxergar maiores chances eleitorais de Bezerra, que é um neófito na política, já admite que ele avançou na ofensiva e tem melhorado a sua estratégia de penetração junto a segmentos importantes do eleitorado de Campina Grande. Mas o que se sabe é que o ‘fator Romero’ mantém-se como um fantasma ameaçador na disputa campinense, tanto de um lado como de outro, e que por isso os respectivos esquemas políticos envolvem-se numa queda-de-braço de bastidores para atraí-lo de alguma forma na disputa, prevendo um acirramento na hipótese de ingresso do ex-prefeito, novamente, na campanha, como protagonista. No paralelo, o governador João Azevêdo procurou se fortalecer e fortalecer o seu esquema através da entrega de obras públicas de repercussão à população campinense, acenando com a perspectiva de uma parceria de resultados para a cidade na hipótese de vitória do seu esquema.
A sensação, entre os analistas políticos e parcelas do eleitorado de Campina Grande, é a de que a hora da verdade está se aproximando, principalmente quanto a uma definição sobre o papel do deputado Romero Rodrigues no processo de 2024. O prefeito Bruno Cunha Lima tem se mostrado resiliente em face das especulações e em nenhum momento cogitou ou admitiu renunciar ao direito de concorrer à reeleição para o executivo campinense. Pelo contrário, nos últimos meses, Bruno socorreu-se do apoio estratégico de parlamentares como Efraim Filho e Veneziano Vital do Rêgo para conseguir empréstimo e assegurar outras fontes de recursos para investimentos deflagrados na Rainha da Borborema. O desfecho da equação em Campina mobiliza a atenção de todo o Estado, pelo peso relevante que a cidade tem na realidade paraibana e pela relevância dos atores e grupos políticos que se enfrentam desde agora, nas preliminares, pelo controle da prefeitura local.