Nonato Guedes
O deputado federal Leonardo Gadelha (Podemos), que está no exercício do mandato devido a licença requerida pelo titular Ruy Carneiro, candidato a prefeito de João Pessoa, procura pautar seu mandato pela discussão de importantes temas nacionais diante dos quais a maioria dos parlamentares passa ao largo. Ainda agora, tenta mobilizar adesões para a formulação de propostas sobre a implantação das novas tecnologias que estão em franco desenvolvimento no mundo inteiro e que, a seu ver, ditarão os modelos de crescimento social e econômico daqui para a frente, de permeio com avanços em outros segmentos que compõem a vida coletiva. Em paralelo, Leonardo Gadelha queixa-se da inutilidade com que persiste uma alegada polarização político-ideológica, na verdade centrada em indivíduos, não em ideias e que remonta aos embates travados entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e apoiadores do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Lamentavelmente essa polarização empobrece, apequena, restringe o debate político mais relevante que precisa ser agitado”, explana Leonardo, que ainda esta semana foi entrevistado no programa “60 Minutos”, da rádio Arapuan.
O argumento de Leonardo é que a polarização, nos moldes em que tem sido exercida, adicionando elementos subjetivos como o fanatismo ou o radicalismo extremado, impede a abertura para o diálogo, a interlocução e o exame de propostas alternativas que são viáveis, partam de onde partirem, na miríade de sugestões irrelevantes ou esdrúxulas, para dotar o país de modelos justos nas diferentes áreas, levando em consideração os indicadores sócio-econômicos-educacionais e as demandas que têm eclodido na conjuntura de “inclusão”, que é a moeda corrente ou a tônica dominante nas formulações modernas. O parlamentar, que é um emérito estudioso da problemática nacional e internacional, debruça-se sobre fatores como o próprio envelhecimento da população no Brasil, fenômeno que, no seu ponto de vista, exigiria, além de discussão aprofundada, intervenção mais efetiva dos poderes públicos e dos organismos de representação da sociedade. A esse respeito, na condição de ex-presidente do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) alerta que a questão da Previdência ainda está insolúvel e que terá que ser feito um esforço urgente para que gerações não sejam prejudicadas nos direitos adquiridos ou acumulados ao longo de uma existência. O Parlamento, pelo que dá a entender, não está focado ainda nessa excepcionalidade.
Leonardo é de uma escola política forjada num “clã” familiar de projeção na Paraíba e além-fronteiras e que se impõe pela inteligência, pelo idealismo e pela assertividade na formulação de propostas que interessam tanto ao país como, especificamente, ao Estado. Filho de Marcondes Gadelha, que foi expoente do “grupo autêntico” do MDB na Câmara dos Deputados em plena ditadura militar, senador da República, ex-candidato a governador, e ex-candidato a vice-presidente da República, Leonardo simboliza a nova geração em movimento, interessada em mudar a sociedade por dentro, sem apelar a revoluções armadas ou a golpes casuísticos, mas dentro da legalidade democrática e dos preceitos constitucionais vigentes. Quando concorreu ao governo do Estado em 1986 pelo PFL, contra Tarcísio Burity, o pai de Leonardo fazia análises futuristas, como uma espécie de Herman Khan da política, o que o colocou no panteão dos “visionários”. Argumentava Marcondes Gadelha: “Estão faltando apenas 14 anos para o ano 2000. Ou nós assumimos a modernização ou ficaremos como mendigos na beira da estrada”. Chegou a ser chamado de “lunático” por Burity, que era outra inteligência privilegiada no cenário local. O que Marcondes propagava era simples: “Em outras partes, o homem está indo à Lua ou implantando fazendas nos fundos dos mares. Na Paraíba, é só atraso, é só subdesenvolvimento”. Discurso mais claro, impossível, o que não impediu que Gadelha fosse sacrificado nas urnas.
Voltando a Leonardo: ele faz um diagnóstico certeiro sobre o “samba de crioulo doido” institucional que transcorre, hoje, no país, com justaposição ou superposição de poderes, ora da parte do Executivo, ora da parte do Legislativo, ora da parte do Supremo Tribunal Federal e de outras instâncias do Judiciário. O parlamentar alerta para um fato palpável, concreto, que salta aos olhos da opinião pública: a quebra do pacto institucional vigente, com desrespeito a cláusulas pétreas emanadas da Lei Maior, a Constituição Federal, que é a Carta Magna. Todos querem legislar e executar ao mesmo tempo, o que cria uma distorção especialíssima no cenário brasileiro e acarreta, em certos momentos, um vácuo de poder que se reflete diretamente sobre a sociedade, confusa ou atormentada com a proliferação de leis, de dispositivos, de regras ou contra-regras, elaboradas ao bel prazer dos detentores de ocasião do poder maior, já que o sistema de pesos e contrapesos evita absolutismos perniciosos à estabilidade democrática. Em última análise, o que parece propor o jovem representante paraibano é uma “concertação nacional” em torno de atribuições específicas dos poderes representativos da sociedade, após o que fluiria, naturalmente, não apenas o debate mas o encaminhamento das soluções que são ardentemente reivindicadas.
Da maneira como está, com essa mixórdia de decisões, alimentada por contestações e reverberada por manifestações populares de reação e contra-reação, a situação está mais para o caos do que para a perspectiva de normalidade institucional. Esta é a advertência que, em boa hora, faz o deputado Leonardo Gadelha, colocando-se em posição equidistante no que diz respeito ás paixões ou aos passionalismos que eventualmente estão impregnando e desvirtuando o grande debate nacional de que carece este país para avançar no contexto internacional. Que pena que o Parlamento não tenha réplicas de Leonardo Gadelha em quantidade suficiente para mudar os destinos da Nação conforme o princípio da justiça social e a filosofia da democracia acima de tudo. Mas, como ele deixou claro, cabe ao próprio eleitorado parcela de responsabilidade nessa missão, se o desejo for transformar uma realidade que está envelhecendo no país, da mesma forma como ocorre com segmentos da sua população.