Nonato Guedes
As recentes articulações de partidos do Centrão para definir os candidatos à presidência da Câmara dos Deputados explicitaram o envolvimento direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no processo sucessório de Arthur Lira (PP-AL. Uma reportagem do “Poder360” cita que o líder petista disse na quinta-feira não ter candidato ao comando da instituição e em outras duas ocasiões recentes, em reuniões com ministros e aliados, disse não ter preferência no processo. Acontece, porém, que todos os principais envolvidos nas negociações passaram a submeter suas decisões ao mandatário, o que levou o presidente Lula a tomar a frente do “parto” e falar com postulantes e líderes de partidos interessados na sucessão de Lira, a exemplo do Republicanos, que retirou a candidatura do deputado Marcos Pereira (SP) e passou a apostar no nome do deputado federal Hugo Motta, da Paraíba.
Na opinião de analistas, o presidente da República optou por movimentos erráticos numa primeira fase por estratégia, ou seja, dentro da técnica de não querer o ônus do resultado da eleição legislativa. Mas teria se convencido de que não poderá se eximir de responsabilidade no pleito de fevereiro de 2025 por quem quer que seja eleito. Na reunião com ministros, em oito de agosto, Luiz Inácio argumentou que era preciso ter cautela para que a eleição na Câmara “não tenha nenhuma incidência no funcionamento do governo”. Semanas depois, em 26 de agosto, coube ao líder do governo, José Guimarães (PT-CE) mandar o recado de que o presidente não iria “opinar sobre um ou outro candidato”. O deputado ressaltou, após uma reunião de Lula com líderes da bancada aliada na Casa: “Essa foi uma novidade importante que ele colocou, a despeito das narrativas e versões que são criadas e constituídas sobre esse ou aquele candidato”. Na quinta-feira, numa entrevista à rádio Vitoriosa, de Uberlândia, o chefe do Executivo repetiu o mantra de que não tem candidato à presidência da Câmara.
– A presidência da Câmara – expressou Lula – é de responsabilidade dos partidos políticos e dos deputados federais. Acrescentou que lhe cabe a responsabilidade de tratar bem qualquer que seja o dirigente do Legislativo, porque os presidentes da Câmara e do Senado Federal não precisam do presidente da República. E concluiu: “É o presidente da República que precisa deles”. Arthur Lira, por outro lado, desde o início do ano, dizia a aliados que não queria repetir o caso do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que era do artigo DEM (Democratas) e atualmente está no PSDB. Tido como um dos chefes mais poderosos da Casa, Rodrigo Maia perdeu influência em seu último ano no cargo e não conseguiu eleger o seu sucessor em 2021. Apoiou o deputado Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB, que perdeu a disputa para Arthur Lira. Por isso, o deputado alagoano dizia que iria comandar seu processo sucessório, mas entendeu que, para manter sua influência política, precisava se aliar ao presidente Luiz Inácio Lula, cujo governo não tem maioria no Parlamento mas cujo titular tem reconhecido poder de influência junto a deputados de diferentes agremiações, sobretudo as que proclamam estar na base oficial.
O presidente Lula tem mantido conversas com Arthur Lira sobre a eleição na Casa. Já se reuniram, pelo menos, três vezes para tratar do assunto, sempre fora da agenda oficial, sem contar os inúmeros telefonemas, registra o “Poder360”. Ambos concordaram que deveriam chegar a um nome de consenso. O presidente da Câmara tinha como favorito o deputado Elmar Nascimento, do União Brasil da Bahia. Havia, porém, resistência ao nome do congressista dentro do PT da Bahia, Estado que foi governado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. No início da semana, o governo enxergou a possibilidade de aglutinar apoio em torno de Marcos Pereira, presidente do Republicanos. Seu nome era tido como mais palatável e confiável. Lula, então, entrou em campo para tentar viabilizar o apoio majoritário ao congressista. Na manhã de terça-feira se reuniu com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, para pedir que retirasse a candidatura do líder do partido, Antonio Brito (BA), em prol de uma convergência em torno de Pereira. Ouviu um não e, diante da negativa do PSD e de dificuldades para ter apoio do PL, maior bancada da Câmara, com 92 deputados dos 513, Pereira foi diretamente a Lula na tarde da terça-feira para comunicá-lo de sua desistência. Indicou em seu lugar o deputado Hugo Motta (PB), líder do seu partido na Câmara e nome mais aceito tanto pelo PT quanto pela oposição. Motta passou, então, a ser o favorito na disputa, com anuência de Lira.
No dia seguinte, na quarta-feira, Pereira levou Motta a Lula para que o presidente o conhecesse melhor e pudesse dirimir alguma dúvida, já que o parlamentar votou favoravelmente ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e é próximo ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (Republicanos-RJ), responsável pela abertura do processo contra a petista. Hugo Motta declarou ao presidente Lula que chegou a aconselhar Eduardo Cunha a não prosseguir no processo de impeachment de Dilma Rousseff. No início da noite de quarta-feira, o presidente se reuniu com Lira pela terceira vez para discutir a mudança no cenário. Antes, o presidente havia telefonado para o deputado para celebrar o resultado da operação, que considerou favorável. Ainda há ensaios de resistência contra uma candidatura de Hugo Motta, mas o parlamentar paraibano, segundo todas as informações da mídia sulista, é quem tem mais cacife para se manter no páreo e ser ungido, caso recorra à habilidade política que até aqui tem demonstrado.