Nonato Guedes
Analistas políticos isentos avaliam que a estratégia de relançamento de uma provável candidatura do ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) ao governo em 2026 apenas divide e enfraquece as oposições paraibanas no seu projeto de ascender ao Palácio da Redenção. Essa estratégia tem sido agitada por políticos como o presidente estadual do PSDB, deputado Fábio Ramalho, e por líderes de Campina Grande e de João Pessoa que se identificam com o perfil de Pedro, mas colide com o próprio desenrolar da campanha para as eleições municipais, que em algumas localidades registra picos de acirramento entre aliados dos mesmos blocos. O próprio Pedro, é o que se alega, não é protagonista principal da campanha em curso, pois divide palanques e holofotes com outras figuras de destaque como o senador Efraim Filho, do União Brasil, o governador João Azevêdo, do PSB, e os senadores Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e Daniella Ribeiro (PSD), além de deputados federais e estaduais plenamente engajados no processo nas suas regiões.
No agrupamento de Pedro, há, mesmo, concorrentes potenciais interessados em disputar o governo, a exemplo do senador Efraim Filho, que saiu consagrado em 2022 após derrotar o ex-governador Ricardo Coutinho e a candidata do governador João Azevêdo, Pollyanna Dutra, ao Senado. Há, ainda, uma sugestão de lançamento da pré-candidatura do deputado federal Romero Rodrigues (Podemos), que ganhou força como pretexto para fazê-lo desistir da ambição de concorrer novamente, este ano, à prefeitura de Campina Grande. Em última análise, é citado o nome do atual prefeito de Campina, Bruno Cunha Lima, do União, que postula a reeleição em outubro e que tem a possibilidade de adquirir musculatura para entrar no páreo estadual. O fato é que todos os políticos esperam o mapa das eleições de 2024 para medir a força dos seus partidos ou esquemas na reconfiguração que se firmará para as disputas vindouras. A disputa em João Pessoa é acompanhada com grande expectativa pela densidade dos atores e “players” que se movem, à direita, ao centro e à esquerda, e pela singularidade dos interesses em jogo, atrelados a projetos ambiciosos para dentro de quatro anos.
O ex-deputado federal Pedro Cunha Lima ganhou evidência em 2022 porque logrou unificar segmentos importantes da oposição em torno do seu nome e partir para o enfrentamento com o governador João Azevêdo que o colocou no segundo turno, daí obtendo votação expressiva, sobretudo, nos grandes centros urbanos. Embora não tenha conquistado o poder, Pedro revigorou o oposicionismo na Paraíba, deixando cravada a abertura de espaços para um ressurgimento que, nas urnas, empurrou o esquema do governador para os bolsões interioranos, de onde extraiu o combustível necessário para consolidar a recondução. Pedro entrou no páreo, inclusive, em bola dividida, substituindo a Romero Rodrigues, que era o nome cogitado mas que não tomou impulso para seguir adiante. Credenciou-se pela firmeza com que se opôs ao governo e pela veemência com que apresentou propostas para a Paraíba, no papel de representante da mudança. Mas Pedro, no pós-eleitoral, não demonstrou vocação para liderar grupo ou esquema, estando diluído entre outros líderes com mais apego a esse papel, o que não o impede de ser uma espécie de reserva valiosa para o time da oposição paraibana.
O relançamento, agora, de uma candidatura do filho do ex-governador Cássio Cunha Lima, desperdiça energias e desvia o foco das atenções, centrado nas eleições municipais, pela imperiosidade de um cotejo entre os expoentes do esquema governista e do esquema adversário em colégios eleitorais influentes como a própria Capital, Campina Grande, Guarabira, Patos, Sousa, Cajazeiras, Vale do Piancó, Cabedelo e Santa Rita, entre outros colégios. A eleição municipal tem características próprias, intrinsecamente ligadas à realidade dos lugares que são palcos dos confrontos delineados pelos partidos e suas respectivas cúpulas. As alianças que foram feitas para este pleito nem sempre guardam coerência ou afinidade, tornando-se até mesmo estranhas em alguns redutos, o que é atribuído à natureza distinta do cenário de 2024 em comparação com cenários de disputa majoritária estadual. Tudo isto será processado no balanço das urnas, quando os resultados apontarem os que largaram em vantagem e os que ficaram em situação inferior na preferência popular.
A falta de um mandato parlamentar ou de uma tribuna potente para que o ex-deputado Pedro Cunha Lima possa dar vazão a ideias que tem sobre transformações em políticas públicas na Paraíba talvez contribua para uma certa ociosidade política do jovem líder que concorreu a governador, mas esta escolha foi do próprio ex-deputado. Ele tinha consciência das limitações da campanha majoritária estadual e dos riscos a que estava se expondo quanto à perda de um mandato ou de espaços. Procurou deixar claro, reiteradas vezes, que não se preocupava com essas hipóteses, até por não ter dependência do poder. Mas os políticos mais experientes sabem da importância de se ter um palanque permanente para manter o nome em evidência e ser lembrado pelo eleitorado. Pedro Cunha Lima destacou-se como uma revelação política mas precisa ter mais habilidade e convencer-se de que candidatura é construção – e que lhe cabe investir de forma mais profissional no projeto político que já apresentou à população paraibana em 2022.