Nonato Guedes
As articulações de bastidores na classe política em Brasília continuam a todo vapor focando na sucessão do presidente reeleito da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), cuja eleição somente ocorrerá em fevereiro de 2025. As articulações envolvem alianças e estratégias levando em conta que é o futuro dos deputados que estará em jogo, já que o resultado vai influenciar em como eles estarão posicionados na campanha de 2026, conforme o UOL. O candidato preferido de Arthur Lira é Elmar Nascimento, do União Brasil da Bahia, e versões indicam que o “Plano B”, ou a segunda opção, seria o deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos. Sobre este, há um problema: Motta segue decidido a não se confrontar dentro do seu próprio partido com o presidente nacional, Marcos Pereira (SP), que tem lhe prestigiado em funções e missões importantes dentro do colegiado parlamentar. Hugo tem livre trânsito em diferentes bancadas, mas nesse caso específico não demonstra a mínima vocação para “dissidente”.
Marcos Pereira é apontado como quem tem potencial para unir os interesses de Lira e do presidente Lula e “equilibrar” as forças. Ele já fez acenos ao Palácio do Planalto, como entregar votos na tramitação de projetos e sinalizar que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, não deve concorrer em 2026, ao menos não pelo Republicanos. Mas Pereira é bispo da Igreja Universal e próximo a Edir Macedo, o que é um problema para parte da bancada evangélica. O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que apesar de não participar diretamente do pleito tem influência sobre os deputados bolsonaristas, é íntimo do pastor Silas Malafaia, dirigente da Assembleia de Deus e desafeto de Pereira. Um influente parlamentar contou que se Lira apoiar Pereira para a presidência corre o risco de perder o apoio da direita para o Senado por Alagoas em 2026. Assim como Elmar Nascimento, Hugo Motta é amigo pessoal de Lira. Foi o deputado mais jovem da história e fez carreira na Câmara: eleito em 2011 com 21 anos, aos 25 integrava a tropa de choque de Eduardo Cunha. Seria o segundo nome na preferência de Lira para a sucessão não fosse um entrave: a filiação de Motta ao Republicanos, dirigido por Marcos Pereira.
Desafetos de Pereira afirmam que seria possível eleger o deputado Hugo Motta se ele concorresse como candidato avulso para o cargo. O raciocínio é que o Centrão precisa de um consenso para não rachar e ele seria alternativa por ser do Republicanos e amigo de Arthur Lira. Seus amigos, no entanto, afirmam que ele jamais faria isso. Um deles diz que “seria mais fácil cortar meu próprio braço do que ver Hugo Motta passar a perna em Marcos Pereira”, enquanto outro compara a potencial traição com a disputa que houve recentemente no União Brasil e que virou um caso de polícia. O presidente da Câmara pode fazer a vida do presidente Lula mais fácil ou difícil porque controla a pauta de votações, incluindo o ritmo de discussão dos projetos, acrescenta a reportagem do UOL. Lira atua como espécie de “presidente do sindicato dos deputados”, cuja função central está em conseguir emendas parlamentares e liberá-las de acordo com os posicionamentos nas votações. Lira está no segundo reeleito, foi reeleito com votos de 464 dos 513 deputados, o que mostra a força de sua política interna. Seu sucessor precisaria estar comprometido com a manutenção desta dinâmica para se eleger, segundo se diz nas rodas políticas em Brasília.
Ao longo dos últimos anos, Arthur Lira conseguiu ampliar o controle da Câmara sobre as verbas públicas por meio das emendas parlamentares. Sua gestão instituiu o chamado orçamento secreto e o poder de barganha dos deputados cresceu consideravelmente com isso. O presidente da Câmara tem o poder de abrir impeachment contra o presidente da República. Em 2015, a então presidente Dilma Rousseff não se dava bem com Eduardo Cunha, o governo apoiou outro nome, perdeu, e Cunha foi o responsável por abrir o processo para afastá-la do cargo. No momento, os postulantes mais fortes da pré-disputa, como admite a reportagem do UOL, são Elmar Nascimento, candidato de Lira, Antonio Brito (PSD-BA), candidato do governo, e Marcos Pereira (Republicanos-SP), próximo a Lira e com boa relação com o governo. Elmar é o preferido de Arthur Lira, de quem é amigo pessoal. Considerado um braço-direito do presidente da Câmara, essa proximidade pode ser justamente o seu calcanhar de Aquiles porque sua eleição seria considerada uma vitória total de Lira. Além disso, Elmar é rival do PT na Bahia, Estado onde o partido do presidente Lula é muito forte.
A atuação de Elmar no caso do deputado Chiquinho Brazão foi prejudicial à sua candidatura. O aliado de Lira articulou para libertar o deputado acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco. Serviu para ganhar a simpatia dos bolsonaristas, mas a contrapartida foi a desconfiança da esquerda. Os adversários de Antonio Brito afirmam que seus aliados o fragilizam porque não estão no grupo que comanda as verbas da Casa. Ele é descrito como alinhado ao Planalto e a situação faria o governo ter forte influência na Câmara. Além disso, ele não seria um candidato que Lira abraçaria. Um grupo de deputados sustenta que nenhum dos candidatos está se destacando e que outros nomes devem aparecer até o fim do ano. A nova opção precisa ser alguém do Centrão, com interlocução com Lira, que agregue diferentes líderes e que, no papel de presidente do “sindicato dos deputados” continue a fazer valer os interesses dos parlamentares. As informações convergem: o deputado federal paraibano Hugo Motta se enquadra neste perfil, restando saber se terá cacife para ser ungido e alçado à presidência da Câmara Federal.