Nonato Guedes
Analistas políticos avaliam que a campanha do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição é a que apresenta maior volume de ações na temporada que se desenrola em João Pessoa, o que é reforçado pela influência de duas máquinas – a da administração estadual e a da própria gestão que o alcaide pilota, bem como pelo saldo de realizações que o candidato exibe ao eleitorado na sua propaganda. Pela pesquisa Quaest-TV Cabo Branco, o deputado estadual Luciano Cartaxo, do Partido dos Trabalhadores, é quem polariza com Cícero, ainda que numa situação de tríplice empate técnico no segundo lugar, já que divide preferências com o deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, e com o médico Marcelo Queiroga, do PL, ex-ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro. No caso de Cartaxo, há obstáculos visíveis que impedem um deslanche maior da campanha, a partir mesmo do desengajamento de líderes locais e de militantes petistas, combinado com a ausência de “recall” positivo das duas gestões que ele empalmou até recentemente. Enquanto Cícero figurou na pesquisa com 53% das intenções de voto, Cartaxo estacionou em 12%, uma diferença que desanimou o “staff” integrado à mobilização.
Havia a expectativa de que na sua vinda à Paraíba na semana passada o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprisse uma agenda de impacto com o candidato petista para impulsionar a sua caminhada, mas o chefe da Nação poupou-se de compromissos públicos ao lado dele e chegou a admitir que sua participação nas campanhas municipais será pouca, devido a compromissos internacionais e à prioridade que precisa conferir aos temas nacionais que desafiam o seu mandato. O presidente estava pressionado, também, por um cenário amplo ou eclético que se formou entre expoentes de partidos que compõem a sua base de apoio no Congresso e que possuem preferências distintas na eleição da Capital paraibana. O governador João Azevêdo (PSB) por exemplo, é o patrono da candidatura do prefeito Cícero Lucena, enquanto o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), não apoia sequer a candidatura petista, mas, sim, a postulação do deputado Ruy Carneiro, ex-tucano que nunca esteve alinhado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Essas peculiaridades da política local estavam na lógica do “script” da campanha eleitoral a prefeito este ano, não só em João Pessoa mas em inúmeras capitais e localidades pequenas e médias do país. Há lugares em que a disputa está nacionalizada, refletindo a polarização que se consolidou entre os apoiadores do presidente Lula e os seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas em outros lugares, como em João Pessoa, não é forte nem marcante essa situação de confronto. O próprio líder das pesquisas, Cícero Lucena, faz parte de um grupo, liderado pelo governador, que apoiou Lula desde que ele se lançou novamente candidato à Presidência da República em 2022. O candidato bolsonarista na Capital paraibana é o ex-ministro Marcelo Queiroga, que se empenha para trazer seu “guru” político ao palanque a fim de tentar operar a transferência de votos em seu favor. O deputado Luciano Cartaxo se identifica como integrante do “time de Lula”, mas, como se viu no roteiro de visita do mandatário, esse time ficou desfalcado até agora de sua estrela maior ou de seu líder consagrado.
Para tentar compensar lacunas que podem ter reflexo psicológico desfavorável junto a parcelas do eleitorado pessoense, o candidato do Partido dos Trabalhadores vale-se da aliança firmada com o ex-governador Ricardo Coutinho, também do PT, que indicou a esposa, Amanda Rodrigues, para candidata a vice. Ricardo, praticamente, é quem anuncia a candidatura de Luciano aos eleitores, mencionando fatores positivos das duas gestões que ele exerceu, até 2020, e revelando-se fiador de compromissos com um governo ainda mais proativo ou eficiente, na linha da identidade com a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De sua parte, o candidato petista investe no que havia prometido, ou seja, na comparação entre seus dois períodos administrativos e os três que constam do currículo de Cícero Lucena, dando à disputa um caráter pessoal, misturado com vagas referências à tática de combate ao bolsonarismo. Cartaxo ainda sofre desconfianças de alas do PT por não ser considerado “petista-raiz”, já que abandonou a legenda em pleno estouro do escândalo do mensalão, que provocou censura ética de eleitores ao petismo.
O problema de fundo, conforme os analistas políticos, foi a forma atabalhoada ou intempestiva que cercou a escolha de Cartaxo para candidato a prefeito pelo Partido dos Trabalhadores. Não houve prévia interna, nem debate de outras opções, como a candidatura da deputada Cida Ramos, que tentou se viabilizar e construiu, mesmo, uma sólida rede de apoios junto a tendências variadas do partido na Paraíba. Em desacordo com os princípios democráticos que o PT costuma agitar, o que houve foi uma imposição de cúpula, de cima para baixo, que excluiu as instâncias locais de deliberação como os diretórios municipal e estadual. A nova candidatura de Cartaxo a prefeito de João Pessoa nasceu sob o signo da divisão, da luta fratricida no âmbito da agremiação, parecendo mais um capricho pessoal do ex-governador Ricardo Coutinho, ávido por retomar espaços de poder na política paraibana, do que uma decisão coletiva ou colegiada. O resultado está sendo a dificuldade de Cartaxo em avançar, ainda que, teoricamente, seja ele a polarizar com o líder das pesquisas, Cícero Lucena.