Nonato Guedes
Candidato a prefeito de João Pessoa pelo Partido dos Trabalhadores o deputado estadual Luciano Cartaxo tem recorrido a dois “padrinhos” que considera fortes para impulsioná-lo nas intenções de voto – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Ricardo Coutinho, que se elegeu por duas vezes para administrar a Capital. Em relação a Lula, Cartaxo, que também foi prefeito duas vezes, acena com parcerias sólidas que, na sua opinião, vão transformar a realidade pessoense ou colocar João Pessoa em um outro patamar, distante da posição negativa no ranking nacional que, ainda conforme entende, lhe é atribuída. Na prática, o candidato petista faz um “mix” de propostas e requenta sugestões já cogitadas ou implementadas, quer em suas gestões, quer nas gestões de Ricardo, estas embrionárias do projeto de RC em ascender ao Palácio da Redenção, o que ocorreu pela primeira vez em 2010. Ou seja, não há propriamente novidades no que é trazido para o eleitorado em 2024, mas Cartaxo tem âncoras em que apoiar a pretensão de se perpetuar na prefeitura.
O que chama a atenção dos eleitores e, de certa forma, movimenta os debates que estão sendo promovidos por meios de comunicação, como rádio e televisão, é o comparativo de administrações que constitui a tônica da campanha eleitoral deste ano em João Pessoa. Há três modelos de administração sendo expostos em praça pública para julgamento do eleitor – e dois deles (os de Ricardo e de Luciano) parecem mais convergentes, até porque Cartaxo se elegeu, na primeira vez, pelo PT, dele migrando quando estourou o escândalo do mensalão e fixando-se em partidos como o PSD e o PV, até fazer o caminho de volta ao petismo. É uma convergência apenas aparente. Ricardo tinha mais características de vanguarda nas ideias do que Cartaxo, que incorporou algumas pautas novas, oriundas de realidades sociais emergentes, mas patinou no “feijão com arroz”. Ainda assim, Cartaxo empalmou gestões consideradas médias pela opinião pública. Falhou quando tentou transferir votos para uma concunhada, ex-secretária de Educação do município, que indicara à sua sucessão e que não avançou, sequer, para o segundo turno. Sabe-se de recursos que ficaram guardados nos cofres do município no segundo mandato, sem execução prática para beneficiar a população.
As gestões de Cartaxo e Coutinho, agora unidas, tentam fazer frente às duas que foram pilotadas por Cícero Lucena (PP), entre 1996 e 2004, numa época em que o atual prefeito era filiado ao PSDB e à gestão de agora. Lá atrás, Cícero deixou marcas, inclusive, no campo social, quando encarou o desafio de extinguir o Lixão do Róger, que era uma espécie de nódoa no cenário urbanístico da Capital paraibana, mas a de Ricardo, sobretudo, avançou bastante na inclusão e inovou na adoção de mecanismos de participação popular, como consequência da militância ativa de Coutinho em segmentos de esquerda e junto a movimentos da sociedade civil organizada. As metas e programas que Ricardo desenvolveu, por assim dizer, tinham mais consistência ideológica e objetividade nos resultados e exerciam influência motivadora sobre segmentos da sociedade. Mais tarde, como governador do Estado, Ricardo teve a oportunidade de dar amplitude às ideias, programas e metas de sua filosofia de gestão, tendo caído em desgraça ao deixar o Executivo e ser associado a escândalos da Operação Calvário, versando sobre desvio de recursos nas áreas da Saúde e da Educação, que são estratégicas para qualquer comunidade, em qualquer Estado ou região do território nacional. Cabe lembrar que eram épocas distintas, com suas peculiaridades e com demandas específicas inerentes ao anseio coletivo, devendo a análise ser feita no contexto temporal desses marcos.
Cícero, que no passado também enfrentou denúncias de escândalo na esfera judicial e, depois, exibiu documentos como provas de sua inocência, ingressou no terceiro mandato em circunstâncias favoráveis, por ter tido o apoio do governador João Azevêdo (PSB), que então se firmava na conjuntura de poder local. O apoio na campanha eleitoral evoluiu, depois da vitória, para a implementação de parcerias de impacto ou repercussão em favor da população pessoense, de tal sorte que a terceira gestão de Cícero tem sido pontuada por anúncios de obras e serviços, principalmente na área da infraestrutura. Com a reeleição de Azevêdo em 2022, abriram-se infinitas possibilidades de estreitamento da relação institucional governo do Estado-prefeitura da Capital, e isto, de fato, tem acontecido, com incursões que passam, também, pela administração federal, dada a condição de Azevêdo de eleitor fiel do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao próprio comportamento do presidente da República, na linha de não discriminar Capitais ou cidades brasileiras. Afinal, Lula chegou novamente ao Palácio do Planalto em cima de promessas de reconstrução nacional para fazer face aos impasses insolúveis decorrentes da gestão de Jair Bolsonaro. A pandemia de covid-19, em certa medida, pode ter afetado o ritmo de celeridade das ações de Cícero, mas ele procurou fazer o dever de casa na própria pandemia, agilizando a campanha de vacinação, até como forma de compensar eventuais lacunas federais.
Na disputa eleitoral de 2024, Luciano Cartaxo selou a reaproximação com Ricardo Coutinho, vencendo barreiras que alimentaram no passado recente (a vice de Luciano é a esposa de Ricardo, Amanda Rodrigues, que trabalhou em posto relevante, até pouco tempo, no Ministério da Saúde). A presença de Ricardo na campanha, depois de certa reclusão, é o grande fato novo – além disso, o engajamento ativo do ex-governador para pavimentar o trânsito de Cartaxo junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores, que parecia arredia ou contida na afetividade dos gestos para com ele. A luta, clara, é pela polarização com Cícero, para que a grande batalha se dê no segundo turno. Ainda não há confirmação clara sobre um confronto Cícero X Cartaxo na eleição 2024, mas a hipótese pode entrar no radar, o que vai conferir à disputa de João Pessoa uma repercussão inesperada no contexto das eleições que se processarão em todo o território nacional.