Nonato Guedes
O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), revelou à imprensa sulista que tem boa relação com o deputado paraibano Hugo Motta, líder do Republicanos, mas nega que ele seja seu pupilo. “Toda vez que querem colocar algum impeditivo para alguém cotado para um cargo citam ligação comigo”, explicou o ex-deputado, que presidiu a Casa em 2015 e 2016, está atualmente filiado ao Republicanos e ganhou destaque por liderar uma “tropa de choque” dentro do Parlamento, na qual Motta era incluído, e por dar partida ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), que acabou se concretizando. Na época, Eduardo Cunha era filiado ao MDB, que ascendeu à titularidade da Presidência da República com o impeachment mediante a posse do vice-presidente Michel Temer, que conspirou ativamente nos bastidores para esse desideratum.
Hugo Motta é tratado como “o favorito” para se eleger presidente da Câmara em fevereiro de 2025, depois que o presidente do seu partido, deputado Marcos Pereira (SP), oficializou desistência em concorrer, admitindo não ter conseguido apoios suficientes em outras bancadas com assento no Legislativo. Eduardo Cunha comentou que grande parte da Câmara tem relação com ele. E exemplifica: “Por esse critério, o Arthur Lira não poderia ser presidente, porque fomos parceiros durante muito tempo na Câmara”. Segundo Cunha, Hugo Motta chegou a ser expoente de um grupo adversário seu dentro da bancada do MDB, seu partido quando ele era deputado. “Quando me elegei líder da bancada em 2013, ele votou no Sandro Mabel, que concorria contra mim”, declarou. Depois, admite, ambos se aproximaram. “Mas dizer que ele é meu pupilo é um absurdo. O que houve foi uma relação política porque ele sempre foi conciliador e trabalhador”, emendou. Como Cunha caiu em desgraça após sua passagem pela Câmara dos Deputados, a ligação dele com Motta vem sendo usada por figuras ligadas a partidos de esquerda, que resistem a apoiá-lo para presidente da Câmara.
Uma reportagem do jornal “O Globo” dá conta de que Hugo Motta já era visto como um candidato em potencial à presidência da Câmara, em virtude da boa relação com deputados de diferentes partidos, mas entrou para valer na disputa após o presidente nacional do Republicanos, deputado Marcos Pereira, desistir das empreitada na tentativa de construir uma candidatura de consenso. A manobra de Pereira acabou atingindo as pretensões de Elmar Nascimento (União-BA), que segue na disputa, mas com caminho mais estreito. O líder do União é visto na Casa como alguém com mais dificuldade de atrair apoios, pois uma parcela de parlamentares o considera pouco acessível. Além disso, ele não teria, também, a simpatia irrestrita da base governista, já que teve histórico de oposição à esquerda. Hugo Motta, por sua vez, desponta como um nome capaz de agradar às diversas correntes do Congresso Nacional e até mesmo o governo federal, apesar do seu histórico de atuação no Parlamento. Em 2016, por exemplo, votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. À época, ele era carimbado pela mídia como integrante da “tropa de choque” de Cunha, desafeto dos petistas. Uma assessora de Cunha foi a real autora de um requerimento em que Motta pedia informações ao então ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, como mostrou “O Globo”.
Motta também não esteve na sessão em que Eduardo Cunha foi cassado como presidente da Câmara. A ausência, na ocasião, foi uma estratégia adotada por deputados que não desejavam contribuir com o quórum da sessão e, ao mesmo tempo, evitar críticas da opinião pública por votar a favor do deputado, que estava francamente desgastado. Em 2016, quando ambos estavam no MDB, Motta foi o nome de Cunha na disputa pela liderança do partido, que teve Leonardo Picciani como vencedor na ocasião. A amizade de Motta com Eduardo Cunha também se estendeu para a filha do ex-presidente da Câmara. Antes de ser deputada federal, Dani Cunha (União Brasil-RJ), chegou a trabalhar como assessora de marketing de Motta. Ela também frequentou festas de São João em Patos, na Paraíba, organizadas pelo deputado e por seus familiares, que têm base política na Rainha das Espinharas. Após a saída de Dilma Rousseff, Motta aderiu ao governo de Michel Temer, votando contra o pedido de abertura de investigação que atingia o emedebista e a favor de pautas caras à gestão, como a PEC do Teto de Gastos e a reforma trabalhista de 2017, ambas criticadas por petistas até hoje. Em 2015, presidente da CPI da Petrobras, Motta criticou no documento final o trabalho da força-tarefa da Operação Lava Jato e o excesso de depoimentos em modo de delação premiada. O alvo da crítica era o então juiz Sérgio Moro.
A CPI da Petrobras foi instaurada para investigar supostos atos ilegais e irregulares da empresa, como superfaturamentos. O relatório final foi criticado por não trazer novos elementos para a investigação. O ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi o único político indiciado. Com a chegada de Bolsonaro à Presidência da República, Motta mais uma vez adotou uma postura contrária à agenda petista, segundo “O Globo”. Seu nome consta na lista de parlamentares que votaram a favor do projeto que abre caminho para a privatização dos Correios, além de ter presidido a Comissão para a Privatização da Eletrobras. No governo Lula, se declarou “independente” e criticou a inelegibilidade de Bolsonaro decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Além da proximidade com Cunha e Lira, Motta também é aliado do presidente do PP, senador Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro. Quando saiu do MDB, em 2018, o parlamentar chegou a negociar a filiação ao PP, mas preferiu ir para o Republicanos para ter o controle do diretório no Estado. Se tivesse entrado no PP, o parlamentar teria que disputar influência com o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).