Nonato Guedes
Uma reportagem do “Poder360” revela que os congressistas nordestinos e nortistas dominam os cargos de liderança na Câmara e no Senado e têm influenciado as ações do Poder Legislativo. O seleto grupo, inclusive, articula as eleições para o comando das duas Casas em 2025, na sucessão, respectivamente, de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no Senado. Na Câmara, dois dos principais cotados para suceder Arthur Lira são baianos: Elmar Nascimento, do União Brasil, e Antonio Brito, do PSD. No Senado, o nortista Davi Alcolumbre, do União Brasil do Amapá, é o favorito para substituir Rodrigo. Alcolumbre já presidiu o Senado – e a ascensão regionalista na hierarquia de poder em Brasília coincide com o retorno do líder Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem origens em Pernambuco, à Presidência da República.
Do outro lado do “front” político, o ex-ministro Rogério Marinho (PL-RN) é o líder da Oposição no Senado e um dos principais nomes contra o governo do presidente Lula. Dentre os nove Estados do Nordeste, de acordo com o levantamento do “Poder360”, Alagoas concentra grande influência no Congresso, apesar de figurar entre as menores populações do Brasil. No Norte, é o Amapá quem movimenta as disputas políticas no Poder Legislativo. Segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Amapá tem a segunda menor população entre as vinte e sete unidades federativas do Brasil, com 733,7 mil habitantes. Por sua vez, Alagoas contas com a nona menor população, com 3,1 milhões de habitantes. O protagonismo político do Amapá envolve o provável futuro presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o líder do Governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, que está sem partido e é representante pelo Amapá.
Os dois congressistas buscaram se aliar momentaneamente para tentar emplacar a candidatura de Josiel Alcolumbre, irmão de Davi, na disputa pela prefeitura de Macapá. Segundo indicam as pesquisas, a capital amapaense deve ficar novamente sob o comando do atual prefeito, Dr. Furlan, do MDB, que apresenta larga vantagem perante os outros pré-candidatos. No Amapá, Davi e Randolfe são aliados do atual governador Clécio Luís, do Solidariedade, mas a relação dos congressistas sofreu turbulência no fim de 2023 quando o líder do Governo no Congresso se incomodou por não ter sido chamado para participar de reuniões marcadas por Davi com o presidente Lula. Já em Alagoas, a principal rivalidade se concentra entre Lira e o senador Renan Calheiros, do MDB, que já presidiu o Senado e é considerado o nome mais viável no momento para tentar disputar o cargo contra Alcolumbre em 2025. Lira é aliado do atual prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, do PL, que compõe o núcleo político adversário de Renan Calheiros.
No início do ano, o senador era nome certo para ser o relator da CPI da Braskem, idealizada com o objetivo de apurar o envolvimento da companhia no afundamento do solo no Estado alagoano. No entanto, mesmo tendo recolhido as assinaturas necessárias para abrir a Comissão, não foi escolhido. Na época, Renan assim desabafou a respeito: “Mãos ocultas, mas visíveis, me vetaram na relatoria”. Versões indicam que Calheiros atribui responsabilidade sobre o desastre à JHC e, indiretamente, a Lira. O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, o nortista Omar Aziz, do PSD do Amazonas, avaliava que seria necessário um nome “mais neutro” para tocar o andamento das investigações, tendo sido escolhido, então, o nordestino Rogério Carvalho, do PT-SE. A disputa política também está presente na Câmara, onde Arthur Lira vetou o deputado Isnaldo Bulhões Jr, do MDB-AL entre os integrantes do Centrão para sucedê-lo como presidente da Casa. Os dois grupos políticos são rivais em Alagoas.
Além de Elmar, Brito e Isnaldo, o deputado Marcos Pereira, de São Paulo, presidente do Republicanos, busca aliados para se tornar o próximo presidente da Casa. O “Poder360” apurou que congressistas do Sudeste, com pouco espaço atualmente, articulam a candidatura do paulista. A bancada do Sudeste se irritou com o fato de não ter nenhum representante de São Paulo entre os integrantes do grupo de trabalho do PLP 68 de 2024, o principal para a regulamentação da reforma tributária. “Com exceção do relator que foi designado agora, o deputado Reginaldo Lopes, que é de Minas Gerais e fez um belo trabalho, não tenho dúvida disso, o fato é que Sul e Sudeste, que representam a maior parte do PIB e da população, não estavam presentes neste grupo de trabalho”, afirmou a deputada Adriana Ventura, do Novo-SP, antes da votação do projeto no último dia 10 de julho. Já o deputado Gilson Marques, do Novo-SC, criticou especificamente a falta de um integrante de São Paulo, “o Estado que mais arrecada no Brasil”. Dentre os sete integrantes do grupo de trabalho que analisou o projeto, cinco eram do Nordeste, um do Norte e um do Sudeste. No que diz respeito, ainda, à corrida pela presidência da Câmara dos Deputados e à predominância de nordestinos no páreo, vale um registro: o deputado federal Hugo Motta, do Republicanos da Paraíba, chegou a figurar nas cogitações iniciais. Mas ele mesmo deixou claro que em nenhuma hipótese iria atropelar ou tentar se confrontar com o presidente nacional do partido, Marcos Pereira, reconhecendo que atesta primazia ao representante paulista para entrar no páreo, se assim indicarem as articulações de bastidores.