Nonato Guedes
Se depender de Adriano Galdino (Republicanos) o atual mandato que ele exerce será o último na Assembleia Legislativa do Estado. O presidente da Casa Epitácio Pessoa revela-se obstinado em perseguir voos maiores na sua trajetória, dando por encerrada a contribuição relevante que tem oferecido no Legislativo Estadual, onde, também, tem se projetado pelo recorde de permanência no comando da Casa, o equivalente a dois mandatos consecutivos de governador, contabilizadas as reeleições que tem assinalado no seu currículo pelo voto dos colegas. Tido como um dos quadros de expressão na renovada conjuntura política paraibana, Adriano já se movimenta para figurar no páreo de aspirantes ao Palácio da Redenção em 2026, colocando-se à disposição, alternativamente, para o Senado, se este for o desideratum apontado pelo seu horóscopo.
Quem aprendeu a conviver com Adriano Galdino sabe que a pretensão rumo a postos majoritários não é blefe. Conhecido pela sinceridade e pela coerência de posições, o parlamentar leva em conta, nas suas análises e nos seus cálculos, a realidade do cenário local em que líderes carimbados já estão, compulsoriamente, pendurando as chuteiras e passando o bastão para os emergentes, no processo natural de oxigenação da política. Em paralelo, Galdino mobiliza-se para estadualizar sua imagem, prestigiando eventos como audiências públicas do Orçamento Democrático em diferentes municípios e regiões do Estado. Com a estratégia, adquiriu visibilidade e repercussão, o que foi reforçado com a luta que desenvolve para encaminhar pautas e demandas de interesse de inúmeras localidades. Os títulos de Cidadania amontoam-se em seu gabinete, emoldurando uma carreira que nasceu em Pocinhos, incursionou por Campina Grande e se consolidou em alto estilo em João Pessoa.
O presidente da Assembleia tem sido peça fundamental na engrenagem da governabilidade estadual como parceiro importante para o governo João Azevêdo (PSB), que cumpre o seu segundo mandato. Foi a atuação diligente de Adriano que possibilitou a aprovação, no plenário do Legislativo, de projetos e matérias que o Executivo considera cruciais para dar partida a seu roteiro de ações em favor da população paraibana. Não fosse a eficiência de Adriano, algumas dessas matérias estariam, ainda agora, em compasso de espera. Desse ponto de vista, como enfatizou certa vez, o dirigente da Casa Epitácio Pessoa chegou a operar, praticamente, como um líder do governo, pela eficiência com que se conduziu na articulação de bastidores com vistas ao convencimento de parlamentares, inclusive, da oposição, para não prejudicar o governo no seu cronograma. Esse papel tem sido reconhecido pelo governador João Azevêdo e por auxiliares da administração, que atestam o espírito de colaboração exercido pelo presidente da Assembleia na dinâmica governamental.
Adriano Galdino procura conciliar o seu alinhamento com o governo João Azevêdo com um dogma de que não abre mão – a autonomia do Poder que preside. Nesse aspecto, ele empreende uma gestão colegiada na Assembleia, compartilhando com líderes de bancadas a pauta de votações e o encaminhamento do ritual em plenário para que não haja atropelo ou solução de continuidade nas metas delineadas. Respeita o direito de expressão dos parlamentares de oposição e busca prestigiá-los nos espaços de representação institucional, tais como comissões temáticas que compõem a estrutura funcional da Casa. Mas exercita, na plenitude, a sua autoridade no sentido de coibir excessos ou eventuais infrações da tônica parlamentar. Tem sido pioneiro em algumas iniciativas, colocando a Assembleia da Paraíba no contexto da vanguarda nacional, dado que experimentos aqui testados são referência para outros Estados. Tal se deu, por exemplo, na pandemia de covid-19, quando Adriano Galdino instituiu sessões online para debate e apreciação de matérias, de modo a que o ritmo não sofresse ameaça de interrupção. Resultou, tudo isto, na obtenção de um dos mais expressivos índices de produtividade no histórico do Legislativo da Paraíba em situação absolutamente excepcional, com todas as medidas restritivas que a eclosão da pandemia impôs.
O processo para a confirmação de uma candidatura de Adriano Galdino ao governo do Estado pelo Republicanos pode demandar alguns percalços internos, tendo em vista que o partido já tem um pré-candidato lançado ao Senado, o deputado federal Hugo Motta, presidente da legenda, o que dificultaria a ocupação de duas vagas estratégicas na chapa majoritária por um só partido da coligação reunida em torno do governador João Azevêdo, conforme o desenho que é simulado nos bastidores dos partidos políticos. Adriano tem consciência, por outro lado, de que precisará confrontar-se com outras legendas da base que igualmente ambicionam a primazia da vaga ao governo – caso do PP, onde o vice-governador Lucas Ribeiro tem sido estimulado a concorrer á sucessão de João Azevêdo. A equação para 2026 passará, também, pelo resultado das eleições municipais deste ano, sobretudo em colégios como João Pessoa e Campina Grande, e há que se levar em conta, também, pretensões legítimas igualmente alimentadas no PSB comandado pelo governador. São questões de acomodação que irão se resolver na própria complexidade do jogo político. Adriano anuncia sua pretensão até para demarcar território – e tem um slogan de impacto na ponta da língua: “um candidato filho do povo contra candidatos das elites”. Mais afirmativo, impossível.