Nonato Guedes
Chama a atenção, no Guia Eleitoral e em eventos da campanha para as eleições a prefeito de João Pessoa, a afinidade da dobradinha que representa o bolsonarismo na disputa, formada pelo médico Marcelo Queiroga(PL) a prefeito e pelo educador Sérgio Queiroz (Novo) a vice-prefeito. Queiroga, que foi ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro em plena pandemia de covid-19, pede uma oportunidade ao eleitorado pessoense para demonstrar sua competência administrativa e insinua, mesmo, que quer retribuir à população manifestações de apreço e de respeito que diz ter recebido ao longo de sua carreira. Politicamente, Queiroga é um estreante – concorre pela primeira vez a um cargo eletivo e chegou a ter seu nome cogitado pelo próprio Bolsonaro, quando presidente da República, para concorrer a postos majoritários pela Paraíba, como ocorreu com ex-ministros de outras Pastas que acabaram saindo vitoriosos em 2022.
Queiroz, por sua vez, foi Secretário de Modernização de Gestão na Era Bolsonaro e notabilizou-se na Paraíba pela sua condição de pastor evangélico, mentor da Fundação Cidade Viva, versada em programas de repercussão social, incluindo os de recuperação de pessoas dependentes de drogas no entorno da Capital. Na campanha de 2022, quando era filiado ao PRTB, ele candidatou-se a uma vaga de senador pela Paraíba e alcançou expressiva votação no território pessoense, surfando na suposta onda anti-política pregada por Bolsonaro em 2018. Debatedor versátil sobre os mais diferentes temas, Sérgio Queiroz preparou-se para ser candidato este ano a prefeito, mas foi convencido diretamente pelo próprio Bolsonaro a aceitar compor a chapa de Queiroga no papel de candidato a vice. Ele impressiona plateias com seus conceitos na linha do conservadorismo político e ideológico e da exaltação à família e aos valores cristãos. Nos bastidores locais, especula-se que o pastor, uma vez encerrada a campanha eleitoral deste ano, volte a concorrer a cargos majoritários em 2026, possivelmente, mais uma vez, pleiteando o Senado, aproveitando-se da visibilidade que está conquistando em 2024 no rádio e na televisão.
A dupla bolsonarista “toca de ouvido” nas falas ao eleitorado pessoense na campanha em curso. Eles recorrem à tática de se completarem nas abordagens de assuntos diferenciados. Marcelo Queiroga, até pela sua condição de médico cardiologista e pela possibilidade que teve de se informar sobre políticas públicas quando exerceu o ministério numa fase de calamidade prioriza a Saúde como foco da sua gestão, associada, porém, à Educação – tema sobre o qual o pastor Sérgio Queiroz discorre com mais desenvoltura e naturalidade. As propostas da chapa avançam, porém, por questões ligadas ao transporte público e à mobilidade urbana, sempre em tom inovador. Marcelo Queiroga, sempre que julga necessário, fala em ações do período de Bolsonaro, mas concentra o discurso, mesmo, na temática da Capital paraibana, tecendo críticas à administração de Cícero Lucena (PP), que, a seu ver, abriu lacunas que não foram equacionadas a despeito do tempo de mandato que o alcaide enfeixa à frente da municipalidade de João Pessoa (este é o terceiro mandato de Cícero, que voltou à prefeitura mais de uma década depois de exercê-la). As críticas de Queiroga são feitas em estilo elegante, sem descer ao ataque pessoal, enquanto Sérgio Queiroz dosa suas falas com pitadas de ironia e insinuações sobre a necessidade de renovação efetiva nos quadros de poder (referência às gestões de Cícero e de Luciano Cartaxo, do PT).
Na primeira pesquisa Quaest-TV Cabo Branco, o ex-ministro de Bolsonaro despontou com 7% – ainda assim, foi considerado empatado tecnicamente com Ruy Carneiro (Podemos), que obteve 11% e com Luciano Cartaxo (PT), que alcançou 12%, dentro da margem de erro de dois pontos, para mais ou para menos, de acordo com a metodologia empregada pelo instituto que faz pesquisas em diferentes Capitais brasileiras. Apesar dos números da Quaest, o ex-ministro Queiroga assegurou dispor de outros levantamentos em que sua candidatura aparece com números mais relevantes e tem insistido no argumento de que estará no segundo turno. As críticas de Queiroga se estendem, por tabela, a ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à própria administração do governador João Azevêdo (PSB), aliado de Lula. Mas a sua preocupação é a de mostrar ao eleitorado que não é um estranho à realidade de João Pessoa e que tem conhecimento e credenciais para administrar a Capital paraibana rumo a passos mais ousados, coerentes com o próprio crescimento da sua população.
Até ser alçado, com o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro, à condição de candidato do Partido Liberal a prefeito de João Pessoa, Marcelo Queiroga teve que empreender articulações políticas eficientes, de bastidores, que culminaram com a saída, do páreo, do comunicador Nilvan Ferreira, a sensação da campanha de 2020 quando passou para o segundo turno concorrendo pelo MDB. Nilvan teve que se desfiliar dos quadros do PL e procurou abrigo nos quadros do Republicanos, migrando de João Pessoa para a cidade de Santa Rita, na região metropolitana, onde dá combate a um candidato lançado pelo grupo do prefeito Emerson Panta, do PP. Em Santa Rita, Nilvan logrou ter o apoio do governador João Azevêdo – aliança que ocasionou mudança radical no seu figurino, praticamente repaginando o perfil com que o comunicador se apresentou ao eleitorado, primeiro na Capital, em 2020, em seguida como candidato ao governo em 2022. A respeito de suposta emulação entre Queiroga e Queiroz, alimentada por fogueira de vaidades, o fato concreto é que ela não subsiste e que a dupla acertou mesmo o tom, profissionalizando uma campanha que pode ou não surpreender, mas que também pode projetar a ambos para as eleições estaduais de 2026.