Nonato Guedes
O senador Efraim Filho, dirigente estadual do União Brasil, mobiliza-se incansavelmente para equacionar o impasse que eclodiu na sucessão municipal em Campina Grande, onde o deputado federal e ex-prefeito Romero Rodrigues, do Podemos, aparentemente ensaia preparativos para consumar o rompimento com Bruno Cunha Lima, pré-candidato à reeleição, como parte da suposta estratégia para se viabilizar novamente como postulante ao cargo. Enquanto o também senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que também apoia Bruno, já sinalizou nas últimas horas irritação com o que chamou de “lenga-lenga”, referindo-se ao suspense que Romero mantém sobre sua decisão final, Efraim age com paciência de monge tenta reaproximar os dois políticos que estiveram no mesmo palanque em 2020 e que compartilharam o palanque de 2022, neste último com o representante do União Brasil disputando o Senado e saindo vitorioso.
Nos últimos dias, Romero Rodrigues cumpriu etapas de um ritual que vem cumprindo há cerca de um ano: o de ser evasivo, lacônico ou enigmático em postagens feitas em rede social. Foram veiculadas imagens de uma “visita” que ele teria recebido de lideranças políticas em seu escritório, onde, naturalmente, a pauta eleitoral campinense esteve em debate. Mas, ao término, Romero manteve o suspense e a economia de palavras em tom assertivo. Quando indagado por um internauta se seria ou não candidato a prefeito, respondeu que estava pedindo a Deus que lhe ofereça sabedoria para decidir corretamente. Esse comportamento mexeu com os nervos do senador Veneziano, que desabafou sobre o ex-prefeito estar praticando uma encenação conhecida. O líder emedebista arrematou que considerava “uma piada” a hipótese de Rodrigues entrar no páreo e desafiar Bruno. O atual prefeito, por sua vez, resolveu manter apadrinhados do deputado do Podemos em cargos na máquina administrativa local e focou na agenda de gestor, sobretudo, em execução e entrega de obras, fugindo a qualquer polêmica de natureza política. Outros emissários influentes, como o ex-deputado Pedro Cunha Lima, do PSDB, e o deputado estadual Fábio Ramalho, dirigente estadual tucano, repetem que ainda apostam no entendimento sempre que provocados por jornalistas.
Entre figuras da mídia há uma sensação de exaustão com o comportamento errático de Romero Rodrigues, que não critica Bruno mas não firma compromisso com ele, porém, a mídia se mantém de plantão dentro do seu ofício de relatar fatos. Da parte de aliados do governador João Azevêdo (PSB) não há muita ilusão quanto a um alinhamento do ex-prefeito com o esquema governista estadual e apenas o Republicanos não fechou definitivamente as portas para o apoio a uma eventual candidatura de Romero, embora faça acenos de alinhamento com a pré-candidatura do ex-secretário de Saúde, Johny Bezerra, que caiu em campo pelo PSB, aproveitando os espaços vazios na chamada pré-campanha e a tática de Romero de “jogar parado”. Pelo que o ex-prefeito deu a entender a participantes da “visita” que recebeu, ele tem feito reflexões profundas sobre as causas e consequências de qualquer atitude que tomar. É como se uma posição sua em 2024 fosse divisor de águas decisivo na trajetória que até aqui tem perseguido – o que exigiria, de fato, muita “sabedoria” face a interesses e outros fatores que estão em jogo.
O papel de conciliador exercido pelo senador Efraim Filho tem em vista, também, projetos pessoais do parlamentar para as eleições de 2026. Efraim tem sido cogitado publicamente como provável candidato ao governo do Estado e na peregrinação constante que desenvolve pelos municípios coleciona sugestões e apelos para que, de fato, assuma esse papel, tornando-se alternativa concreta no campo das oposições e procurando repetir, com algumas diferenças, a estratégia que o consagrou em 2022, quando rompeu corajosamente com a liderança do governador João Azevêdo, lançou-se ao Senado e costurou, ele próprio, a “engenharia” que lhe permitiu chegar na frente no pódium. Efraim sabe que Romero pode ser um concorrente em potencial em 2026 – e não descarta apoiá-lo, mas ressalva que, antes, o deputado federal precisa estadualizar sua imagem, que estaria concentrada essencialmente, a dados de hoje, em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado. Mas Efraim sinaliza que há outros espaços disponíveis numa chapa majoritária da oposição lá na frente e que Romero deveria considerá-las ao invés de sustentar a obsessão de voltar a governar a cidade Rainha da Borborema.
Efraim foi o artífice principal da filiação do prefeito Bruno Cunha Lima ao União Brasil, com a garantia de que ele seria o candidato à reeleição em Campina Grande pela legenda. Tem cumprido esse compromisso pontualmente – e é por isso que procura ser habilidoso ao tratar o “fator Romero” para que nada prejudique as pretensões de Bruno, que poderiam ser ameaçadas na hipótese de Romero concretizar candidatura por outro agrupamento. Veneziano, por sua vez, tem o compromisso de apoio de Bruno e de Efraim ao seu projeto de disputar a reeleição ao Senado em 2026 e movimenta-se para que nenhum elemento externo ou superveniente atrapalhe a sua caminhada, que não será fácil, dada a concorrência acirrada que se prevê para aquela campanha. Por via das dúvidas, Efraim prefere esgotar a busca do entendimento até a undécima hora. Ele trabalha, de forma meticulosa, para abafar surpresas ou reviravoltas no próprio projeto que escolheu com vistas ao futuro.