Nonato Guedes
O deputado paraibano Hugo Motta, do Republicanos, caiu em campo para assegurar apoios à sua pré-candidatura a presidente da Câmara Federal, que ganhou fôlego após a desistência do presidente nacional do seu partido, Marcos Pereira ((SP) e o apoio por ele manifestado. Motta cumpriu agendas no mesmo dia com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que demonstraram receptividade à sua pretensão, embora resistências continuassem ocorrendo por parte de expoentes do União Brasil e do PSD de Gilberto Kassab. A visita a Lula foi orquestrada por Marcos Pereira e pelo ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, também do Republicanos. Durante a conversa, de acordo com interlocutores do deputado, o presidente da República comentou que Motta é jovem. O parlamentar paraibano respondeu que é jovem, sim, mas tem bastante experiência no Parlamento.
Depois, Lula afirmou que soube que Motta é amigo do deputado cassado Eduardo Cunha, que presidiu a Câmara em 2015 e parte do ano de 2016, tendo dado partida ao processo de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff, afilhada política de Lula. Motta respondeu ao presidente que, sim, não abandona os amigos. Afirmou que foi acolhido por Cunha quando chegou a Brasília e que considera isso importante. Disse também que aconselhou o então presidente da Câmara a não dar início ao processo de impeachment contra Dilma, por avaliar que isto acabaria fazendo mal à carreira de Cunha. Por fim, Hugo Motta salientou para Lula que vem defendendo o governo petista nas reuniões e líderes no Congresso Nacional. Ele saiu da reunião com um convite feito por Lula: “Vamos tomar um vinho na semana que vem”. Antes de ir a Lula, o deputado conversou com o principal rival político do presidente, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele foi levado a Bolsonaro pelo filho do ex-mandatário, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI). O apoio de aliados de Lula e de Bolsonaro é considerado fundamental para quem quiser vencer a disputa da Câmara.
Conforme relatos, o encontro de Motta com Bolsonaro teve um tom amistoso. O ex-presidente, inclusive, contou a jornalistas ter dado ao deputado a medalha dos três “is”, “imbrochável, imorrível e incomível”. A entrega da medalha foi vista pelos aliados de Motta como uma sinalização de que Bolsonaro não teria resistência à candidatura do parlamentar paraibano, como tinha em relação ao deputado Marcos Pereira. Bolsonaro costuma entregar a medalha para personalidades com quem tem boa relação e chegou a dar o objeto a outros candidatos à presidência da Câmara, como o deputado Antônio Brito, do PSD da Bahia. A Hugo Motta, Bolsonaro afirmou que não tem restrições ao seu nome para comandar a Câmara Federal, porém, reforçou que apoiará o candidato que o atual presidente, Arthur Lira (PP-AL), escolher para a disputa. Enquanto isso, o deputado Elmar Nascimento se reuniu com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, em São Paulo, para discutir uma estratégia de resistência à entrada de Hugo Motta na disputa pelo comando da Câmara. Os dois combinaram que Elmar e Antônio Brito, este apoiado por Kassab, continuariam no páreo a despeito da tentativa de outros partidos e, principalmente, de Arthur Lira, de tentar encontrar um nome consensual.
O movimento constrange Lira, que não tem como anunciar publicamente seu candidato, como estava cogitando. O atual dirigente da Câmara prometera divulgar até agosto quem anunciaria, mas não conseguiu chegar a uma definição. O nome mais cogitado era o de Elmar, todavia, Lira identificou resistências, em especial por parte do governo. Ele é adversário do PT na Bahia, Estado já governado pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa. Lula também poderá ter dificuldades. Se quiser apoiar Hugo Motta, terá de fazê-lo de forma explícita. O presidente, porém, havia dito que não iria interferir na disputa pelo comando da Câmara. Por enquanto, a ideia é que Elmar e Brito registrem suas candidaturas e disputem o primeiro e segundo turnos. Esse cenário pode ser desafiador para Motta, já que o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro havia indicado que não apoiaria Marcos Pereira. A rejeição ao presidente do Republicanos pode, eventualmente, ser transferida para o líder do partido. Atualmente, o PL é a maior bancada da Câmara, congregando pelo menos 92 dos 513 deputados federais.
Segundo reportagem do “Poder360”, as negociações em torno da eleição legislativa se intensificaram nos últimos dois dias. Na terça-feira, Marcos Pereira foi até Lula para comunicá-lo da desistência na disputa e que Motta o substituiria. A decisão alçou o deputado ao posto de novo favorito para ficar com a cadeira de Arthur Lira. A decisão se deu depois de Kassab não ter cedido ao apelo de Pereira para retirar a candidatura de Brito e apoiar o seu nome. O movimento foi considerado ousado e embolou o jogo. Diante do cenário, Elmar procurou Bolsonaro e Lira na quarta-feira. O presidente da Câmara voltou a conversar com Lula para analisar o cenário, mas não foi possível chegar a um entendimento. O lançamento da candidatura do paraibano Hugo Motta constitui a grande novidade no processo, que pode acabar forçando um consenso diante da variedade de interesses tanto no agrupamento governista como no bloco de oposição na Câmara.