Nonato Guedes
Causou repercussão e polêmica nas redes sociais a confirmação de apoio do governador João Azevêdo (PSB) à pré-candidatura do comunicador Nilvan Ferreira, do Republicanos, à prefeitura de Santa Rita. A aliança junta no mesmo palanque um dos mais fiéis aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governador João Azevêdo, e um ex-bolsonarista ferrenho, Nilvan Ferreira, que enfrentou o socialista na campanha ao governo do Estado em 2022. Anteriormente, Nilvan havia concorrido contra o prefeito Cícero Lucena (PP), aliado de Azevêdo, na disputa em João Pessoa em 2020. Quem acompanha o dinamismo da política paraibana sabe que Ferreira se distanciou do bolsonarismo desde que foi preterido no PL da Capital pelo ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e a partir daí passou a escrever uma nova história, migrando para a cidade dos canaviais e filiando-se ao Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, que é aliado do governador João Azevêdo.
A repaginação do perfil político de Nilvan passou, também, pela sua conversão ao estilo pragmático de fazer política, refletido no reconhecimento de que precisará do apoio do governo do Estado para concretizar projetos que avalia como essenciais para impulsionar o desenvolvimento da cidade de Santa Rita. A mudança de linguagem levou-o a arquivar críticas à administração de João Azevêdo ou referências desfavoráveis ao prefeito da Capital, Cícero Lucena. Nilvan também decidiu, por estratégia, não aderir à nacionalização da campanha eleitoral em Santa Rita, terceiro colégio eleitoral do Estado, o que o poupa, providencialmente, de discussões controversas sobre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O malabarismo político do comunicador operou o milagre de atrair, também, para sua campanha, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), outro “lulista” de carteirinha, que, inclusive, obteve o apoio do líder petista e candidato a presidente da República no primeiro turno das eleições de 2022. Veneziano também teria dificultado a permanência de Nilvan no MDB diante da postura bolsonarista que ele assumiu de forma franca e ostensiva lá atrás.
Até 2020, Nilvan era um completo neófito na atividade política, que acompanhava como observador, do seu camarote como profissional de emissoras de rádio e televisão de João Pessoa. O batismo político se deu nas eleições a prefeito da Capital num período em que obteve espaços generosos no MDB do então senador José Maranhão para aventurar-se em novos projetos. Acabou se tornando um fenômeno na disputa, aureolado pela condição de franco-atirador, que tinha liberdade para criticar governantes locais e formular suas propostas e ideias para administrar a Capital no rumo do hum milhão de habitantes. Mas ao mesmo tempo em que obtinha musculatura política, Nilvan isolava-se na aproximação com outros partidos e seus líderes ou expoentes, passando ao eleitor a impressão de ser desvinculado de esquemas oligárquicos tradicionais que se alternam nos quadros de poder do Estado. Radicalizou, sobretudo, no tom ideológico, reproduzindo bandeiras conservadoras desfiadas pelos apoiadores bolsonaristas, com suas narrativas polêmicas e, em alguns casos, esdrúxulas.
As experiências adquiridas, principalmente numa campanha de maior estatura ou dimensão como a que foi travada ao governo do Estado, contribuíram para moldar na cabeça do comunicador sertanejo um aprendizado mais realista sobre a conjuntura política e sobre o próprio desafio de administrar a coisa pública. Em 2022, Nilvan tinha a opção de ser candidato a deputado federal e ser eleito com expressiva votação, mas ele deixou passar a oportunidade pela ambição de concorrer ao governo do Estado por avaliar, equivocadamente, que seu destino era, prioritariamente, o Executivo. A aura de deslumbramento de que foi acometido isolou-o de outros atores que sempre se queixaram da falta de reciprocidade da parte dele e terá sido fatal para o fiasco da candidatura ao Palácio da Redenção. Desta vez ele não conseguiu avançar para o segundo turno, honra que foi deferida ao então deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB, que demonstrou maior potencial agregador nas fileiras da oposição paraibana. A derrota de Jair Bolsonaro para o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva foi a gota d’agua para fazer Nilvan refletir sobre os erros em que estava incorrendo, a que se somou o processo de “fritura” da sua postulação a prefeito da Capital em 2024, com as atenções transferidas para o ex-ministro Queiroga.
O comunicador sertanejo teve humildade e habilidade para refazer sua trajetória, que somente teria condições de sobreviver se sofresse alterações de rota na forma e no conteúdo da sua comunicação com o eleitorado. Tratava-se, no seu caso, de lutar para conquistar a tão ambicionada viabilidade eleitoral, que não ficou patente na disputa que enfrentou à prefeitura de João Pessoa e se tornou mais distante, ainda, quando encarou o confronto pelo governo do Estado sem dispor de uma estrutura realista e muito menos sem ter logrado avançar no processo de estadualização da imagem para além das fronteiras do território pessoense. Nilvan arriscou-se, então, a promover uma guinada radical na sua biografia – e foi assim que pavimentou o ingresso no Republicanos com a possibilidade de aproximação com o governador João Azevêdo, afinal consumada. O grande debate que Nilvan já está fazendo é em torno dos desafios de Santa Rita e das omissões do governo municipal do prefeito Emerson Panta. Ele apressa movimentos para construir identificação com a cidade e, finalmente, assinalar uma vitória importante no currículo político que decidiu construir. Tem chances no páreo, mas precisa estar atento para os obstáculos da jornada.