Nonato Guedes
Com um ministério que é uma verdadeira colcha de retalhos, abrigando ministros indicados por partidos que hoje são da sua base mas já foram da base do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) toma precauções em relação à participação de auxiliares na campanha eleitoral para prefeitos em Capitais e cidades importantes do país. Segundo o UOL, os ministros estão liberados para apoiar os candidatos que quiserem nas eleições municipais – só não podem subir no palanque do ex-presidente, que está percorrendo o país, igualmente, para tentar fortalecer políticos identificados com ele. São dez partidos atuando na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Em São Paulo, maior cidade, por exemplo, haverá candidatos de três partidos da base, mas a preferência já sinalizada pelo presidente é pela candidatura do deputado federal Guilherme Boulos, do PSOL, enquanto outras preferências no círculo do mandatário se diluem em meio a uma das mais acirradas campanhas do país.
Só Bolsonaro está totalmente vetado na cartilha do líder petista. Essa orientação, como adianta o UOL, não foi falada explicitamente, mas está dado que o presidente da República não quer nenhum ministro em palanque com adversário político. Analistas avaliam que tal recomendação atende à estratégia adotada pelo próprio Lula para manter a polarização contra Bolsonaro, preparando-se para a hipótese de enfrentar um candidato-raiz do bolsonarismo na disputa de 2026, quando deverá tentar a reeleição. Desse ponto de vista, é fundamental manter o divisor de águas, até como fator de sustentação do ânimo dos seus aliados fiéis em diferentes Estados brasileiros. A recomendação para o pleito de 2024 serve ainda mais para os partidos ligados ao chamado Centrão. Assim, os ministros do União Brasil, do PP e do Republicanos devem tomar ainda mais cuidado, visto que até há uma ou outra aliança entre PT e PL nas coligações regionais, mas tais alianças são raras, em especialmente a áreas que são caríssimas para Lula, como a região Nordeste, onde ele venceu com ampla vantagem nas eleições de 2022.
No caso de São Paulo, enquanto Lula apoia a chapa Guilherme Boulos (PSOL-Marta Suplicy (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin, filiado ao PSB, apoia a deputada federal Tabata Amaral que tem, inclusive, a esposa do ministro Márcio França (Microempresas), Lúcia França, como candidata a vice. Na cidade, Bolsonaro está com o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, sigla que tem três ministros do governo. A ministra Simone Tebet, do Planejamento, já avisou que pode dar apoio a Nunes, mas não aparecerá ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em Porto Alegre, onde o prefeito Sebastião Melo, do MDB, busca a reeleição coligado com o PL de Bolsonaro, não deverá haver participação de nenhum ministro do governo de Lula. Campo Grande e Natal (RN) passam situações semelhantes, com duas deputadas disputando pelo PT (Camila Jara e Natália Bonavides, respectivamente). Na capital sul-matogrossense, o PL se juntou ao PSD, MDB, Republicanos e PSB em torno de Beto Pereira, do PSDB, enquanto na capital potiguar está com Paulinho Freire, do União Brasil, partido que conta com dois ministérios no governo atual. Em Maceió, a situação fica um pouco mais complicada.
Na capital alagoana, Ricardo Barbosa, ex-vereador do PT, retirou a candidatura para apoiar o deputado Rafael Britto, do MDB, nome da família Calheiros. Ele enfrenta o prefeito JHC (PL), favorito à reeleição, e apoiado por todo o Centrão do governo (União Brasil, PP e Republicanos). A ordem não foi dada explicitamente sobre participação na campanha junto com Bolsonaro, mas ministros e aliados brincam que “para bom entendedor, meia palavra basta…” O PT considera que as eleições municipais deste ano constituem uma prévia das eleições de maior repercussão, em 2026 e, além de aumentar prefeituras, mostrar a força eleitoral de Lula é um dos objetivos do pleito. Qualquer convivência com Bolsonaro apontaria para o sentido oposto, acrescenta o UOL. Membros do partido dizem entender que a frente ampla do governo é formada por diferentes visões ideológicas, mas que não há espaço nenhum para o bolsonarismo. Uma eventual foto do ex-presidente da República com ministro do governo Lula seria um risco que eles não querem correr, diante da exploração inevitável que seria feita, em cima da própria atmosfera de polarização que os lulopetistas insistem em cultivar, juntamente com os remanescentes bolsonaristas, estes saudosistas do poder perdido nas urnas em 2022.
O presidente Lula tem orientado os ministros a fazerem uma eleição “acima da cintura”. O objetivo é que haja um alinhamento pacífico para o pleito, para evitar que, durante a disputa, ministros acabem falando mal de partidos de colegas da Esplanada. A respeito das orientações de Lula para as eleições, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, sintetizou: “O presidente Lula falou no sentido de orientar que cada um tem a absoluta liberdade para escolher. Agora, os ministros que fossem participar da campanha, ele aconselhava que fizessem todos os elogios aos seus candidatos e não fizessem críticas ou ofensas ao adversário, independente de quem é o adversário”. Já para Bolsonaro, não só é impensável qualque4r apoiador seu em um palanque com Lula como ele vetou qualquer aliança do PL com o PT, mesmo sem apoio explícito do presidente. No início do mês, Bolsonaro destacou que alianças com partidos de esquerda “têm de deixar de existir”. Apesar disso, PT e PL estão unidos em pelo menos uma Capital. Em São Luís, no Maranhão, os dois apoiam Duarte Júnior, do PSDB.