Nonato Guedes
A propalada candidatura do deputado federal Romero Rodrigues (Podemos) a prefeito de Campina Grande nas eleições deste ano era, na verdade, um “blefe”, ou seja, não tinha consistência nem significava um projeto efetivo e obstinado de sua parte. Chama a atenção o fato de que uma mera hipótese tenha permanecido em destaque na mídia durante cerca de um ano e, pior ainda, tenha alimentado expectativas, principalmente, junto a adversários do esquema Cunha Lima, que estão sob a liderança do governador João Azevêdo (PSB). Não parece ter havido uma jogada calculada para ludibriar ou despistar a oposição, mas é igualmente real que Romero não pode carregar sozinho o estigma de ter protagonizado uma “pantomima”. Pesadas ou medidas as contas, ele não chegou propriamente a assumir a pré-candidatura, da mesma forma como também não a descartou. Por isso que a alegada candidatura ficou mais para opereta, com a peculiaridade de sobreviver por um bom tempo no noticiário e complicar o cenário político local. Líderes próximos de Romero não titubeiam em admitir que o processo ficou travado, afetando estratégias e atrasando o calendário dos eventos pré-eleitorais de impacto.
A própria desistência anunciada por Romero deu-se em ambiente melancólico, sem a repercussão que se atribuía no radar das expectativas agitadas. O ex-prefeito de Campina Grande por duas vezes invocou problemas pessoais, inclusive, de saúde, na família, para explicar a razão de não concorrer, misturados com a sua avaliação de que pode ser útil à cidade e à administração como parlamentar, destinando recursos e utilizando sua influência como líder do Podemos para atrair investimentos e oportunidades que beneficiem a Rainha da Borborema. Ora, essa alternativa era do conhecimento de todos desde que Romero se investiu no mandato na Câmara e, na sequência, quando foi alçado à liderança de um conglomerado de partidos naquela Casa. No contraponto, é estranho que com tantas credenciais ele não tenha se empenhado com mais afinco para colaborar com a gestão de Bruno, tal como fez o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que foi adversário histórico dos Cunha Lima mas que com eles se compôs desde o segundo turno do pleito de 2022 ao apoiar Pedro ao governo estadual. O resumo da ópera é que a atuação parlamentar de Romero, até agora, tem sido pouco produtiva para o Estado como um todo e para Campina Grande, em particular.
No “intermezzo” das especulações sobre provável nova candidatura de Romero a prefeito de Campina Grande foi bastante explorada a versão de que em pesquisas informais ele liderava preferências da maioria na disputa das eleições municipais de outubro, o que nunca foi comprovado em termos de divulgação transparente dos percentuais e comparação com outros eventuais postulantes, como o próprio Bruno Cunha Lima. Da parte deste, aliás, ressalte-se que a postura durante todo o parto laborioso foi elegante e a mais diplomática possível, regida por uma paciência beneditina para aguardar os capítulos do que o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino (Republicanos) qualificou como “novela mexicana”. Bruno terá sido aconselhado por líderes como o senador Efraim Filho (União Brasil) a não polemizar sobre o “roteiro” de Romero, mas a mesma paciência não teve o senador Veneziano Vital do Rêgo, que criticou o “lenga-lenga” em torno do assunto. Ao fim e ao cabo, Romero protagonizou o anticlímax, limitando-se a indicar o vice, empresário Alcindor Villarim, e prometendo alinhamento mais concreto com as demandas da administração pilotada por Romero.
É certo que conspirava contra as ambições de Romero – que hoje ele nega – o direito legítimo de Bruno Cunha Lima em concorrer a mais um mandato executivo na Rainha da Borborema, direito esse que foi assegurado a Romero, o qual teve a preocupação de concluir na íntegra os dois mandatos, reservando-se para alçar a voos maiores quando estava na planície, sem qualquer poder. Não se descarta que, no ínterim da prolongada definição sobre 2024, Rodrigues tenha sido influenciado por expoentes da oposição a Bruno que dele cobraram posição de altivez, na qual estava implícito o rompimento. A própria oposição permaneceu inerte por muito tempo, pela quase certeza de que o desideratum da briga estava para se consumar e que Romero seria entronizado em outro palanque com honras de dissidente ou de mártir popular. Nesse sentido é que a senadora Daniella Ribeiro (PSD) perdeu a oportunidade de levar adiante uma pretensão constante de vir a governar a cidade – e a oposição, sob comando do governador João Azevêdo, acabou apostando num neófito, o ex-secretário de Saúde do Estado, Jhony Bezerra, que agora polariza com Bruno o embate para a tomada da prefeitura campinense.
O governador João Azevêdo, diga-se de passagem, desistiu da “opção Romero” muito antes do que seus correligionários na Rainha da Borborema, que tentaram esticar a corda, ora por acomodação, ora porque esperavam mesmo que o cavaleiro andante da salvação da pátria estava a caminho. Como não há espaços vazios, João Azevêdo acabou avocando para o seu próprio partido, o PSB, o privilégio de liderar uma candidatura do principal bloco de oposição a Bruno Cunha Lima. O segmento oposicionista não saiu unificado das convenções, como era a expectativa reinante, mas a largada de Jhony acabou surpreendendo os que o consideravam inviável para o confronto com a máquina controlada por Cunha Lima. Sobre o futuro de Romero, é jogo para adivinhação, ou para apostadores que têm a coragem de correr riscos em meio às incógnitas e às voltas que a política dá.