Nonato Guedes
Na definição de um líder político paraibano com trânsito em Brasília, há um ‘simbolismo’ marcante por trás da agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Paraíba que será deflagrada oficialmente logo mais: o reencontro caloroso do chefe da Nação com o povo de um Estado que lhe deu consagradoras votações na sua jornada para retornar ao Planalto. “É como se o presidente estivesse recolocando a Paraíba, de fato, no mapa federativo que habita no seu gabinete”, explica a fonte, lembrando que na única visita feita, depois de investido no terceiro mandato, Lula frustrou impressões e expectativas, quando se limitou a prestigiar a inauguração de um empreendimento da iniciativa privada, na região de Santa Luzia, com aporte de recursos do BNDES. O presidente estava contido no palanque oficial e não falou à Paraíba, o que inibiu cobranças por parte dos próprios parlamentares da sua base quanto a demandas prementes que o Estado carecia.
Não se quer dizer que o governo do petista tenha discriminado a Paraíba em reivindicações pontuais – pelo contrário, o próprio Lula escalou vários ministros e auxiliares do governo federal a virem ao Estado assinar convênios ou protocolos com o governador João Azevêdo, do PSB, que o apoiou como candidato contra Jair Bolsonaro (PL) desde o primeiro turno, mesmo tendo Lula manifestado apoio, na Paraíba, à candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB). Só no segundo turno é que o atual presidente da República manifestou preferência por João, que dava combate ao então deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), apoiado por Veneziano. Ressalte-se, também, que em inúmeras oportunidades o governador reeleito e o presidente da República cumpriram agendas conjuntas, em Brasília e em outros centros. Mas sempre foi intrigante o fato de que Lula veio várias vezes ao Nordeste, a Estados que fazem fronteira com a Paraíba, sem que cumprisse roteiro no solo tabajara. O governador João Azevêdo é que ia ao seu encontro, várias vezes em Natal, Recife, Fortaleza, sem qualquer dificuldade de interlocução com o presidente da República.
Chegou-se a explorar, na mídia e nos meios políticos, que a ausência de Lula da Paraíba devia-se a apelos ou ponderações que adversários políticos do governador fizeram para que não fosse tão ostensivo o prestígio a um governador aliado. Essa narrativa nunca foi confirmada e “claudicou” diante da constatação de que Lula dividiu espaços com governadores bolsonaristas ou adversários, a exemplo de Tarcísio de Freitas, em São Paulo, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, sobretudo em momentos de calamidade pública quando se tornava imperiosa a presença “in loco” do chefe do Governo. Lula sempre demonstrou, pessoalmente, um comportamento ético, republicano e institucional, consciente de que a Presidência da República está acima de interesses menores e, sobretudo, de divergências políticas paroquiais. O estilo político observado na trajetória de Lula, por outro lado, atestou a sua tolerância para conviver com o contrário, de forma civilizada e democrática. Seria impensável, aliás, enquadrar João Azevêdo como adversário, tendo sido ele praticamente o primeiro governador de Estado a anunciar apoio à candidatura de Lula, quando esta ainda era embrionária.
Quando da eclosão dos atos terroristas em Brasília no 8 de Janeiro, com ataques aos prédios que sediam os três Poderes, o governador paraibano solidarizou-se de pronto com o presidente da República e os representantes do Congresso Nacional, repudiando manifestações antidemocráticas e repelindo narrativas fantasiosas construídas pelos remanescentes do bolsonarismo para subverter a teoria de que, de fato, foi idealizado um golpe de Estado, que malogrou devido à reação imediata dos segmentos da sociedade. Em suas falas, o governador paraibano recordou a discriminação imputada pelo governo de Jair Bolsonaro aos interesses da Paraíba, bem como mencionou a hostilidade declarada do ex-presidente da República a governadores nordestinos. Com a ascensão de João Azevêdo à presidência do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Nordeste, o gestor socialista credenciou-se com mais autoridade na interlocução direta com o presidente e com o chamado Conselho da República para participar das discussões sobre temas nacionais de urgência ou de relevância indiscutível para a sociedade brasileira.
Partidariamente, os caminhos nunca convergem entre o governador João Azevêdo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diante da opção feita por João em permanecer no PSB, pelo qual se elegeu ao governo da Paraíba em 2018 com o apoio do então governador Ricardo Coutinho. Mesmo quando Ricardo pareceu dominar o PSB sem abrir espaço para o ex-aliado, João Azevêdo não migrou para o PT, tendo passado uma temporada no Cidadania, onde se organizou com seus liderados para retomar o controle do Partido Socialista. Coutinho foi quem fez o caminho de volta ao PT, onde exerce influência avassaladora nos domínios da realidade política paraibana. Ainda agora, na campanha a prefeito de João Pessoa, PT e PSB estão em lados opostos, já que o governador apoia a candidatura do atual prefeito Cícero Lucena, do PP, e o PT lançou chapa puro-sangue com a participação da esposa de Ricardo, Amanda Rodrigues, na vice de Luciano Cartaxo. O presidente Lula cumpre uma agenda eclética na sua permanência na Paraíba, mas oferece um exemplo de respeito democrático ao prestigiar o governador João Azevêdo na pauta administrativa, conciliando isto com a pauta política que trata com líderes do PT paraibano.