Nonato Guedes
Nada está decidido sobre a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no palanque do deputado estadual Luciano Cartaxo, pré-candidato do Partido dos Trabalhadores a prefeito de João Pessoa. Segundo informações do “Antagonista”, apesar da pressão de setores do PT o presidente deverá limitar a sua presença nos atos de lançamento de candidaturas a prefeito no país. Cartaxo, um dos últimos pré-candidatos a se lançar na capital paraibana, torce para que Lula esteja, pelo menos, no seu palanque, já no primeiro turno, acreditando que isto alavancaria a sua estratégia de crescimento, e conta com a influência e o prestígio do ex-governador Ricardo Coutinho junto ao líder maior para que isto aconteça. A mulher de Ricardo, Amanda Rodrigues, foi anunciada na vice de Luciano e desincompatibilizou-se de cargo no Ministério da Saúde para cumprir exigências da lei.
Três aliados do presidente Lula na Paraíba apoiam candidatos diferentes nas eleições de João Pessoa: Ricardo está com Cartaxo, o governador João Azevêdo (PSB) apoia o projeto do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), vice-presidente do Senado Federal, defende a candidatura do deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos. Nas eleições de 2022, Veneziano chegou a ter o apoio, no primeiro turno, do então candidato a presidente na condição de candidato a governador, inclusive, convencendo-o a participar de um evento público expressivo na cidade de Campina Grande. No segundo turno, quando Veneziano aderiu ao candidato do PSDB, Pedro Cunha Lima, Lula declarou apoio à reeleição de João Azevêdo. Veneziano, ultimamente, tem se aliado a partidos e candidatos que não têm propriamente afinidades com o PT, mas Lula procura relevar esse comportamento devido à fidelidade do senador nas votações no Congresso Nacional e na interlocução de assuntos de interesse do Palácio do Planalto. Com isto, Veneziano tem furado a “bolha” do entorno de esquerda que gravita em torno de Lula e circula, com desenvoltura, por segmentos ao centro e à direita, sem perder o “status” no Palácio do Planalto.
Pelo menos no período das convenções que já estão ocorrendo, Lula tem ficado restrito em termos de presença. No sábado, ele participou da solenidade de confirmação da candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) a prefeito de São Paulo e estava prevista sua participação apenas em outro ato, o de lançamento da candidatura do deputado Evandro Leitão, aliado de Cid Gomes, em Fortaleza. “A tendência é que o petista mande apenas representantes nas demais capitais”, revela “O Antagonista” em matéria intitulada “Quem são os queridinhos de Lula na disputa municipal de 2024?”. Na convenção que confirmou Boulos em São Paulo, Lula fez questão de tentar nacionalizar a disputa e fazer um paralelo entre o candidato dele e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), apoiado por Jair Bolsonaro. “Você pode ter certeza que você conta com o meu apoio em qualquer momento. Não se deixe levar pelas mentiras, não aceite provocações”, disse ele a Boulos. Para o petista, “é preciso evidenciar quem está com os outros candidatos”. Lula foi enfático: “Nunca mais a extrema direita, os fascistas, os nazistas, os negacionistas, os mentirosos vão voltar a comandar este país ou esta cidade”. O PT joga todas as fichas na eleição de Boulos por recomendação expressa de Lula, tendo deixado de lançar candidatura própria pela primeira vez na capital paulista.
Para o deputado estadual Luciano Cartaxo, a presença de Lula no seu palanque teria uma dupla vantagem: calaria petistas recalcitrantes que ainda não assumiram ou encamparam a sua pré-candidatura, depois que ele derrotou a deputada Cida Ramos na queda-de-braço junto à cúpula nacional para a indicação na Capital paraibana e poderia credenciá-lo em definitivo no rol de políticos que apoiam outros nomes. A sacramentação de Cartaxo, até aqui, tem sido quase uma nomeação, dado que prévias foram canceladas, pesquisas anunciadas não foram confirmadas e o Grupo de Trabalho Eleitoral, juntamente com a cúpula nacional presidida pela deputada Gleisi Hoffmann, deram o aval ao parlamentar para ser ungido. Todo o trabalho de mobilização nos bastidores foi executado pelo ex-governador Ricardo Coutinho, que ultimamente estava radicado em Brasília, e que, por estratégia política, reaproximou-se de Cartaxo, a quem combateu no passado, para tentar pavimentar o terreno para a sua própria reabilitação política – dizem que nas eleições de 2026. A vinda de Lula seria, então, o coroamento da estratégia do ex-prefeito.
Não há nenhuma confirmação de que Cartaxo esteja de fora entre os “queridinhos” do presidente Lula nas eleições municipais deste ano, apesar do consenso de que o parlamentar não é assimilado como um petista “quimicamente puro”. Afinal, quando estourou o escândalo nacional do mensalão, Cartaxo, que era prefeito de João Pessoa, pulou do barco do PT para não se queimar e refugiou-se no PSD, com passagem pelo PV, até voltar às suas origens, disputando em 2022, novamente, uma cadeira na Assembleia. O problema é que a agenda prioritária de Lula contemplará os grandes centros urbanos, na perspectiva de reeditar o confronto com o bolsonarismo e acumular forças para 2026, quando o presidente deve concorrer à reeleição. De resto, Lula nem sempre conseguiu transferir votos maciçamente para candidatos que apoiou na Paraíba. Em 2020, mesmo com o PT tendo a candidatura própria de Anísio Maia, ele declarou simpatia por Ricardo Coutinho, que era do PSB, e que não logrou mais triunfar. Sequer foi ao segundo turno, que acabou polarizado entre Cícero Lucena e Nilvan Ferreira (ex-PL, hoje Republicanos).