Nonato Guedes
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Paraíba, amanhã, para inaugurar obra do canal Acauã-Araçagi na cidade de Riachão do Poço, considerada uma grande iniciativa hídrica no Estado e marco na infraestrutura regional, flagra o Partido dos Trabalhadores (PT) em situação crítica na disputa de prefeituras municipais, principalmente em João Pessoa. O candidato petista a prefeito da Capital, deputado Luciano Cartaxo, que já foi prefeito duas vezes, apareceu na pesquisa Quaest/TV Cabo Branco com apenas 12% das intenções de voto, num longínquo segundo lugar diante do prefeito Cícero Lucena (PP), apoiado pelo governador João Azevêdo (PSB), que detém 53% das intenções. O processo de escolha de Cartaxo foi traumático e provocou divisão interna, de que foi exemplo a postura do presidente estadual, Jackson Macedo, de cruzar os braços em João Pessoa e debandar para cidades do interior, onde há candidaturas próprias e candidaturas aliançadas com o Partido dos Trabalhadores.
O lançamento do nome de Cartaxo, preterindo a aspiração da deputada estadual Cida Ramos, foi praticamente uma imposição de cúpula, atendendo a pressões do ex-governador Ricardo Coutinho, que tem linha direta com o presidente Lula e que costurou chapa puro-sangue, indicando a sua própria esposa, Amanda Rodrigues, para candidata a vice de Cartaxo. A imposição atropelou o Processo de Eleição Direta que vinha sendo organizado pelo diretório municipal com o endosso do comando estadual e implodiu a realização de prévias, que constavam no estatuto mas que foram canceladas por determinação expressa do coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral Nacional, senador Humberto Costa (PE). A deputada Cida Ramos queixou-se de perseguição e considerou-se vítima de violência política de gênero, tendo chegado a se mobilizar para reverter a interferência de cúpula, sem êxito. O resultado é que a militância, endeusada como o combustível maior do PT, está desmotivada e praticamente desengajada da campanha, enquanto outros expoentes da legenda não escondem preferência pela candidatura de Cícero, abençoada pelo governador lulista João Azevêdo.
O personalismo presidiu a tomada de decisões dentro do PT paraibano em relação à disputa eleitoral em João Pessoa, graças à afobação do ex-governador Ricardo Coutinho em voltar à cena em posição de liderança ou protagonismo, preparando-se para ocupar seus próprios espaços em 2026. Desde que deixou o governo do Estado e rompeu com o sucessor João Azevêdo, a quem apoiou em 2018, Coutinho enfrentou complicações desgastantes em meio à denúncia de envolvimento em escândalos da Operação Calvário, que trata de desvio de recursos nas áreas da Saúde e da Educação. Apesar de ser respeitado nos meios políticos pela sua capacidade estratégica de sobrevivência, Ricardo já inscreveu duas derrotas consecutivas no seu histórico recente – a primeira quando se candidatou a prefeito de João Pessoa em 2020 pelo PSB e a segunda quando concorreu ao Senado em 2022 pelo PT, compondo a chapa encabeçada pelo senador Veneziano Vital do Rêgo, que tinha como vice Maísa Cartaxo, esposa de Luciano Cartaxo. Embora não tenha nem reclame posição formal de comando no partido, a influência de Ricardo dentro do PT é avassaladora, operando nos bastidores e em articulação estreita com emissários do presidente Lula, a partir da presidente nacional petista Gleisi Hoffmann.
No que diz respeito à caminhada que Luciano Cartaxo empreende para tentar voltar à prefeitura de João Pessoa havia a expectativa de que ele largasse em posição mais vantajosa nas pesquisas, beneficiando-se do “recall” de duas gestões que empalmou e que foram avaliadas como “médias” por segmentos da população da Capital. O que se verificou, no primeiro levantamento divulgado por um instituto acreditado, foi que o “recall” de Cartaxo “flopou”, não exercendo papel relevante para incensá-lo na tentativa de retorno triunfal. De um modo geral, o PT enfrenta quadro adverso em várias capitais do Nordeste, região que tributou consagradora votação ao líder Luiz Inácio Lula da Silva no confronto com Jair Bolsonaro em 2022. O cenário desfavorável é amplificado para Capitais importantes de Estados de outras regiões, a partir de São Paulo, onde o PT teve que ceder a cabeça de chapa a Guilherme Boulos, do PSOL, e assiste à eclosão do “fenômeno Pablo Marçal”, uma variação microscópica do “fenômeno Bolsonaro”, cujo fundamento consiste em pregar a antipolítica para se valer da política e nela fazer carreira. A reviravolta em São Paulo tem sido acompanhada com interesse em todo o país e provoca efeitos colaterais inevitáveis na campanha fora do território bandeirante.
Na programação da visita do presidente Lula da Silva à Paraíba tem sido cogitada uma agenda do mandatário com o governador João Azevêdo, focada estritamente no campo administrativo, que se estenderia até João Pessoa, para a assinatura de protocolos de interesse em diferentes áreas do serviço público. Os líderes locais do PT estão articulados para incluir, em paralelo, uma agenda política do presidente da República com o “staff” da campanha de Cartaxo, dentro da tática de criar um fato novo, de impacto ou repercussão, capaz de alavancar a candidatura do deputado petista em João Pessoa. O governador João Azevêdo já declarou que entenderia sem problemas essa postura se ela viesse a acontecer, dada a peculiaridade da candidatura própria do PT. A dúvida é saber se, de fato, Lula terá potencial de liderança para transferir votos para Cartaxo numa eleição em que, na Paraíba, a campanha não se nacionalizou dentro da fórmula de polarização que é acirrada em muitos Estados e municípios brasileiros.