Nonato Guedes
Presidente da Câmara e um dos expoentes do Centrão, o deputado federal Arthur Lira, do PP-AL, corre contra o relógio na articulação para eleger seu sucessor no comando da Casa, buscando emplacar um candidato de consenso entre partidários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Uma reportagem da revista “Veja” revela que o dirigente da Câmara empenha-se em evitar que a eleição do novo líder se encaminhe para uma disputa fratricida e imprevisível. Ele mantém guardado a sete chaves o nome do deputado que pretende apoiar para sucedê-lo em uma das mais poderosas cadeiras da República, o que tem provocado movimentos de bastidores de inúmeros postulantes, por conta própria, para se credenciar a uma sagração da sua parte. Lira deu dimensão ao cargo pelo apetite com que o exerce e pela pressão subliminar contra presidentes da República, com sutis ameaças de abertura de processos de impeachment que tramitem na Casa. Com essa estratégia tem arrancado concessões que aumentaram, em muito, o cacife do Parlamento na relação institucional brasileira.
Quem conversa com o parlamentar alagoano, segundo a “Veja”, não tem dúvida de que ele já definiu quem indicará na disputa, que, apesar de marcada para fevereiro do ano que vem, está sendo travada há meses nos corredores da Casa. De acordo com o roteiro que teria sido planejado por Arthur Lira, o nome do escolhido será anunciado ainda neste mês de agosto, o que fez os postulantes ao cargo acelerarem as suas articulações com as diferentes correntes políticas, do PT do presidente Lula ao PL do ex-presidente Bolsonaro. Hoje, são três os principais cogitados para receber o apoio de Lira, e todos dizem ter a certeza de representar a melhor alternativa para comandar os deputados, garantem aglutinar a maior quantidade de votos e negam a intenção de desistir do páreo. Ou seja: o objetivo de evitar uma disputa ainda parece distante, mas Lira, que é conhecido pelo seu temperamento obstinado, não recua no propósito de construir um consenso e, desta forma, dar uma “senhora demonstração de força” ao voltar à planície, como escreve a jornalista Marcela Mattos na “Veja”.
Uma etapa crucial na tentativa de acordo envolve os dois maiores líderes políticos do país. Assim que bater o martelo sobre sua opção para sucessor, Arthur Lira pretende procurar Lula e o antecessor, Bolsonaro. Em um movimento programado para acontecer longe dos holofotes, ele pedirá a bênção prévia dos dois, que são expoentes máximos de PT e PL, os maiores partidos da Câmara, que somam 161 dos 257 votos necessários para eleger o futuro presidente da Casa. Disposto a demonstrar sua influência sobre o plenário, Lira quer reprisar com o afilhado o feito de quando se reelegeu, em fevereiro do ano passado, congregando deputados da direita à esquerda e recebendo 464 votos de um total de 513 possíveis. Apesar de serem vitais para a vitória de qualquer postulante, as bancadas do PT e do PL não têm espaço na corrida, que dribla a chamada polarização ideológica e é dominada por nomes de centro, com destaque para os deputados Elmar Nascimento, do União Brasil-BA, Antonio Brito, do PSD-BA e Marcos Pereira, do Republicanos-SP, do qual é presidente nacional.
Além de negociar com a cúpula da política nacional, Arthur Lira – um político polêmico, remanescente do baixo clero mas que ascendeu ao primeiro plano no cenário em Brasília – estabeleceu critérios para dar transparência à sua escolha. Inicialmente, ele se reuniu com os candidatos, apontou as qualidades e as dificuldades de cada um deles, mandou-os ir à luta, prometendo apadrinhar quem tivesse mais condições de vitória. A ideia era que, após essa disputa prévia – acrescenta a reportagem de “Veja” – ninguém ficasse contrariado ao ser preterido, já que a decisão final não seria subjetiva, mas baseada no desempenho de cada um durante essa espécie de preliminar. Hoje, a formação de um consenso parece quase impossível, e os postulantes à presidência da Câmara não dão sinais de que pretendem desistir da eleição. “Meu nome estará na disputa como candidato em fevereiro. Acredito que reúno todas as condições para unificar as diferentes alas políticas do plenário da Câmara. Mas, se houver necessidade de disputa, vamos para a disputa”, afirmou o deputado Marcos Pereira. “Eu vou até o fim mesmo se tiver disputa”, garante o deputado Antonio Brito.
Nos corredores da Câmara, há consenso de que Pereira e Brito não são os nomes do coração de Arthur Lira. Se escolhesse com base apenas em preferência pessoal, ele anunciaria apoio a Elmar Nascimento, que enfrenta resistência da bancada do PT. “Busco criar as condições para ter o apoio de Arthur e trabalho para isso. Ninguém tem competitividade sem este apoio”, ressalta o parlamentar. Ciente da disposição dos colegas de lutarem pelo cargo até o fim, Lira planeja reunir numa mesma mesa os três deputados nos próximos dias. Enquanto esse encontro e o cobiçado acordo não ocorrem, o trio segue em plena campanha, uma das mais antecipadas da história recente, conforme a “Veja”. Considerado um nome de peso, Marcos Pereira é tratado como o coringa da disputa. O presidente do Republicanos tem um acordo firmado desde 2021 com Arthur Lira, quando abriu mão de concorrer à presidência para apoiar o deputado alagoano. Na ocasião, ficou pactuado que Pereira, em contrapartida, seria o sucessor. Além dele, dentro do Republicanos fala-se no nome do deputado paraibano Hugo Motta, que transita com extrema facilidade da base à oposição, A este colunista, Hugo Motta garantiu que não há o menor perigo de vir a se confrontar com o dirigente nacional do partido a que é filiado.