Nonato Guedes
A decisão do Tribunal Regional Eleitoral de barrar a candidatura do deputado estadual Chico Mendes (PSB) a prefeito de Cajazeiras, acatando recurso apresentado pela chapa adversária e pelo Ministério Público Eleitoral, constitui mais um ingrediente na agitada campanha eleitoral que é travada na terra do Padre Rolim desde o início da temporada 2024 envolvendo alguns antigos aliados e forças políticas que estão na base do governador João Azevêdo. A conjuntura torna-se imprevisível diante da velocidade dos prazos legais para apelação a instâncias superiores como o TSE e o próprio Supremo Tribunal Federal, o que cria uma zona de sombra nas expectativas do próprio eleitorado de uma das cidades mais importantes do interior paraibano. Em princípio, a disposição do parlamentar é a de recorrer, esgotando os canais de que dispõe, mas ele tem a opção de substituir o seu nome até o dia 16 próximo, sob pena de disputar o pleito na condição de “sub-judice”.
Líder do governo na Assembleia Legislativa, Chico Mendes é questionado por já ter no currículo dois mandatos consecutivos de prefeito, na cidade de São José de Piranhas, não podendo disputar um terceiro mandato mesmo com a eleição sendo processada em outro domicílio eleitoral, conforme o entendimento expendido por unanimidade pelo colegiado do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba. No âmbito do Tribunal Superior Eleitoral já prevalece a mesma interpretação, conforme parecer firmado em consulta que foi feita à Corte. Essa situação era do conhecimento do deputado-candidato e dos seus apoiadores, mas há pressões internas sinalizando para a busca do contraditório à impugnação pretendida – ora como tática para ganhar tempo, ora porque há convicção sólida de alguns aliados do postulante de que “o bom Direito” está do seu lado. Mendes enfrenta no páreo a ex-secretária de Educação Socorro (Corrinha) Delfino, do PP, e a disputa vinha se mantendo equilibrada, em meio a espetáculos de baixaria política de parte à parte que comprometeram a imagem de “berço da Cultura” no Estado, ostentada por Cajazeiras.
O desfecho da campanha em Cajazeiras é acompanhado com interesse por lideranças de diferentes partidos dado o próprio engajamento do governador João Azevêdo, tomando partido por uma das candidaturas – a de Chico Mendes. Socorro Delfino é apoiada pelo prefeito José Aldemir, pelo deputado Júnior Araújo (PSB) e pela deputada Paula Francinete, do PP. Júnior Araújo tenta fazer o papel de vítima no processo, por ter sofrido retaliação do governo do Estado em relação à ocupação de cargos de confiança por aliados seus na estrutura administrativa em Cajazeiras, mas ele é o dissidente, já que continua filiado ao PSB, que tem oficialmente a candidatura de Mendes, ainda que sub-judice. A deputada Doutora Paula já avisou que, não obstante o apoio à candidatura de Socorro Delfino, não está rompida com o governo nem pretende votar contra matérias do Executivo na Assembleia Legislativa. Ela tece elogios abertamente ao governador João Azevêdo, por obras e serviços que tem carreado para o município e chega a compará-lo ao “Mestre de Obras”, título que foi conferido ao falecido ex-governador José Maranhão (MDB) pelo seu legado à frente do Palácio da Redenção.
Em tese, a campanha eleitoral em Cajazeiras reproduz o cenário que é observado em outros municípios em diferentes regiões do Estado, quando partidários do esquema do governador João Azevêdo se enfrentam a céu aberto na caça aos votos. Essa situação levou o governador a decidir que não se absteria de tomar posição em prol de candidaturas a prefeito, mesmo contrariando interesses de outra facção que também é considerada da base governista. Isto tem se reproduzido em inúmeras localidades, agravando sensivelmente a atmosfera de entrechoque entre as correntes locais que lutam pela permanência ou pela conquista do poder – e as pressões em torno do governante são constantes, mas não têm tido, até agora, o condão de demovê-lo de permanecer firme nas opções assumidas. Ele tem deixado claro, perante a opinião pública, que o confronto entre aliados da sua base era inevitável, ou seja, estava na lógica do processo municipal, onde os interesses nem sempre convergem e há, mesmo, casos de rivalidade acirrada. “Isto é da natureza do processo, o que não me impede de ter lado nessas regiões”, tem enfatizado o chefe do Executivo, sem passar recibo de intimidação.
O processo eleitoral em Cajazeiras tem sofrido reviravoltas desde o nascedouro do enredo para a disputa deste ano. O grupo do prefeito José Aldemir, inicialmente, apostou fichas na candidatura do empresário Alysson Lira, conhecido popularmente na cidade como “Neguinho do Modrian”, mas este surpreendeu a todos resignando à pretensão depois de consultar familiares e traindo um certo desencanto com a falta de firmeza de apoios que lhe teriam sido prometidos. Na sequência, deu-se a reaproximação entre Júnior Araújo e José Aldemir, estimulada pelo lançamento do deputado Chico Mendes como candidato com o apoio do governador João Azevêdo. A partir daí, o processo radicalizou-se, e os debates promovidos em Cajazeiras atestam esse grau de acirramento, com acusações que já motivaram denúncias ou processos em esferas da Justiça. Agora, cria-se o grande suspense sobre a manutenção ou não da candidatura de Chico Mendes, bem como sobre o “Plano B” que pode vir a ser levado a efeito caso haja o consenso de que não vale a pena pagar para ver diante de decisões que têm cheiro de jurisprudência formada.