Nonato Guedes
A movimentação do governador João Azevêdo (PSB) nas eleições municipais deste ano em diversas regiões do Estado, com concessões a alianças até com ex-adversários, sinaliza para analistas políticos que poderá ser testada uma estratégia para pavimentar a suposta candidatura do chefe do Executivo a uma vaga ao Senado em 2026. O caso mais emblemático, citado nas rodas políticas, foi o apoio do PSB à pré-candidatura do vereador André Coutinho, do Avante, em Cabedelo, que tem como patrono o atual prefeito Vítor Hugo, que em 2022 posicionou-se contra a reeleição de João Azevêdo. Alega-se que Azevêdo estaria focando na reciprocidade de apoio numa das cidades mais importantes da Paraíba, caso leve adiante a pretensão de postular o Senado em 2026. Certamente também pesou nessa definição o fato de que a candidata a vice na chapa de André Coutinho é Camila Holanda, do PP, esposa do deputado federal Mersinho Lucena, filho do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena.
Cabedelo largou na frente na região metropolitana de João Pessoa, realizando a primeira convenção partidária que conseguiu atrair uma megacoligação, integrada ainda pelo União Brasil, PT e MDB, assegurando-se robustez à pretensão do ungido por Vítor Hugo. Para fazer parte da composição, o PSB concordou em abrir mão do lançamento de candidatura própria, depois de ter estimulado, por algum tempo, a pré-candidatura do ex-deputado estadual Ricardo Barbosa, que atualmente preside a Companhia Docas de Cabedelo. Ricardo Barbosa justificou que foi convencido a permanecer no cargo, onde há inúmeros desafios a serem, ainda, enfrentados, e onde está realizando um trabalho que repercute positivamente até nas esferas nacionais do segmento portuário. Nos bastidores, havia dúvidas sobre o potencial eleitoral de Ricardo, que não tem histórico de maior identificação com a cidade do eixo metropolitano. André Coutinho passa a ter como principal adversário o deputado estadual Walbber Virgolino, do PL, que tem como vice o ex-deputado Major Fábio, ambos representando forças de direita no Estado.
Outro caso mencionado diz respeito à disputa eleitoral em Santa Rita, com a tendência de apoio do esquema de João Azevêdo ao comunicador Nilvan Ferreira, do Republicanos, que dá combate ao esquema dos Panta, atualmente no PP. Nilvan já foi crítico impenitente de Azevêdo, sobretudo na campanha de 2022 quando também concorreu ao governo do Estado pelo PL, alinhado ao então presidente Jair Bolsonaro. De lá para cá, as coisas mudaram radicalmente. Nilvan sentiu-se praticamente “expulso” do PL com o ingresso triunfal e avassalador do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que teve pronto aval de Bolsonaro para ser candidato a prefeito da Capital. Decidiu migrar para Santa Rita e, agindo com rapidez, transferiu-se para o Republicanos, aliado do governador, numa articulação conduzida pelo deputado federal Hugo Motta. Ferreira repaginou o perfil, mudou o discurso e tornou-se conciliador na relação com o esquema do chefe do Executivo estadual, admitindo francamente o seu apoio e a perspectiva de parceria. A postura do chefe do Executivo no pleito atual tem sido definida como de “pragmatismo”, levando em consideração as peculiaridades de cada município dentro da realidade política.
Ele não deixou de prestigiar candidaturas próprias do seu partido, o PSB, bastando lembrar que em Campina Grande patrocinou o lançamento do seu ex-secretário de Saúde, Jhony Bezerra, enquanto na cidade de Cajazeiras definiu-se pela candidatura do seu líder na Assembleia, deputado Chico Mendes, que rachou o esquema oficial ao decidir enfrentar a pré-candidata Socorro Delfino, do PP, apoiada pelo prefeito José Aldemir e pelos deputados Júnior Araújo e Doutora Paula. Em Guarabira, João Azevêdo não titubeou em manifestar apoio ao ex-deputado Raniery Paulino, do Republicanos, que enfrenta a ex-prefeita Léa Toscano, hoje no MDB. Em Santa Rita, o apoio oficial é à pré-candidatura de Taciana Leitão, do PSB, esposa do deputado estadual Felipe Leitão, ainda no PSD mas em vias de se filiar à legenda socialista. Em João Pessoa, desde a primeira hora João Azevêdo posicionou-se a favor da pré-candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição, tendo como vice Léo Bezerra, do PSB, numa repetição da chapa de 2020. Além do apoio formal a Cícero na disputa, o governador tem intensificado a parceria administrativa que resulta no carreamento de obras e benefícios para a Capital paraibana. Cícero lidera algumas das pesquisas que já foram divulgadas na fase preliminar da campanha eleitoral.
Uma possível candidatura do governador ao Senado ainda frequenta o terreno das especulações nos meios políticos paraibanos, diante do jogo de pressão e contrapressão em cima do próprio chefe do Executivo a respeito da pretensão. Há aliados que receiam o perigo de traição ao governante a partir do instante em que ele se afastar da cadeira em Palácio, como há aliados que insistem em que ele assuma a candidatura, sob o pretexto de que Azevêdo já constituiu liderança política própria e respeitável no cenário estadual, podendo atuar, inclusive, como puxador de votos para a chapa majoritária no confronto com as oposições que tentam se unir já a partir de agora para uma revanche. O governador também tem a opção de sair candidato a deputado federal, como chegou a aventar a jornalistas, mas a discussão gira mesmo em torno da disputa ao Senado, pela importância estratégica para a própria eleição do sucessor.