Nonato Guedes
O deputado federal e ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (Podemos), comunicou a aliados políticos, ontem, que não será candidato, novamente, à prefeitura nas eleições deste ano, sinalizando apoio ao projeto de reeleição de Bruno Cunha Lima, do União Brasil. A revelação pôs fim a especulações que se arrastaram por mais de um ano na mídia e nos meios políticos, em Campina e no Estado, alimentadas por um certo suspense que o próprio Romero cultivou. Durante esse período, ele manteve silêncio obsequioso e enervante sobre suas pretensões, não assumindo a ideia de candidatura mas também não a descartando. Dizia-se imerso em reflexões e análises sobre a conjuntura política e seu papel no atual contexto predominante na Rainha da Borborema. No paralelo, distanciou-se na relação com o atual prefeito, a quem apoiou em 2020, e deixou escapar desabafos sobre suposto desprestígio no grupo Cunha Lima, com quem sempre esteve alinhado. A sua escolha em Brasília para líder do Podemos pareceu um sinal de que Romero não entraria no páreo eleitoral deste ano, mas a incerteza persistiu até agora.
No final das contas, Romero “foi” mais candidato dos outros do que de si mesmo. Adversários ligados ao esquema político do governador João Azevêdo (PSB) tentaram atraí-lo para abrir uma dissidência no grupo a que pertence, com a garantia de vaga para disputar a prefeitura, enquanto, no contraponto, os antigos aliados empenharam-se para integrá-lo à postulação legítima de Bruno, acenando com compensações de participação na chapa majoritária de 2026. Em 2022, Rodrigues chegou a ser cortejado para candidato a vice de Azevêdo que, então, pleiteava a recondução, mas os entendimentos não prosperaram e ele acabou optando por concorrer à Câmara dos Deputados. A prolongada indefinição sobre seu papel no pleito 2024 chegou a paralisar os movimentos de outros partidos e pré-candidatos, imobilizando, por via de consequência, o próprio prefeito Bruno Cunha Lima, que se dedicou em tempo integral à pauta administrativa, reforçando o lastro para ter direito a concorrer à reeleição.
Expoentes e dirigentes do Republicanos, partido aliado do governador João Azevêdo, ofereceram a Rodrigues o papel de candidato por qualquer legenda, nele reconhecendo potencial de liderança como “recall” das duas gestões que empalmou na prefeitura da Rainha da Borborema até recentemente, o que teria sido atestado por pesquisas feitas para consumo interno, cujos percentuais jamais foram publicizados. Nos últimos dias, desalentados com a hesitação do ex-prefeito, líderes como Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, e o deputado federal Hugo Motta, presidente do Republicanos, passaram a descartar a opção Romero. Adriano chegou a comparar a situação a uma “novela mexicana” que, segundo ele, já havia passado dos limites. O Republicanos decidiu, então, fechar apoio à pré-candidatura do médico Jhony Bezerra, ex-secretário de Saúde do Estado, pelo PSB. Jhony já montou seu teatro de operações em Campina Grande, realizando plenárias populares e obtendo vantagem com obras e investimentos maciços que a administração estadual implementa na cidade.
No agrupamento a que Romero é ligado mobilizaram-se figuras como o ex-governador Cássio Cunha Lima, o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, o deputado estadual Fábio Ramalho e o próprio Bruno para persuadir Rodrigues a manter-se no bloco, contribuindo para cimentar a unidade indispensável para o confronto nas urnas. O senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que se aproximou do grupo Cunha Lima, deixou claro que não seria obstáculo a que Romero indicasse candidatura a vice na chapa de Bruno, mas ponderou que a decisão fosse apressada diante da perda de tempo que já se verificava na confecção da estratégia para a campanha. Versões de bastidores indicavam que Romero nutria ressentimentos por causa da relação estreita que passou a vigorar entre os Cunha Lima e Veneziano – este, seu adversário histórico na política local. De sua parte, Veneziano procurou manter postura equilibrada, só radicalizando nos últimos dias quando criticou o que chamou de “lenga-lenga” em torno da sucessão em Campina Grande. Foi em meio a esse fogo cruzado que Romero, enfim, jogou a toalha e comunicou que não pretende ser candidato.
Um outro expoente político que se empenhou para uma pacificação dentro do grupo que está no poder na Rainha da Borborema foi o senador Efraim Filho, presidente do União Brasil, que, inclusive, havia sido o patrono da filiação de Bruno Cunha Lima ao partido com a garantia de vaga para candidatar-se à reeleição. Efraim fez ver a Romero que ele não teria, no esquema do governador João Azevêdo, espaços de ascensão à chapa majoritária em 2026, diante de compromissos previamente já assumidos pelo próprio chefe do Executivo com legendas como o PP do vice-governador Lucas Ribeiro e o Republicanos. Outros interlocutores de Romero advertiram-no sobre os riscos de isolamento político na hipótese de uma guinada que promovesse o seu alinhamento com a liderança do governador. As atenções se voltam, agora, para o grau de engajamento de Rodrigues na campanha de Bruno e para o espaço que poderá ter na chapa ao executivo municipal campinense.