Nonato Guedes
A sempre discutida hipótese da candidatura ou não do governador João Azevêdo (PSB) a uma vaga ao Senado, que tanto preocupa seus aliados e adversários, é uma definição que está, taxativamente, congelada pelo chefe do Executivo Estadual. Juntamente com outras definições, relacionadas a alianças e composição de chapa majoritária dentro do seu bloco, a questão da senatória só será colocada em pauta após a decantação dos resultados das eleições municipais de 2024, quando o governador tiver em mãos um mapeamento concreto da realidade que vai emergir das urnas no que diz respeito à correlação de forças políticas na Paraíba. João Azevêdo tem consciência de que cada eleição é uma eleição, ou seja, tem suas peculiaridades e características próprias e, portanto, urge que os líderes disponham de uma radiografia segura sobre a direção para a qual apontou o eleitorado.
Esta lição ele pôde extrair na própria campanha à reeleição que empalmou em 2022, quando avançou para o segundo turno contra o então deputado federal Pedro Cunha Lima, candidato do PSDB e de um segmento oposicionista respeitável, de que fez parte o já senador eleito Efraim Filho, do União Brasil, um dissidente que saiu da base de João para construir seu próprio destino. A principal conclusão das eleições ao governo em 2022, além da diferença estreita entre o governador e o seu adversário principal, foi que o meridiano da política estadual mudou de eixo na medida em que a sucessão não foi decidida necessariamente pelos grandes colégios eleitorais como João Pessoa e Campina Grande, mas por pequenos municípios, que no passado costumava-se chamar de “bolsões eleitorais”. Foi em cima da leitura e análise fria dos números que o chefe do Executivo reeleito decretou o “municipalismo” como tônica principal do segundo mandato, sem prejuízo, é claro, dos mega-investimentos em centros urbanos expressivos do Estado.
É evidente que a exegese dos resultados de 2022 funcionou, também, como sinal de alerta para as oposições que, habitualmente, contam com os chamados votos de protesto ou votos anti-governo dos grandes centros. Uns e outros, governistas e oposicionistas, passaram a trabalhar dentro da perspectiva de alargar os horizontes e incorporar outros elementos de análise na estratégia política para a conquista de espaços na conjuntura paraibana. O governador João Azevêdo transmitiu a sua mensagem não apenas aos companheiros de legenda do PSB, que, a rigor, acabou contemplado principalmente com a chefia do Executivo, mas com outros partidos, como PP, PSD e Republicanos, que lograram vitórias espetaculares nas eleições proporcionais, à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa, passando pela vice-governança. Ainda agora, na disputa municipal, esses partidos da base de apoio governista lutam pela ampliação de espaços de poder, chegando a se confrontar em diferentes municípios, sem que João Azevêdo interfira para evitar a radicalização própria derivada das tensões ou dos conflitos paroquiais. Um caso emblemático dessa atmosfera se dá na cidade de Cajazeiras, no Alto Sertão, onde o governador tomou partido por um candidato, o deputado estadual Chico Mendes, do seu partido, e desagradou outro parlamentar, Júnior Araújo, que se aliou ao prefeito José Aldemir (PP) em torno da candidatura de Socorro Delfino.
Esta semana, Júnior Araújo queixou-se do peso de hostilidades que seu grupo teria sofrido e anunciou posição de independência no plenário da Assembleia Legislativa, votando as matérias oriundas do Executivo de acordo com o que recomenda a sua própria consciência, mediante avaliação dos benefícios ou não que possam trazer para a população. O gesto do parlamentar não intimidou o governo mas deu ânimo à bancada oposicionista, tanto assim que o deputado George Morais, do União Brasil, sinalizou que Júnior Araújo será bem acolhido naquelas hostes, a exemplo de outros parlamentares que supostamente também estariam insatisfeitos com o governo por causa do posicionamento adotado nas eleições municipais em algumas regiões. Não há preocupação maior do Palácio quanto a defecções até porque o ritmo de sessões do Legislativo, na fase eleitoral, foi substancialmente reduzido, dada a presença mais assídua de deputados nas suas bases. A alegação nos círculos oficiais é que o balanço de ganhos e perdas virá mesmo após o período eleitoral, quando se saberá se houve ou não reconfiguração profunda no cenário paraibano.
Ao ser provocado ultimamente em emissora de rádio, pela enésima vez, sobre se permanecerá no governo até o último dia do mandato ou se renunciará para efeito de desincompatibilização que lhe possibilite disputar uma vaga ao Senado, o governador João Azevêdo pontuou que a disputa de outros mandatos não é sangria desatada para ele e que, pessoalmente, não terá dificuldades em permanecer até o fim se avaliar que isto é necessário para execução e sequenciamento de projetos que estão agendados com rubrica de “prioridade”. Foi mais enfático ainda. Deixou claro que somente cogitaria a hipótese de disputar outro mandato se a sua base política estivesse efetivamente harmonizada em 2026. Esta é uma alternativa em que ninguém pode apostar – e por isso é que, na falta de uma bola de cristal, as definições vão sendo proteladas ou cozinhadas em banho-Maria até que o desideratum seja inevitável.