Nonato Guedes
A TV Arapuan/Band promoveu, na noite de ontem, no teatro do Sesc, sob a mediação do jornalista Luís Tôrres, o primeiro debate entre quatro principais candidatos a prefeito de João Pessoa nas eleições deste ano: Cícero Lucena (PP), Marcelo Queiroga (PL), Ruy Carneiro (Podemos) e Luciano Cartaxo (PT), que representam partidos com representação no Congresso Nacional. Com quase duas horas de duração, o debate foi caracterizado por troca de acusações, promessas eleitoreiras e ironias entre os postulantes. Pelo formato previamente acertado entre os comitês e assessores, a tônica era o confronto direto entre os candidatos, com perguntas entre si e espaços para réplica e tréplica, dentro de limites que coube ao mediador administrar, com a prerrogativa de cortar falas que extrapolassem o tempo permitido. Houve sorteio de temas específicos que os candidatos desejavam abordar no campo das propostas de soluções para os desafios enfrentados pela população pessoense.
Exercendo o seu terceiro mandato e no papel de postulante à reeleição, o prefeito Cícero Lucena, que é apoiado pelo governador João Azevêdo, do PSB, tornou-se, naturalmente, o alvo principal dos concorrentes, sobretudo dos deputados Ruy Carneiro, que já foi seu aliado e auxiliar, e Luciano Cartaxo, que já o derrotou num dos últimos pleitos na Capital. Lucena, porém, não se intimidou com o bombardeio, sinalizando que já previa a ofensiva de quase todos. Marcelo Queiroga também alfinetou Cícero em alguns momentos do debate, mas Cartaxo e Carneiro lideraram a orquestração para desqualificar a administração municipal atual, acusando-a de lenta e de atrasada. À certa altura, no afã de desgastar Cícero, ambos escorregaram em algumas intervenções agitadas sobre temas polêmicos, bem como quando procuraram investir maciçamente no auto-elogio em detrimento das qualidades e dos serviços prestados por Cícero à população. Marcelo Queiroga foi questionado, sobretudo, por sua atuação à frente do Ministério da Saúde no governo de Jair Bolsonaro em plena pandemia de covid-19.
Luciano Cartaxo acusou o ex-ministro de ter demorado a dar partida à campanha de vacinação em massa contra a covid-19, o que teria ocasionado alarmante incidência de óbitos, atribuindo essa postura ao negativismo do próprio presidente Jair Bolsonaro, que, por vezes, ironizou a extensão da calamidade. Queiroga, na resposta, assegurou que não foi omisso e que atuou com rapidez, seguindo determinação do seu chefe, e queixou-se da atitude de governadores – inclusive o da Paraíba – que qualificou como esquerdistas e que teriam feito uma espécie de pacto para atrapalhar a ação do governo federal no socorro às vítimas do coronavírus. Luciano Cartaxo acusou Queiroga de apego ao cargo e disse que ele foi escolhido ministro porque “ninguém mais queria ser auxiliar de Bolsonaro naquela fase”. Cícero Lucena fez coro nas críticas, lembrando que foram impostas dificuldades para a remessa de vacinas para Estados como a Paraíba. Ainda assim, o candidato do PL e ex-ministro afirmou que se submeteu um aprendizado em termos de gestão pública à frente da Pasta em um momento complexo, de calamidade, e que por isso se considera preparado para administrar João Pessoa e fazê-la avançar nas suas metas de desenvolvimento.
Houve intensa polêmica entre Cícero Lucena e Ruy Carneiro a respeito do repasse de recursos provenientes de emenda parlamentar para a cidade de João Pessoa. O atual prefeito acusou o deputado de demagogia ao alardear destinação de verbas para a administração municipal, considerando ínfimo o montante, enquanto, segundo ele, hospitais como o Help, de Campina Grande, administrado pela família Gadelha, foram regiamente contemplados. Também detonou Ruy por “querer se apropriar” de obras públicas que estão sendo executadas em João Pessoa e mencionou que muito do que tem sido feito deve-se a recursos próprios ou a recursos provenientes de parcerias com o governo João Azevêdo e de convênios com instituições do Brasil e do exterior, a exemplo da Agência Francesa, junto a quem assegurou financiamento nas últimas semanas para acelerar obras de repercussão para a população pessoense. Cartaxo insistiu em fazer um comparativo entre suas duas gestões e as gestões empalmadas por Lucena, insistindo em que dotou a Capital de grande número de escolas e creches, desafiando o atual prefeito a apresentar resultados positivos na educação e na saúde. Já Ruy criticou o setor de infraestrutura, abandono do Centro Histórico de João Pessoa e obras inacabadas, citando indicadores negativos em segmentos como o do transporte coletivo na Capital paraibana.
As carências na mobilidade urbana foram exploradas, sobretudo, pelo ex-ministro Marcelo Queiroga, enquanto Luciano Cartaxo fez insinuações vagas sobre relação entre setores da prefeitura com setores do crime organizado na região metropolitana enfeixada pela Capital. O deputado federal Ruy Carneiro, por sua vez, alertou para a necessidade de uma discussão sobre a influência do tráfico organizado na campanha eleitoral em andamento e apelou para um pacto em forma de compromisso por parte dos candidatos para combater essa ameaça que, segundo ele, traz insegurança para a população como um todo. O prefeito Cícero Lucena assegurou que tem condições de realizar muito mais pela Capital paraibana, mercê da sua experiência, do seu compromisso e da sensibilidade para “cuidar dos que mais precisam”. Descontadas as acusações e ironias, o debate significou a primeira contribuição efetiva para o exercício democrático do voto, desnudando os candidatos perante telespectadores e firmando seus perfis para análise por parte do eleitorado na hora decisiva do voto. A TV Arapuan deu o pontapé na campanha eleitoral no maior colégio do Estado da Paraíba.